A Promotoria Especial para a Investigação de Crimes Cibernéticos em Buenos Aires abriu investigação para localizar os autores de ameaças de morte feitas por WhatsApp ao jornalista argentino Julio Ernesto Lopez após exibição de uma reportagem investigativa sobre venda ilegal de remédios controlados. 

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), Lopez é especialista em segurança e trabalha com crimes cibernéticos bancários. Ele é colunista da Rádio Mitre e da emissora de notícias a cabo TN, que pertence ao Clarín, um dos maiores grupos de mídia da Argentina. 

As mensagens foram enviadas para o WhatsApp do pai do jornalista, que tem o mesmo nome, logo após a exibição da reportagem no programa Telenoche do Canal Trece, também do Clarín, no dia 4 de abril. Ele denunciou fraude no acesso ao sistema público, permitindo emitir receitas ilegalmente. 

As mensagens, vistas pelo CPJ, diziam: “Vou atirar em você” e “Cara caolho, você trabalha para a polícia”. López usa óculos com lente escura sobre o olho esquerdo. 

“As autoridades argentinas devem investigar imediatamente as ameaças de morte contra o jornalista argentino Julio Ernesto López”, disse a coordenadora do CPJ para a América Latina, a brasileira Cristina Zahar.

 “Os jornalistas não devem ser perseguidos por prestarem um serviço de interesse público à sociedade, como foi o caso da matéria.”  

Venda ilegal de remédios online e em feira livre 

A reportagem do jornalista ameaçado explicou como os criminosos acessam o sistema online do Instituto Nacional de Serviços Sociais para Aposentados e Pensionistas (PAMI), a agência pública de seguro de saúde para aposentados da Argentina, para emitir receitas de remédios que são subsidiados em média 80% pelo governo.

López é mostrado negociando um pagamento com um criminoso para ter acesso ao sistema. Ele expôs também a venda de remédios controlados em uma feira livre. 

“Como não possui autenticação de dois fatores, qualquer pessoa com login e senha de um médico registrado pode acessar e emitir receitas”, disse o jornalista ao CPJ em entrevista por telefone.

A promotoria informou ao CPJ  que usou georreferenciamento para obter a localização do número de telefone que enviou as ameaças e pediu à controladora do WhatsApp, a Meta, que fornecesse as informações do perfil da pessoa, o que deve acontecer dentro de 20 dias.

Outras organizações de liberdade de imprensa manifestaram apoio ao jornalista argentino ameaçado de morte. 

 A Adepa (Asociación de Entidades Periodísticas Argentinas) disse em nota repudiar as ameaças anônimas enviadas ao celular, vinculadas à reportagem denunciando a fraude envolvendo acesso ilegal a remédios controlados.