Londres – Depois de passar 10 dias detida por “desobediência a ordens da polícia”, a jornalista da Rússia Antonina Favorskaya foi mantida presa no dia marcado para sua libertação, enfrentando agora acusação de participar de uma comunidade classificada como extremista pela Rússia, a fundação anticorrupção de Alexei Navalny (FBK), pela qual ficará pelo menos mais dois meses na cadeia enquanto o caso é investigado. 

Favorskaya trabalha para o SotaVision, um canal de notícias de oposição ao governo de Vladimir Putin decretado agente estrangeiro, e que hoje é editado a partir de Riga, na Letônia. 

Ela foi a última a fazer imagens do líder de oposição, durante audiência realizada um dia antes de sua morte em uma prisão no Ártico, que de acordo com a acusação, teriam sido publicadas no site e nas redes sociais da FBK. A detenção preventiva tinha acontecido após filmagens do túmulo do político, onde ela deixou flores, no dia 17 de março. 

Jornalista cobriu caso Navalny desde o início 

Nesta sexta-feira (29) um tribunal de Moscou determinou, em uma audiência a portas fechadas, que Favorskaya ficasse detida até 28 de maio, enquanto se aguarda a investigação sobre as acusações.

De acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas, ela disse no tribunal que acreditava ter sido processada por escrever sobre Navalny, especificamente por uma reportagem de 6 de março intitulada “Como Alexei Navalny foi torturado pelo tribunal e pelo Serviço Penitenciário Federal”.

Antonina Favorskaya cobriu o caso do opositor de Vladimir Putin desde que ele foi preso, em 2021, depois de voltar da Alemanha recuperado de um envenenamento, e acompanhou quase todas as audiências. 

A últimas imagens mostram Navalny em bom estado de saúde. A morte, no dia seguinte, teria sido por causas naturais, segundo as autoridades russas. 

Alexei Navalny - Reprodução vídeo SotaVision

A segunda detenção da jornalista aconteceu na noite de 27 de março na saída do centro de detenção especial de Sakharovo, onde havia cumprido os dez dias por desobediência, sem chegar a deixar a custódia policial. 

Segundo a imprensa independente russa, após a prisão a casa de Favorskaya foi revistada duas vezes, e pelo menos quatro outros jornalistas que acompanhavam o caso foram detidos, com um deles agredido.

A ONG de direitos humanos OVD-Info informou que o Comitê de Investigação acusou Antonina Favorskaya de participação em uma comunidade extremista sob o Artigo 282.1 do Código Penal da Federação Russa.

A FBK, fundada por Navalny, foi rotulada como “entidade indesejável” e “agente estrangeiro”, permitindo criminalizar  todos os que de alguma forma se envolvem com ela. 

No entanto, a FBK nega que vídeos da jornalista tenham sido publicados no site. Em uma postagem no Twitter / X, Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, apontou a falsidade da acusação, e afirmou que ela está sendo punida por sua atividade de jornalista. 

A organização Repórteres Sem Fronteiras cobrou a libertação imediata de Favorskaya e condenou a “intimidação inaceitável” das autoridades russas contra jornalistas.