Londres – O amistoso deste sábado entre o Brasil e a Inglaterra, no estádio de Wembley, foi escolhido para a estreia das novas camisas da seleção inglesa criadas pela Nike, que desde o início da semana despertaram críticas até das mais altas lideranças políticas do país.
As camisas exibem na parte de trás da gola uma Cruz de São Jorge, símbolo da bandeira nacional da Inglaterra, com cores diferentes do vermelho original. No que a patrocinadora chamou de “atualização lúdica”, a cruz aparece em uma combinação de roxo, azul, preto e vermelho, associada por alguns à bandeira LGBTQ.
O primeiro-ministro, Rishi Sunak, disse que “não devemos mexer com nossas bandeiras nacionais porque são uma fonte de orgulho, de identidade, de quem somos, e são perfeitas como são”, enquanto o líder da oposição, Keir Starmer, disse não ter entendido o motivo da ideia e pediu que a Nike voltasse atrás.
Técnico da seleção inglesa também não gostou das camisas
Uma volta atrás, como pede Starmer e quase 40 mil pessoas que assinaram uma petição online, não seria decisão apenas da Nike, e sim da Football Association (FA), a federação inglesa de futebol, que aprovou o novo uniforme.
O presidente da FA é o príncipe William, que tem uma boa justificativa para não se envolver na polêmica, por estar concentrado nos problemas de saúde de sua mulher, Kate Middleton. O Palácio de Kensington disse que ele não iria comentar.
A descrição da Nike, reproduzida no site oficial da seleção, diz: “O kit Inglaterra 2024 revoluciona a história com uma versão moderna de um clássico”, referindo-se aos detalhes e à bandeira nacional recolorida.
A segunda camisa, na cor roxa, é apresentada como “seguindo a linha entre o padrão estabelecido e o não-convencional”, com o roxo resultante da fusão do azul e do vermelho tradicionais adotado “para homenagear a história e celebrar o futuro do time”.
O técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, comandante da seleção inglesa no amistoso contra o Brasil, está entre os que discordam da novidade.
Em entrevista coletiva na sexta-feira, ele foi perguntado sobre a camisa polêmica. Para o técnico, o brasão dos Três Leões é a parte mais importante da camisa da seleção nacional, e não a “visão artística” da Cruz de São Jorge.
“Na minha cabeça, se não é uma cruz vermelha sobre fundo branco, não é a Cruz de São Jorge”, disse ele.
Nike e FA manterão novas camisas da seleção
Na sexta-feira, cinco dias após a apresentação do novo uniforme, a Nike e a FA finalmente se manifestaram por meio de comunicados à imprensa.
A federação esportiva disse que não iria mudar as camisas, criadas com “elementos de design que foram concebidos como uma homenagem à seleção vencedora da Copa do Mundo de 1966”.
A FA salientou que não é a primeira vez que designs inspirados na Cruz de São Jorge em diferentes cores são usados em camisas da Inglaterra”, e completou:
“Estamos muito orgulhosos da Cruz de São Jorge vermelha e branca – a bandeira da Inglaterra. Entendemos o que isso significa para nossos torcedores e como ela une e inspira, e isso será exibido com destaque em Wembley – como sempre é – quando a Inglaterra enfrentar o Brasil.”
A Nike afirmou que não queria ofender o público:
“Somos um parceiro orgulhoso da FA desde 2012, entendemos o significado e importância da Cruz de São Jorge e nunca foi nossa intenção ofender, dado o que ela significa para os torcedores ingleses.”
Camisas venderam bem no site da Nike
Mas de quem foi a ideia? Segundo o jornal Daily Mail, as novas camisas foram aprovadas por Navin Singh, ex-diretor comercial da FA, que não está mais no cargo e trabalha atualmente no Six Nations Rugby, em meio a informações desencontradas sobre quem mais teria validado o novo desenho além dele.
Polêmicas à parte, comercialmente a ideia não foi ruim.
Apesar de ameaças de boicote e da petição online contra a nova camisa da seleção inglesa, as vendas foram altas nos primeiros dias – seja porque teve gente gostando da novidade, ou para garantir um item de coleção caso as peças fossem retiradas de venda.
As duas versões masculinas principais aparecem esgotadas no site. E o preço não é baixo: 125 libras (R$ 782,00), valor que também foi criticado.
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