Londres – Nem inteligência artificial, nem cortes de verba, nem liberdade de imprensa: de acordo com a edição 2024 do relatório State of Media, baseado em uma ampla pesquisa feita pela empresa Cision PR, o que mais preocupa jornalistas continua sendo a desconfiança do público na imprensa.
E os efeitos da crise de sustentabilidade financeira da indústria sobre as redações, que em anos recentes apareciam em segundo lugar entre as preocupações sob uma perspectiva setorial, cederam espaço para a necessidade de adaptação para as mudanças na forma de consumir notícias.
No entanto, a falta de recursos lidera entre os problemas que mais afetaram os entrevistados em nível individual.
O estudo State of Media examina anualmente as percepções de jornalistas sobre a atividade e sobre relacionamento com assessores de comunicação, dando elementos para construir relações sólidas a partir do entendimento da realidade das redações.
No início deste ano, a Cision havia apresentado os resultados de outra pesquisa concentrada nesse relacionamento.
No State of Media o foco é ampliado, abrangendo as questões setoriais da indústria. Foram ouvidos mais de 3 mil jornalistas da América do Norte, Europa e Ásia.
Desconfiança na imprensa: o desafio de manter a credibilidade
Ao serem perguntados sobre o maior desafio do jornalismo em 2023, 42% dos entrevistados apontaram “manter a credibilidade como fonte de notícias confiável e combater acusações de ‘fake news'”, a exemplo do vinha ocorrendo em anos anteriores.
Quase empatada com a desconfiança na imprensa vem a necessidade de o setor se alinhar ao comportamento do público consumidor de informação, com 41% dos votos. Em seguida, com distância considerável (36%), aparece a falta de pessoal e de recursos.
Em 2023, a deficiência de estrutura ocupava o segundo lugar entre os problemas do ecossistema de mídia. O terceiro era a diminuição das receitas publicitárias e da circulação, que agora figura em quarto lugar na lista de preocupações setoriais.
A inteligência artificial foi mencionada como desafio setorial, mas apenas em 6º lugar, citada por 26% dos jornalistas entrevistados – que talvez não tenham percebido ainda o impacto que as mudanças na busca do Google terão sobre o jornalismo.
Antes dela emergiu outro temor mais imediato: a competição com influenciadores e criadores de conteúdo – dentre eles jornalistas que deixaram as redações para criar newsletters, podcasts e canais no YouTube.
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Sustentabilidade financeira impacta métricas de sucesso
Quando a pergunta mudou para o que mais afeta os profissionais diretamente, seis em cada 10 apontaram o enxugamento e os recursos reduzidos. O segundo problema é associado: equilibrar a necessidade de fazer matérias importantes com a pressão para impulsionar os negócios.
A disputa com a desinformação online ocupa um importante 3º lugar – 33% dos entrevistados a mencionaram.
Se no passado jornalistas de redação ficavam distantes do que se passava no comercial e achavam que seu trabalho seria medido pelo impacto social, hoje a realidade é outra.
Segundo a pesquisa da Cision, o número de “furos” aparece em um nada honroso quinto lugar na lista do que os jornalistas acham que as empresas em que trabalham consideram métricas de sucesso – 20% o citaram. Ganhar prêmios vem em seguida, com 19%.
No topo está o engajamento, incluindo tráfego de link interno gerado, inscrições em newsletters, interações sociais e tempo de permanência. Foi citado com o métrica número um por 47% dos entrevistados.
Gerar links para fontes de receita (assinaturas e publicidade) aparece em seguida, apontado por 33%. E compartilhamento, que leva tantos jornalistas a batalharem por atenção nas redes sociais, vem em terceiro, mencionada por 24%.
Por isso, estar nas redes não é uma opção. Apenas 3% dos participantes da pesquisa da Cision disseram que não a utilizam no trabalho. Dos que as utilizam, 77% o fazem para promover conteúdo, enquanto 63% interagem com o público diretamente.
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