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Vídeo: Jornalista chinesa condenada reaparece abatida nove dias após data marcada para sair da cadeia

Jornalista Zhang Zhan em vídeo informando que foi libertada da prisão na China

Zhang Zhan apareceu com cabelos mais curtos e com ar abatido, dando apenas um leve sorriso no final do vídeo: screenshot vídeo)

Londres – Após mais de uma semana sem confirmação de que a jornalista Zhang Zhan teria sido libertada da prisão na China na data marcada para o fim de sua pena, ela reapareceu em um vídeo dizendo que estava bem e agradecendo as preocupações do público. 

Advogada que virou jornalista cidadã, Zhang Zhan foi condenada a quatro anos por ter transmitido em suas redes sociais notícias sobre a crise da covid em Wuhan, epicentro da pandemia. A pena terminou em 13 de maio. 

No vídeo, que segundo a campanha pela libertação da jornalista foi fornecido por um “intermediário”, ela aparece com cabelos mais curto, abatida e aparentemente com olhos inchados. 

Em voz baixa e aparentando estar contendo o choro,  ela diz em chinês que havia sido levada pela Polícia para a casa do irmão mais velho, em Zangai, no dia 13 de maio, e que estava bem. 

It is a huge relief to see Zhang Zhan released from prison and reunited with her family.

Mas ativistas e organizações não estão convencidos. Jane Wang, que lidera o movimento em defesa de Zhang Zan baseado em Londres, afirmou que ela tem liberdade limitada e vê riscos à sua integridade. 

Preocupações com futuro da jornalista libertada na China

Segundo o comunicado publicado pela campanha no Twitter / X, suas últimas palavras foram: “Realmente não tenho mais o que dizer”.

A nota salienta que não há confirmação sobre onde Zhang Zhan estava quando o vídeo foi gravado ou quem o gravou para ela.

A campanha acrescentou ainda que de acordo com um amigo que conversou com  ela no WeChat, Zhang Zhan teria conseguido uma conta no site de mídia social chinês, e disse que “não estava muito livre”.

“O fato de Zhang Zhan ter finalmente conseguido “ressurgir” após nove dias de desaparecimento prova que o governo chinês responde à pressão da sociedade internacional. É um alívio […], mas continuamos preocupados com sua segurança e bem-estar. 

Tal como outros antigos presos políticos, ela está sujeita a vigilância e assédio intrusivos do governo, correndo o risco de “desaparecer” ou ser presa novamente.”

A organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras, que em 2021 homenageou Zhang Zhan com o Prêmio Coragem, também se disse preocupada com a situação da jornalista, libertada mas mantida sob vigilância, e cobrou sua libertação total e incondicional. 

Jornalista chinesa virou símbolo da repressão na crise da covid

O caso de Zhang Zhan, de 40 anos, se tornou emblemático como exemplo do o aumento da repressão da China sobre dissidentes e jornalistas no momento em que o país era apontado como local de origem da pandemia.

Ex-advogada e residente de Xangai, Zhan tinha 37 anos quando foi sozinha para Wuhan, em 1º de fevereiro de 2020, e transmitiu notícias sobre a pandemia via WeChat, Twitter e YouTube a partir da cidade chinesa onde o coronavírus foi inicialmente identificado.

Os mais de 100 vídeos curtos mostravam entrevistas com residentes e imagens de crematórios, estações de trem, hospitais e do Instituto de Virologia da cidade.

O governo acusou-a de “enviar informações falsas por meio de texto, vídeo e outras mídias por meio da internet, como WeChat, Twitter e YouTube; de conceder entrevistas a mídias estrangeiras –Free Radio Asia e Epoch Times – e de especular maliciosamente sobre a epidemia de covid-19 em Wuhan”.

Ao ser presa, em maio de 2020, Zhang negou as acusações e disse que todas as reportagens sobre a resposta ao surto foram baseadas em relatos de moradores locais. Suas reportagens em vídeo costumavam criticar o sigilo e a censura.

“Pessoas comuns dizendo algo corriqueiro no WeChat podem ser convocadas e advertidas”, disse ela em um vídeo postado no YouTube, que continua no ar no site da campanha em sua defesa.

“Como tudo está encoberto, este é o problema que este país enfrenta agora”.

Em outros vídeos, ela acusou as autoridades de violarem os direitos básicos das pessoas e pediu a libertação de outros jornalistas-cidadãos que haviam sido presos por reportar em Wuhan.

Guerra contra liberdade de imprensa na China 

“O regime chinês tem conduzido uma verdadeira guerra contra o jornalismo desde que o líder Xi Jinping chegou ao poder em 2012”, diz a Repórteres Sem Fronteiras.

Segundo a organização, a China é a maior prisão do mundo para jornalistas e defensores da liberdade de imprensa, com pelo menos 119 detidos.

O país está classificado em 172º lugar entre 180 países no Global Press Freedom Index 2024.

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