Londres – O Los Angeles Times escolheu uma mulher de origem oriental, Terry Tang, de 65 anos, como sua nova editora-executiva, em substituição a Kevin Merida. A contratação dele, em 2021, havia sido saudada como um movimento importante em prol da inclusão de negros no comando das redações, na esteira do Black Lives Matter.
Nascida em Taiwan, ela é a primeira mulher a liderar a redação do jornal em 142 anos. Entrou no LA Times em 2019 como editora de opinião, e vinha atuando como editora-executiva interina desde a saída de seu antecessor.
Merida deixou o jornal em janeiro, em meio a uma crise financeira e na sequência de demissões em massa. Os donos do LA Times, Patrick e Michele Soon-Shiong, disseram em nota que a opção por Tang deveu-se “ao seu entendimento de que a missão do jornal é ser um pilar da democracia e desempenhar um papel vital para a cidade e para o mundo , ao chamar a atenção para as questões que mais importam, especialmente para aqueles cujas vozes muitas vezes não são ouvidas.”
Nova editora-executiva assume Los Angeles Times em crise financeira
Empresário de biotecnologia sul-africano, Patrick Soon-Shiong comprou o jornal em 2018. No comunicado em que a nova gestão da redação foi anunciada, os donos fizeram questão de informar que a decisão de substituir Merida foi deles, em um momento em que o jornal amargava um prejuízo de US$ 40 milhões registrado em 2023.
“Tomamos a decisão em dezembro de fazer mudanças na liderança para revitalizar o LA Times.”
A opção por uma mulher pode ajudar a reduzir a frustração com a saída de Kevin Merida, ainda que o jornal enfrente críticas pela baixa presença de jornalistas hispânicos em sua redação e Tang seja de origem oriental.
A diversidade racial e de gênero no alto comando das redações é um desafio no mundo, e vem sendo medida anualmente pelo Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo, da Universidade de Oxford
Em pesquisas anuais em diversos países, incluindo o Brasil, o Instituto mapeia a presença de mulheres nas chefias principais das redações online e offline de maior audiência. A pesquisa deste ano, divulgada em março, apontou que em 12 países, apenas 24% dos principais editores são mulheres. Nos EUA a taxa é de 45%, e no Brasil de 29%.
No levantamento sobre diversidade racial, feito em cinco países, a situação é parecida: 23% dos líderes não são brancos – aí incluídas pessoas de origem oriental, como Terry Tang. Nos EUA são 29%, e no Brasil não há nenhum negro no topo da cadeia de comando dos 20 principais veículos de imprensa pelo critério de audiência.
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Nova chefe fez carreira no New York Times
A nova editora-executiva do Los Angeles Times, um dos jornais mais influentes dos EUA, tem uma história diferente da de muitos dos que ocupam cargos semelhantes em outras redações.
A família de Terry Wang se mudou de Taipei, onde ela nasceu, para o Japão e depois para os EUA, onde ela chegou aos seis anos de idade. O pai trabalhava em uma companhia aérea. Ela é formada em economia pela Universidade de Yale, em direito pela Universidade de Nova York, e foi bolsista de jornalismo na Universidade de Harvard.
A carreira no jornalismo é extensa, iniciada em em Seattle, onde foi redatora e colunista do Seattle Times e repórter do Seattle Weekly. Passou 20 anos no New York Times em diversas posições, incluindo a de subeditora da página de editoriais; editora de opinião; editora adjunta de tecnologia e cofundadora da Room for Debate, uma plataforma online para comentários.
A nova editora-executiva assume um jornal importante mas que vive as mesmas dificuldades de outros grandes títulos americanos, como o Washington Post e o New York Times, que fizeram demissões e enfrentaram greves recentemente.
A mídia digital também vive dias difíceis nos EUA, reduzindo drasticamente equipes ou trocando de mãos, com estrelas do setor afundadas em dívidas imensas.
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