Londres – O presidente do Kantipur Media Group (KPG), Kailash Sirohiya, foi preso dentro da sede do grupo editorial que preside, o maior do Nepal, sob alegação de irregularidades em sua cidadania. 

A empresa é dona do mais importante jornal de língua nepalesa, o Kantipur, e também do Katmandu Post, em inglês. Na noite de sexta-feira, ele foi transferido da prisão para um hospital devido a problemas cardíacos, segundo o Katmandu Post. 

A prisão, na terça-feira (21) aconteceu no dia seguinte à publicação de reportagens apontando que o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Rabi Lamichhane, estava envolvido na apropriação indébita de fundos cooperativos enquanto era diretor administrativo da Gorkha Media Network, segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ). 

Presidente preso por policiais do Nepal uniformizados e apoiados por manifestantes 

O editor do Kathmandu Post, Biswas Baral, disse ao CPJ que dezenas de policiais uniformizados, bem como apoiadores políticos do governo gritando slogans, cercaram o prédio enquanto Sirohiya era preso.

Posteriormente, o presidente do grupo de mídia foi transferido para uma delegacia de polícia no distrito de Dhanusha, no sul do Nepal, com prisão preventiva decretada por três dias, renovada por mais três. 

O mandado de prisão havia sido expedido em resposta a uma queixa de 28 de abril acusando-o de possuir múltiplas cidadanias, o que viola a Lei de Cidadania de 2006 do Nepal.

A queixa foi apresentada por um membro do comitê de um grupo do Partido Rastriya Swatantra de Lamichhane. Sirohiya nega qualquer irregularidade.

Baral disse ao CPJ que o presidente do grupo de mídia não foi convocado para interrogatório nem lhe foi oferecida a oportunidade de demonstrar a autenticidade dos seus documentos de cidadania, um procedimento normalmente seguido em casos semelhantes.  

Comunicado acusa governo do Nepal de ‘chantagem’ 

Em um comunicado antes de ser internado no hospital, Sirohiya afirmou que estava pronto para cooperar com a investigação policial e que a denúncia e o mandado de prisão foram emitidos para “chantagear”: 

“É responsabilidade da mídia levantar a voz e exigir apuração e justiça sobre todos os envolvidos no desvio das poupanças suadas de mais de 7,1 milhões de depositantes em diversas cooperativas.

Não há dúvida de que a apresentação da queixa e a emissão do mandado de prisão contra mim, sem qualquer interrogatório, foram feitas para chantagear o Kantipur para que não publicasse mais reportagens sobre o assunto e para desviar a atenção.”

Em uma carta conjunta dirigida ao primeiro-ministro Pushpa Kamal Dahal, 31 editores dos principais meios de comunicação nepaleses afirmaram que a prisão de Sirohiya tinha “a intenção de criar pressão e medo na imprensa”.

“A prisão do presidente do Kantipur Media Group em seu local de trabalho parece ser um esforço para amordaçar as reportagens críticas do maior grupo de mídia do Nepal”, disse o Diretor do CPJ,  Carlos Martinez de la Serna.

“Apelamos às autoridades nepalesas para que garantam que o Kantipur Media Group possa trabalhar livremente e sem medo de represálias.”

No comunicado emitido após a prisão, o empresário demonstrou disposição em não ceder a pressões. Ele afirmou que o Kantipur “não recuará nem um centímetro em levantar sua voz contra as irregularidades na sociedade, inclusive no esquema das cooperativas”.

Liberdade de imprensa no Nepal 

Embora ocupe o 74º lugar entre 180 nações no ranking Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras, o Nepal é o país com a melhor colocação entre os vizinhos do Sul da Ásia, região em que a liberdade de imprensa é restrita. 

A investida contra o grupo dirigido por Kailash Sirohiya é um retrocesso, pois o país havia avançado 21 posições na lista deste ano, divulgada no dia 3 de maio. 

A organização afirma que “depois de uma década de violência liderada pelos maoistas que pôs fim a uma monarquia de 240 anos, a criação de uma República Federal Democrática do Nepal em 2008 marcou um novo marco para a liberdade de imprensa”. 

No entanto, aponta problemas como o controle do governo sobre meios de comunicação influentes, ataques a jornalistas e meios de comunicação e o favorecimento de grupos simpáticos à administração pública por meio de propaganda oficial.