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Convite a Trump para falar em convenção de jornalistas negros nos EUA vira crise: ‘plataforma para o candidato’

Donald Trump, em comício na Carolina do Sul em que criticou a mídia e acusou adversários de fake news e desinformação

Donald Trump fala em comício eleitoral em Summerville, Carolina do Sul (Foto: reprodução vídeo Truth Social)

A Associação Nacional de Jornalistas Negros dos EUA (NABJ) está sob uma onda de críticas, incluindo por parte de alguns de seus mais relevantes membros, por ter convidado Donald Trump para falar em um painel durante sua convenção anual, realizada nesta quarta-feira (31) em Chicago. 

O convite dizia que Trump – em plena disputa com Kamala Harris pelo voto dos negros – participaria de uma sessão de perguntas e respostas com jornalistas políticos […], “concentrando-se nas questões enfrentadas pela comunidade negra”. 

Ele acabou ocupando as manchetes ao questionar a identidade negra da opositora, com uma declaração que teve grande repercussão: “ela é negra ou indiana?”

Entre os que reagiram negativamente à ideia de convidar Trump estava a premiada jornalista e co-presidente da convenção Karen Attiah, colunista do Washington Post, que renunciou ao posto dizendo que não foi consultada sobre “a decisão de dar a Trump uma plataforma neste formato”. 

A NABJ escalou para a mesa do debate um time de peso: Rachel Scott, correspondente sênior do Congresso da ABC News; Harris Faulkner, âncora do The Faulkner Focus e co-apresentador do Outnumbered na FOX News; e Kadia Goba, repórter de política do site de notícias Semafor.

São jornalistas experientes que têm habilidade para fazer perguntas difíceis.

Ainda assim, a ideia de dar a Donald Trump a oportunidade de falar a um público estratégico na campanha contra Kamala Harris, a comunidade negra, podendo utilizar esse conteúdo em sua campanha sem controle dos organizadores, dividiu opiniões no momento em que um dos grandes temas da campanha é o destino dos votos dos negros. 

Um dos que se posicionaram contrários ao convite foi Keith Boykin, ex-âncora de TV e comentarista político que trabalhou como assessor da Casa Branca na gestão de Bill Clinton. 

Ele postou no Twitter um vídeo com os “piores momentos” de Donald Trump atacando jornalistas negros famosos, e disse esperar que o candidato seja perguntado sobre isso aproveitando a “plataforma dada pela NABJ”. 

Já Jemele Hill, colaboradora do The Atlantic, escreveu no Twitter / X que “não se pode ter medo de abordar Trump”, e que se ele está concorrendo à presidência e precisa ser tratado como tal.

Para ela, pode ser uma oportunidade para confirmar se ele está realmente ganhando apoio entre os negros, “como a grande mídia continua tentando nos convencer”. 

Presidente da Associação de Jornalistas Negros defende convite a Trump

O presidente da Associação de Jornalistas Negros, Ken Lemon, disse antes do evento estar ansioso para que os participantes da convenção “ouçam o ex-presidente Trump sobre as questões críticas com as quais os membros e seus públicos mais se importam”, e tentou reforçar o caráter imparcial da ideia.

“Embora a NABJ não endosse candidatos políticos como uma organização de jornalismo, entendemos o trabalho sério de nossos membros e acolhemos a oportunidade para que eles façam perguntas difíceis que fornecerão as respostas verdadeiras que os negros americanos querem e precisam saber.”

O evento não foi aberto ao público, mas foi transmitido ao vivo pelas páginas do YouTube e do Facebook da NABJ – e o candidato à presidência poderá selecionar clipes para postar em suas redes sociais, destacando os pontos mais favoráveis da conversa em um contexto que os organizadores não terão como influenciar.

A outra candidata presidencial, a vice-presidente Kamala Harris, também foi convidada a participar da convenção deste ano, segundo a Associação, mas não confirmou presença. Depois da declaração de Trump, ela reagiu furiosa:  “o mesmo e velho show de divisão e desrespeito”.

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