Londres – A atriz Scarlett Johansson expôs nesta segunda-feira a sua indignação com o uso de uma voz supostamente copiada da sua em um novo sistema da IA ChatGPT e criticou diretamente o CEO da OpenAI, Sam Altman.  

Apesar da a OpenAI ter voltado atrás e “pausado” o uso da voz semelhante à da atriz no Sky, o caso expôs mais uma vez a controvérsia em torno dos direitos autorais nas aplicações de inteligência artificial generativa. 

Em um longo comunicado publicado nesta segunda-feira (20), Johansson revelou os detalhes de um convite feito por Altman para a utilização de sua voz, que ela recusou – mas mesmo assim a empresa seguiu em frente, o que a deixou “chocada, irritada e sem acreditar que o Sr. Altman tinha usado uma voz tão estranhamente semelhante que nem os amigos próximos e meios de comunicação perceberam a diferença”. 

Voz da IA ‘semelhante’ à de Scarlett Johansson derrubada 

Depois que a atriz veio a público e a notícia da voz semelhante se espalhou, a OpenAI  decidiu não encarar mais uma briga na mídia e nos tribunais, além dos processos já movidos por criadores de conteúdo e das críticas abertas do setor criativo. 

Em seu comunicado, Johansson disse que tinha sido “forçada a contratar um advogado, que escreveu duas cartas ao Sr. Altman e à OpenAI, expondo o que tinham feito e pedindo-lhes que detalhassem o processo exato pelo qual criaram a voz ‘Sky’. 

A OpenAI não admitiu diretamente que usou a voz da atriz. No entanto, em um post no Twitter/X, o CEO da empresa dona do ChatGPT escreveu apenas “She”, o que foi interpretado por Scartlett Johansson como uma referência ao filme de mesmo nome feito em 2013, em que ela dublou Samantha, uma assistente virtual feita com IA que estabelece um relacionamento com um ser humano. 

Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT em depoimento à Câmara do Senado no Congresso dos EUA
Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, no Congresso dos EUA

Talvez por isso Sam Altman tenha decidido que ela seria a voz perfeita para o ChatGPT4, mesmo contra a sua vontade, como ela relatou: 

Em setembro passado, recebi uma oferta de Sam Altman, que queria me contratar para dar voz ao atual sistema ChatGPT 4.0.

Ele me disse que achava, ao dar voz ao sistema, eu poderia preencher a lacuna entre as empresas de tecnologia e os criativos e ajudar os consumidores a se sentirem confortáveis ​​com a mudança sísmica em relação aos humanos e à IA.

Ele disse que sentiu que minha voz seria reconfortante para as pessoas. Depois de muita consideração e por motivos pessoais, recusei a oferta.

A surpresa veio nove meses depois, quando “amigos, familiares e o público em geral notaram o quanto o mais novo sistema chamado “Sky” soava como eu”, escreveu ela. 

A atriz revelou que dois dias antes do lançamento da apresentação do ChatGPT 4.0, “o Sr. Altman contatou meu agente, pedindo-me para reconsiderar a recusa”. 

“Mas antes que pudéssemos nos conectar, o sistema já estava disponível, afirmou. 

O que diz a OpenIA sobre a polêmica com Johansson 

A empresa se defendeu em uma postagem em seu blog alegando que as vozes disponíveis no modo de voz do ChatGPT foram “cuidadosamente selecionadas por meio de um extenso processo que durou cinco meses envolvendo dubladores profissionais, agências de talentos, diretores de elenco e consultores da indústria”. 

E garantiu que “a voz de Sky não é uma imitação de Scarlett Johansson, mas pertence a uma atriz profissional diferente, usando sua própria voz natural”, que por razões de privacidade não teria seu nome divulgado.

No entanto, ainda assim a empresa optou por recuar. A atriz disse que a decisão de derrubar a voz semelhante à dela veio depois das cartas enviadas a Altman e à OpenIA por seus advogados. 

E manifestou-se a favor de legislação mais rigorosa para combater os problemas da inteligência artificial. 

“Numa época em que todos lutamos contra deepfakes e tentamos proteger a nossa própria imagem, a do nosso próprio trabalho, a das nossas próprias identidades, acredito que estas são questões que merecem clareza absoluta.

Atriz defende regulamentação da IA

Scartlett Johansson disse aguardar “com expectativa” uma solução sob a forma de transparência do uso da IA e a aprovação de legislação apropriada, para ajudar a garantir que os direitos individuais sejam protegidos.”

O analista do mercado de tecnologia Casey Newton, jornalista americano que se tornou uma das vozes mais influentes no segmento, disse em sua newsletter Platformer não ter dúvidas sobre o que aconteceu, longe de uma confusão legítima: “eles tentaram, ela não concordou e eles usaram uma voz parecida com a dela”. 

Newton apontou a importância da reação da atriz, “falando por uma classe inteira de criativos que agora estão lutando com o fato de que os sistemas automatizados começaram a corroer o valor de seu trabalho”.

Para ele, a decisão da OpenAI de “usurpar” a voz de Johansson  para seus próprios propósitos agora receberá atenção” ampla e justificada”.