Centenas de jornalistas, representantes de organizaçÔes sindicais e de defesa dos direitos humanos e liberdade de expressĂŁo reuniram-se nesta segunda-feira em Buenos Aires em um protesto contra o fechamento da TĂ©lam, a agĂȘncia pĂșblica de notĂ­cias, por decisĂŁo do presidente Javier Milei. 

À meia-noite de domingo, os prĂ©dios da empresa criada hĂĄ 79 anos foram cercados pela polĂ­cia e os funcionĂĄrios impedidos de entrar. O site passou a exibir uma mensagem avisando que estĂĄ em reconstrução, e nenhum conteĂșdo antigo pode ser acessado. 

Milei, que desde a campanha eleitoral adota uma polĂ­tica de confronto aberto com a imprensa, justificou a medida sob o argumento de que a TĂ©lam Ă© uma “agĂȘncia de propaganda kirchenerista hĂĄ dĂ©cadas”. 

Milei anunciou fechamento da agĂȘncia de notĂ­cias no Congresso 

O presidente havia anunciado a decisĂŁo de fechar a TelĂĄm logo que tomou posse e oficializou a intenção na sexta-feira (1), durante a abertura dos trabalhos do Congresso – mas o encerramento abrupto surpreendeu os profissionais e entidades do setor.

Os funcionĂĄrios receberam email informando que estavam liberados do trabalho por uma semana, sem informaçÔes sobre os prĂłximos passos. 

A TĂ©lam tem mais de 750 funcionĂĄrios, com representaçÔes em todo o territĂłrio argentino, produzindo conteĂșdos jornalĂ­sticos em todos os formatos, utilizados pelos meios de comunicação do paĂ­s (incluindo mĂ­dias regionais e comunitĂĄrias) e internacionais. 

É a segunda maior agĂȘncia jornalĂ­stica da regiĂŁo, perdendo apenas para a Efe, e gera 500 notĂ­cias por dia.

O protesto realizado na segunda-feira, um abraço simbĂłlico, foi convocado pelo Sindicato de Prensa de Buenos Aires e pela Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (FATPREN), ganhando a adesĂŁo de entidades nĂŁo diretamente ligadas ao jornalismo. 

“O governo nacional estĂĄ praticando um dos piores ataques Ă  liberdade de expressĂŁo nos Ășltimos 40 anos de democracia”, denunciou o sindicato. 

Carla Gaudensi, secretĂĄria-geral da FATPREN e funcionĂĄria da TĂ©lam, garantiu que o encerramento da agĂȘncia Ă© ilegal porque esta decisĂŁo sĂł pode ser tomada pelo Congresso. O entendimento tambĂ©m foi confirmado por alguns deputados, segundo a Federação Internacional de Jornalistas.

Jornalistas credenciados para cobrir presidĂȘncia fizeram ato 

Em outro ato, os jornalistas credenciados para cobrir as atividades da Casa Rosada, sede do governo argentino, exibiram cartazes contra o fechamento da TelĂĄm. As perguntas da coletiva diĂĄria se concentraram no caso da agĂȘncia de notĂ­cias. 

Jornalistas protestam na Casa Rosada, em Buenos Aires, contra fechamento de agĂȘncia de notĂ­cias pĂșblica argentina por Javier Milei
Protesto na Casa Rosada (foto: divulgação SiPreBA via Twitter/X)

ManifestaçÔes tambĂ©m foram feitas em outras cidades da Argentina. 

Embora Milei tenha incluĂ­do o fechamento da TĂ©lam no pacote de desestatização, o caso da agĂȘncia vai alĂ©m de uma polĂ­tica econĂŽmica, pois o motivo principal Ă© a alegação de propaganda em favor dos adversĂĄrios polĂ­ticos. 

O porta-voz do presidente, Manuel Adorni, negou que a decisĂŁo tenha impacto sobre o pluralismo da informação ou dos meios de comunicação ou “com questĂ”es que tenham a ver com a liberdade de expressĂŁo”, e acrescentou que a empresa teve perdas estimadas em 24 milhĂ”es de dĂłlares. 

Ele disse que o governo Milei anunciarĂĄ nos prĂłximos dias o plano de fechamento agĂȘncia de notĂ­cias da empresa “e o destino dos seus trabalhadores”.

A Federação Internacional de Jornalistas disse em um comunicado que o encerramento das atividades da agĂȘncia TĂ©lam e e a forma como o governo vem conduzindo o processo constituem ataques direto Ă  liberdade de imprensa e ao direito Ă  informação de toda a população.

“A violĂȘncia, tanto tangĂ­vel como simbĂłlica, com que este encerramento ilegal estĂĄ a ser imposto, Ă© uma forma de disciplina que procura intimidar os demais profissionais de comunicação que atuam em empresas pĂșblicas”, disse a organização.