A Relatora Especial de liberdade de expressão e direitos humanos da ONU, Irene Khan, protestou nesta terça-feira (6) em Genebra contra o ataque do exército de Israel que deixou mortos o jornalista da rede árabe Al Jazeera Ismail Al-Ghoul e o cinegrafista Rami Al-Rifi, ocorrido em Gaza no dia 1º de agosto. 

“Condeno veementemente o ataque deliberado de Israel a dois jornalistas em Gaza, o que se soma ao número já assustador de repórteres e profissionais da mídia mortos nesta guerra”, disse Khan.

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), pelo menos 113 profissionais de imprensa perderam a vida no conflito desde outubro de 2023, tornando este período o mais mortal para o jornalismo desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 1992. 

Israel acusou jornalista morto de ser membro do Hamas

Al Ghoul e Al Refee cobriram as consequências do assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh, diante de sua casa em Gaza, uma hora antes de serem mortos.

A Al Jazeera disse em sua cobertura ao vivo que Al Ghoul e Al Refee estavam deixando o local após uma ordem israelense para evacuar a área quando foram atingidos, e que acredita que os jornalistas foram deliberadamente alvejados.

Israel mais tarde confirmou a morte do jornalista Al-Ghoul e o acusou de ser um agente do Hamas.

“Como muitos jornalistas mortos em Gaza, Al-Ghoul estava usando uma jaqueta de imprensa claramente identificada quando um míssil de drone de Israel atingiu o veículo”, salientou Irene Khan. 

“O exército de Israel parece estar fazendo acusações sem nenhuma evidência substancial como uma licença para matar jornalistas, o que é uma violação total do direito internacional humanitário”, completou. 

Jornalistas protegidos por direito humanitário internacional

A especialista observou que jornalistas desfrutam de proteção como civis sob o direito humanitário internacional e que ataques deliberados são crimes de guerra.

De acordo com o direito humanitário internacional, jornalistas só perdem seu status civil se tomarem parte direta em hostilidades. Israel não forneceu evidências concretas neste ou em outros casos, salientou Irene Khan. 

Ela se disse “consternada” com os ataques contra a rede Al Jazeera, de propriedade do governo do Catar, incluindo o assassinato deliberado de seus jornalistas em Gaza, a proibição total do canal em Israel e a “cruel campanha de difamação” contra a emissora.

“O ataque de Israel à Al Jazeera é um ataque à liberdade de imprensa, em flagrante desrespeito aos direitos humanos internacionais e ao direito humanitário”, disse ela.

O CPJ documentou o assassinato de pelo menos sete jornalistas e profissionais da mídia afiliados à Al Jazeera desde o início da guerra entre o Hamas e Israel.

Mortes de jornalistas na guerra Hamas – Israel impunes 

Irene Khan também expressou preocupação com o fato de que nenhum dos casos de jornalistas mortos no território palestino ocupado foi investigado de forma transparente, nem os supostos perpetradores foram levados à justiça por Israel. 

“Peço novamente às autoridades israelenses que iniciem investigações rápidas, completas, independentes e imparciais sobre este e outros assassinatos, e adotem todas as medidas necessárias para proteger jornalistas no Território Palestino ocupado, de acordo com o direito internacional humanitário e de direitos humanos”, disse Khan.

Ela cobrou também que o Tribunal Penal Internacional aja rapidamente para processar os assassinatos de jornalistas em Gaza como crimes de guerra.

E apelou à comunidade internacional para considerar urgentemente o uso de mecanismos internacionais para investigar crimes contra jornalistas em Gaza. 

A organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras já protocolou três pedidos de investigação de crimes de guerra contra jornalistas na Corte de Haia.