Organizações internacionais de liberdade de imprensa como Repórteres Sem Fronteiras, Vozes Del Sud e Fundamedios lançaram apelos para descobrir o paradeiro da jornalista Fabiola Tercero Castro, desaparecida junto com a família desde 12 de julho, quando sua casa foi visitada por policiais em Manágua, capital da Nicarágua.
Em nota, a Associação de Jornalistas e Comunicadores Independentes da Nicarágua (PCIN) denunciou o desaparecimento da jornalista e disse ter tentado de várias maneiras obter informações sobre ela, sem sucesso.
“Exigimos que, caso ela tenha sido detida pela Polícia, a sua integridade e direitos pessoais sejam respeitados e que a sua detenção seja anunciada publicamente”, acrescentou a organização.
Quem é a jornalista desaparecida na Nicarágua
Fabiola Tercero Castro é uma conhecida feminista, ativista e jornalista independente. Em 2017 criou a plataforma “El Rincón de Fabi”, que distribui livros para promover o hábito de leitura.
De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), citando fontes locais, sete policiais invadiram a casa da jornalista e apreenderam o computador e outros equipamentos de trabalho. Desde então não há notícias sobre o que aconteceu com ela e com a família.
Embora Castro não estivesse enfrentando acusações formais, ela havia sido submetida a medidas restritivas, como prisão domiciliar e relatórios diários obrigatórios a uma delegacia de polícia, disse a RSF.
O caso acontece em um momento em que o regime do presidente Daniel Ortega intensificou sua repressão contra os poucos jornalistas independentes que permanecem no país, salientou a organização de liberdade de imprensa:
“A polícia agora revista as casas desses jornalistas sem mandados ou explicações, e os interroga sobre seus colegas, seu trabalho atual e seus empregos anteriores em veículos de mídia independentes.
Os celulares dos jornalistas também são revistados, e os dispositivos eletrônicos de todos os ocupantes da casa são confiscados.
A polícia então ordena que os jornalistas se reportem a eles diariamente, seja por meio de um telefonema ou uma visita à delegacia de polícia mais próxima.”
Onda de repressão à imprensa na Nicarágua: ‘filme de terror’
A Nicarágua está classificada em 163º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2024 da RSF, perdendo apenas para Cuba na região das Américas.
A organização afirma que nos últimos anos, o Estado tem usado “uma infinidade de táticas para silenciar a imprensa”, desde a compra de veículos de comunicação, fechamento de meios de comunicação locais e redução da publicidade estatal até agressões físicas, discursos públicos estigmatizando a imprensa e detenções arbitrárias.
Leia também | Nicarágua: 222 jornalistas, políticos e ativistas perdem cidadania e são deportados para os EUA
O governo de Ortega se tornou tão hostil à mídia independente que pelo menos 263 jornalistas nicaraguenses foram banidos de seu país ou fugiram por medo de sua segurança desde abril de 2018, quando a repressão aumentou , de acordo com estatísticas da Fundação para a Liberdade de Expressão e Democracia (FLED).
“Os relatos vindos de jornalistas nicaraguenses são de cortar o coração, e poderiam ser descritos como um filme de terror”, diz Artur Romeu, diretor da Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina.
Além de alertas contra perseguição, vigilância permanente e detenções arbitrárias, a RSF disse estar agora atenta aos desaparecimentos forçados, apelando ao governo para que se explique sobre o caso de Fabiola Tercero, “e para que ponha fim a esta censura desenfreada”.
Leia também | Venezuela: em 13 anos sob Nicolás Maduro, país recuou 39 posições no ranking global de liberdade de imprensa