Londres – A saga de Julian Assange, fundador do site Wikileaks,  pode estar chegando ao fim: o presidente Joe Biden admitiu nesta quarta-feira a possibilidade de um acordo para autorizar sua ida para a Austrália, seu país natal, em vez de extraditá-lo do Reino Unido para os EUA. 

Assange, que tornou públicos documentos militares confidenciais dos EUA, responde a 18 processos movidos pelo governo americano, que podem valer 175 anos de prisão. Em fevereiro o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, entrou diretamente no caso, votando uma moção do Parlamento que pede aos EUA e ao Reino Unido que deixem Assange voltar. 

Respondendo a perguntas de jornalistas que acompanhavam a visita do primeiro-ministro japonês à Casa Branca nesta quarta-feira (10), Biden disse: “Estamos considerando isso”. Foi a primeira vez que os EUA admitiram aceitar o pedido australiano.

Assange completa hoje cinco anos preso na prisão de Belmarsh, onde aguarda a tramitação do processo de extradição, que agora depende apenas de uma resposta final com garantias dos EUA para ser autorizada, ou do resultado de uma audiência final.  

A mulher de Assange, Stella, advogada que faz parte de sua equipe de defesa, reagiu imediatamente à possibilidade considerada por Joe Biden. Ela divulgou um vídeo no YouTube e pelo Twitter / X  dirigiu-se diretamente ao presidente dos EUA: “faça a coisa certa”. 

O primeiro-ministro australiano disse à mídia local que os comentários do presidente dos EUA foram animadores, e que estava “incrivelmente otimista quanto a um desfecho favorável”. 

“Nós queremos Assange de volta para casa”, disse Albanese. 

WSJ levantou possibilidade de acordo para ida de Assange para a Austrália

A possibilidade de os EUA encontrarem uma saída para o caso, que pode ser mais um problema de imagem para Joe Biden em um ano eleitoral, começou a ser levantada há três semanas. 

O Wall Street Journal noticiou supostas conversas em torno da retirada das acusações de espionagem contra Assange, mantendo apenas os processos com penas mais leves.

Como ele já cumpriu tempo de cadeia no Reino Unido, haveria um caminho para libertá-lo e autorizar a ida para a Austrália. 

A organização Repórteres Sem Fronteiras salienta que Assange não é cidadão americano, nunca viveu nos EUA e não tem quaisquer laços significativos com os EUA.

“Ele é um cidadão australiano que vivia e trabalhava em Londres quando o governo dos EUA abriu o processo contra ele”, afirma a entidade. 

Em vídeo, mulher de Assange diz que a Austrália “é onde ele deveria estar”

No vídeo divulgado por ocasião do aniversário de cinco anos de Assange na prisão, que acabou coincidindo com a declaração de Joe Biden, Stella compartilha como são suas visitas ao marido na prisão.

Ela disse que conversam sobre os aspectos jurídicos do caso, mas que passam a maior parte do tempo falando sobre os tempos passados, incluindo as memórias dele de sua infância e adolescência na Austrália.

E finaliza dizendo que a Austrália é onde ele deve estar. O pai e o irmão de Assange vivem no país, e são ativos na mobilização em prol de sua libertação, assim como ativistas e organizações de apoio. 

Veja os principais fatos do caso Assange 

O caso de Assange é considerado um marco na liberdade de imprensa, por envolver a divulgação de informações de interesse da sociedade.

  • Ele publicou no site WikiLeaks em 2010 de mais de 250 mil documentos militares e diplomáticos confidenciais vazados, conhecidos como Cablegate, o Diário da Guerra do Afeganistão e os Registros da Guerra do Iraque.
  • Entre eles está um vídeo mostrando um ataque contra civis, em que morreram dois jornalistas da agência Reuters. Ao todo são 18 processos – 17 pela  Lei de Espionagem e uma pela Lei de Fraude e Abuso Informático. 
  • As informações foram publicadas por jornais em todo o mundo, mas nenhum deles foi responsabilizado criminalmente, apenas Assange. 
  • Ele está preso desde 2019 na penitenciária Belmarsh, em Londres, para onde foi levado depois de perder o asilo político na embaixada do Equador, onde passou quase sete anos. 
  • Embora uma decisão de primeira instância em 2021 tenha impedido a extradição, sob o argumento de que ele correria risco de cometer suicídio se fosse levado para uma penitenciária de segurança máxima nos EUA, tribunais superiores aceitaram recursos dos EUA autorizando a viagem. 
  • No dia 26 de março, o Superior Tribunal britânico deu a Julian Assange a possibilidade de mais uma audiência para tentar reverter as decisões anteriores, mas com algumas condições. 
  • Os EUA e o Reino Unido ganharam três semanas para fornecer ao tribunal “garantias satisfatórias” sobre se Assange poderia confiar na Primeira Emenda da Constituição dos EUA (que garante liberdade de expressão); se ele poderia ser prejudicado em um julgamento devido à sua nacionalidade (motivo para que alguns direitos assegurados a cidadãos americanos não sejam dados a ele), e se poderia estar sujeito a uma sentença de pena de morte. 
  • Caso as garantias não sejam dadas e um acordo para a ida de Assange para a Austrália não se concretize, uma nova audiência está marcada para o dia 20 de maio.