O documentário “Vale dos Isolados – O assassinato de Bruno e Dom”, da TV Globo, dirigido pela jornalista Sônia Bridi, recebeu nesta sexta-feira (5) na Colômbia o Prêmio Gabo de Jornalismo na categoria Imagem. 

Realizado um ano após o assassinato do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, ocorrido em junho de 2022, o documentário investigou as circunstâncias do ato criminoso e expôs um ciclo de violência que remonta à chegada dos primeiros europeus ao Vale do Javari, a região com o maior número de indígenas isolados do mundo.

A premiação da Fundação Gabo, fundada pelo jornalista e Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, reconheceu também o trabalho sobre atividades criminosas na Amazônia feito por um grupo de mais de 30 jornalistas de 11 países, incluindo o Brasil, entre os melhores projetos jornalísticos do ano em espanhol e português.  

Documentário sobre Dom e Bruno: ‘projeto corajoso’ 

A escolha do documentário Vale dos Isolados como melhor trabalho jornalístico na categoria Imagem do Prêmio Gabo faz jus às cenas e depoimentos impactantes registrados pela equipe. 

Uma delas, exibida no trailer, mostra a tristeza no momento em que a credencial de jornalista de Dom Philips, que vivia no Brasil e estava escrevendo um livro sobre a Amazônia, é encontrada. 

O júri formado pelos jornalistas Carmen Aristegui (México), Ana Brigida (Portugal) e Miguel Salazar Aparicio (Colômbia), explicou a escolha: 

“É um projeto corajoso e poderoso, que dá ao mundo uma mensagem muito importante contra o ato de silenciar vozes críticas, por meio da reconstrução das últimas horas de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados diante da negligência estatal na região do vale de Javari.”

O documentário faz parte de um projeto do coletivo de jornalismo investigativo internacional Forbidden Stories, que neste caso envolveu cinquenta jornalistas de dez países. 

A equipe responsável por Vale dos Isolados foi formada por Sônia Bridi, Paulo Zero, Alan Graça Ferreira, Alice Melo, Cristine Kist, Clarissa Cavalcanti, Andrey Frasson, Claudio Guterres, Eulym Ferreira, Marrey Júnior e Flávio Lordello. 

Veja os outros premiados 

Melhor cobertura: ‘Amazon Underworld’, publicado por InfoAmazonia, A Liga Contra o Silêncio e Armando.Info.

O projeto transfronteiriço oferece uma visão global sobre o ecossistema criminoso na Amazônia.

Uma equipe de mais de 30 jornalistas do Brasil, Colômbia e Venezuela entrou nas profundezas da floresta e conseguiu mapear uma complexa rede de grupos criminosos que atuam sem controle em seis países e que está contribuindo para a destruição da área com mais biodiversidade do planeta.

Os participantes do trabalho foram Bram Ebus, Juan Torres, Alejandro Gómez Dugand, Alex Rufino, Andrés Cardona, Barbara Fraser, Beatriz Jucá, Diane Sampaio, Emily Costa, Ivan Brehaut, Jaap van ‘t Kruis, Jeanneth Valdivieso, Jorge Benezra, Joseph Poliszuk, Juliana Rezende, Laura Kurtzberg, Leandro Barbosa, Luiz Fernando Toledo, María Ramírez Cabello, Mariana Rios, Mathias Felipe, Pamela Huerta, Rafael Duran, Rodrigo Pedroso, Sam Cowie, Silvana Vincenti, Sinar Alvarado, Stefano Wrobleski, Tatiana Escárraga, Wagner Almeida.


Melhor trabalho em Áudio: ‘As Mulheres Corajosas: Guií chanáa’, publicado pela Spotify Studios e Oronda Studio.

O podcast foi criado pela mexicana Nayelli López para dar voz às mulheres de seu povo: a comunidade triqui de San Martín Itunyoso, Oaxaca, onde a venda de mulheres para o casamento é um costume ainda vigente.

Nayelli López Reyes

Embora conserve e valorize as tradições, Nayelli considera necessário fazer perguntas para gerar uma mudança e questionar esta prática, que resultou em violência. Este é o primeiro podcast original do Spotify disponível em espanhol e em triqui.


Melhor texto e Fotografia: ‘ A Noite dos Cavalos: o maior resgate equino da América do Sul’, publicado na Revista Gatopardo (Argentina) 

De autoria de Diego Fernández Romeral, e com fotos de Anita Pouchard Serra, a reportagem levou dois Prêmios Gabo.

O trabalho é uma investigação sobre as exportações de carne de cavalo da Argentina para a Europa, um negócio de 500 milhões de dólares anuais, que está envolto em uma multiplicidade de crimes: roubo de gado, assassinatos, corrupção estatal e lavagem de dinheiro.

A reportagem também relata o trabalho das ONGs que recuperaram centenas de cavalos escondidos no chamado Campo do Horror.

Cerimônia de Premiação em Bogotá 

Os vencedores foram anunciados em uma cerimônia no Teatro Jorge Eliécer Gaitán, em Bogotá, durante o Festival Gabo, o maior encontro de escritores e jornalistas ibero-americanos, que será realizado até domingo sob o lema #HistoriasParaDespertar.

O concurso recebeu 2,1 mil candidaturas este ano. 

Os autores dos trabalhos vencedores receberam 35 milhões de pesos colombianos, um exemplar da escultura Gabriel, do artista colombiano Antonio Caro, e um diploma com uma ilustração inspirada no discurso “A solidão da América Latina” de Gabriel García Márquez, obra do bogotano Randy Mora.

A Fundação prestou uma homenagem a José Rubén Zamora, jornalista preso na Guatemala desde julho de 2022, que foi anunciado em maio como vencedor do Reconhecimento à Excelência Jornalística do Prêmio Gabo 2024.