Londres – O príncipe Harry e sua mulher, Meghan Markle, anunciaram uma iniciativa social voltada para um tema espinhoso na esgarçada relação com a família real britânica: o suicídio. 

Em entrevista à rede americana CBS, o casal voltou a falar sobre o que havia revelado na conversa com a apresentadora Oprah Winfrey em 2021  e no documentário da Netflix: que Meghan teve pensamentos suicidas quando se sentiu pressionada dentro da realeza. 

Por meio da fundação que criaram, a Archewell, eles lançaram o projeto  The Parents Network, para dar suporte aos pais cujos filhos cometeram suicídio em consequência de bullying, trauma ou abusos nas mídias sociais. 

Meghan: falando de suicídio para ajudar outras pessoas 

Na conversa com a apresentadora Jane Pauley, âncora do programa Sunday Morning, exibida no domingo, Meghan disse que resolveu falar de seus próprios problemas de saúde mental para ajudar outras pessoas que têm pensamentos suicidas, esperando contribuir para que “ninguém mais se sinta como ela se sentiu”. 

“Quando a pessoa passa por qualquer nível de dor ou trauma, acredito que parte da jornada de cura — certamente parte da minha — é ser capaz de se abrir sobre isso.

“Se expressar o que superei salvar alguém ou encorajar alguém em seu entorno a verificar como essa pessoa realmente está, sem presumir que se as aparências são positivas isso significa que está tudo bem, então vale a pena”.

Ela revelou que se sentiu envergonhada de admitir seus sentimentos para Harry especialmente, por saber das perdas que ele próprio havia sofrido. 

“Mas eu sabia que se eu não dissesse, eu faria … eu simplesmente não queria mais estar viva.”

Apoio de Harry e Meghan a pais de crianças que cometeram suicídio 

A iniciativa The Parents Network foi apresentada pelo príncipe Harry e por Meghan como uma rede de apoio e de conexão entre pais, que dão depoimentos sobre como o uso das redes sociais contribuiu para o suicídio dos filhos. 

O lema é #NoChildLostToSocialMedia (Nenhuma criança perdida para as mídias sociais).

Mulher retratada na tela inicial do projeto The Parents Network, iniciativa contra suicídio infantil de Harry e Meghan

Entre os parceiros da iniciativa está a respeitada ONG britânica NSPCC (National Society for the Prevention of Cruelty to Children), uma das vozes mais eloquentes no lobby para responsabilizar as plataformas digitais pelo conteúdo exibido a crianças. 

O objetivo inicial é oferecer a pais que passaram pela experiência de suicídio dos filhos um espaço para conexão com outros vivendo a mesma situação, compartilhar recursos como guias de uso das redes sociais por crianças e promover encontros virtuais com especialistas. 

Harry falou sobre impacto das redes sociais sobre suicídio infantil

Harry e Meghan se casaram em 2018, e em 2020 romperam com a família real, mudando-se para os EUA, onde vivem hoje.

O casal tem duas crianças, de cinco e três anos. Eles afirmaram que uma das motivações para a iniciativa é protegê-los. 

Harry disse que “uma das coisas mais assustadoras” era saber que qualquer pai pode perder um filho para o suicídio como resultado da exposição a conteúdo prejudicial.

“No passado os pais sempre sabiam o que seus filhos estavam fazendo, desde que estivessem em casa. Pelo menos eles estavam seguros, certo? 

“E agora, eles podem estar na sala ao lado em um tablet ou em um telefone, e podem estar descendo por esses buracos. E antes que você perceba, dentro de 24 horas, eles podem estar tirando suas próprias vidas.”

Na entrevista à CBS, Meghan pediu que as pessoas que assistiam se colocassem no lugar dos que perderam filhos para o suicídio. 

“E se fosse minha filha, e se fosse meu filho? Meu filho ou minha filha que chega em casa, que está alegre, que eu amo, e um dia, bem debaixo do meu teto, nossas vidas inteiras mudam por causa de algo que estava completamente fora do nosso controle?”

Harry e Meghan expuseram publicamente a questão da saúde mental 

A declaração da duquesa de Sussex sobre pensamentos suicidas, em 2021,  foi um baque na reputação da família real, que sob Elizabeth II mantinha a política “não reclame, não explique”. Os problemas e crises deveriam ficar em casa. 

Harry e Meghan quebraram esse padrão ao saírem do país em 2020, alegando que não mais conseguiam viver sob as regras da realeza e perseguição dos jornais tabloides. 

Um ano depois deram uma entrevista à apresentadora Oprah Winfrey em que Meghan disse ter pensado em tirar a própria vida. 

A declaração gerou desconforto e reação dos apoiadores da monarquia, incluindo jornalistas influentes.

O apresentador Piers Morgan, então âncora do programa matinal da rede ITV, disse não acreditar que Meghan teria tido pensamentos suicidas, gerando uma onda de críticas. Ele acabou sendo desligado da emissora. 


| O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece ajuda e aconselhamento sobre saúde mental e suicídio pelo telefone 188.