A primeira aparição do Pato Donald na tela foi no curta de animação intitulado “The Wise Little Hen”, há 90 anos.
Ele foi concebido como um personagem coadjuvante, mas sua popularidade imediata fez com que a Disney passasse a usá-lo exensivamente em histórias em quadrinhos e curtas de animação que vieram em seguida.
E poucos anos depois de sua estreia, em 1934, o Pato Donald já havia alcançado um status de celebridade comparável ao de Shirley Temple ou de Greta Garbo.
Disney celebra 90 anos do Pato Donald com clip dos melhores momentos
Sua popularidade fica clara no curta de animação da Disney de 1939, The Autograph Hound , em que celebridades de Hollywood da época abandonam seus compromissos de filmagem em estúdio para pedir um autógrafo de Donald.
Em 1940, o próprio Walt Disney referia-se ao Pato Donald como “o Gable do nosso plantel” – combinando a popularidade de Donald com a superestrela de Hollywood Clark Gable, o maior nome dos estúdios MGM na época.
O status de ícone de Donald foi consolidado na década de 1940 em todo o mundo, por meio de quadrinhos na Europa e na América do Sul e por ser a estrela da propaganda interna do governo dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.
Donald estrelou desenhos animados destinados a encorajar os americanos a apoiarem o esforço de guerra. Essas curtas animações iam desde incentivar as pessoas a investirem em títulos do governo americano até ridicularizar Hitler como um déspota perturbado.
O último curta – Der Fuehrer’s Face – rendeu a Donald seu primeiro Oscar em 1943, embora desde então tenha sido amplamente criticado pela representação caricatural do povo japonês.
Pato Donald, arquétipo do ‘celeactor’
Donald é indiscutivelmente tão popular agora quanto era em seu auge, em meados do século XX. O pesquisador de mídia Chris Rojek até usou Donald como exemplo em sua categorização de celebridades.
O pato representa o arquétipo do “celeactor” , um “personagem fictício que é uma característica institucionalizada da cultura popular”.
Ao contrário de muitos personagens da Disney, as histórias de Donald acontecem nos dias atuais e são contemporâneas para o público que as aprecia. Isso fica claro em suas relações com personagens femininas .
Nos primeiros dias de Donald, as personagens femininas limitavam-se frequentemente a representar a beleza, a domesticidade e a subserviência ao patriarcado – refletindo as experiências das mulheres em todo o mundo.
Por exemplo, Margarida quase nunca foi mostrada originalmente como tendo seu próprio emprego ou carreira, em nítido contraste com Donald, que é mostrado em muitos empregos, incluindo detetive particular, carteiro e vendedor.
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Personagens femininas evoluíram
Mais recentemente, porém, as personagens femininas se desenvolveram para refletir o mundo moderno. Isso inclui a estreia de personagens como a irmã de Donald, Della Duck.
Della é uma piloto habilidosa, frequentemente encontrada no meio de cenas de ação e essencial nas tramas da série de quadrinhos Ducktales (2018), bem como do programa de televisão de mesmo nome.
Della Duck, Daisy Duck e outras personagens femininas têm protagonismo nessas histórias – elas são personagens principais e não apenas estão lá para apoiar o astro masculino.
Pato Donald, um ‘homem comum’
Indiscutivelmente, o Pato Donald é um personagem mais identificável do que alienígenas de uma galáxia distante ou da figuras monárquicas dos contos “era uma vez”.
Donald e seus amigos enfrentam os mesmos desafios diários e a mesma diversão que nós; engarrafamentos, (in)satisfação no trabalho, férias à beira-mar, reuniões familiares festivas e assim por diante.
Não é difícil para o seu público ter empatia, identificar e compreender as situações em que Donald se encontra.
Experiências identificáveis têm sido um importante recurso narrativo para o Pato Donald nos últimos 90 anos. Donald gostou dos desenvolvimentos tecnológicos do rádio e da televisão nos curtas de animação que estrelou durante as décadas de 1930, 1940 e 1950.
E em suas mais recentes aparições animadas em Ducktales, os personagens são vistos usando a plataforma de mídia social QuackChat – uma paródia óbvia do Snapchat.
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O Pato Donald é eternamente popular porque é o “homem comum”. Pessoas em todo o mundo ainda encontram muitos motivos para se identificar e rir em seus acessos de raiva diante das dificuldades da vida.
Ele fornece uma maneira de projetar nossas próprias frustrações de maneira comparável a estrelas de desenhos animados mais adultas, como Homer Simpson, de Os Simpsons, ou Peter Griffin, de Uma Família da Pesada.
Enquanto Donald acompanhar o ritmo da sociedade e continuar a refletir o mundo em constante mudança em que vivemos, é improvável que este pato voe para longe tão cedo.
Sobre o autor
Joel Gray é pesquisador e professor de Mídia, Arte e Comunicação na Sheffield Hallam University, onde ocupa também o cargo de reitor associado na Faculdade de Negócios, Tecnologia e Engenharia. Seus campos de pesquisa incluem cultura visual, cultura popular e marketing estratégico.
Este artigo foi publicado originalmente no portal acadêmico The Conversation e é republicado aqui sob licença Creative Commons.
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