Londres – Jornalismo sempre foi estressante, mas se tornou ainda mais na era das redes sociais, em que o assédio digital a profissionais de imprensa é apontado como uma das principais causas de burnout – uma realidade que se estende a outras atividades que envolve exposição pública, como política e ativismo social. 

Um documento publicado em abril pelo PEN America, braço da organização global que defende a liberdade de escrever, aponta abordagens consideradas promissoras para ajudar a lidarem com o abuso online, úteis para qualquer tipo de organização. 

O trabalho foi produzido em conjunto com Susan McGregor, pesquisadora da Universidade Columbia a partir de entrevistas com jornalistas e análises de experiências de atividades estressantes.

Simplesmente desconectar não é solução. O trabalho reconhece que pela natureza da atividade jornalística, assim como de outras funções profissionais, ficar offline não é realista. 

E admite que o abuso online, que pode ser “profundamente prejudicial para o bem-estar emocional, psicológico e físico”, nunca será erradicados.

Viktorya Vilk, diretora de segurança digital e liberdade de expressão do PEN América e co-autora do relatório, salienta que embora os ataques contra jornalistas pareçam muitas vezes orgânicos, individuais e pessoais, eles também podem ser parte de campanhas coordenadas, com o objetivo de intimidar, desacreditar e silenciar vozes na indústria do jornalismo e minar a liberdade de imprensa.

Isso se aplica também a políticos e membros de organizações de defesas de causas sociais e ambientais, muitas vezes desagradando os que são atingidos por suas atividades e usam o ataque digital para silenciá-los

Apoio dos pares para lidar com assédio digital que leva ao burnout

Diante do inevitável, a organização aponta o apoio dos pares como instrumento para mitigar os danos causados pelo abuso online.

No sentido mais geral, “apoio de pares” é simplesmente o apoio emocional e psicológico prestado fora de um contexto clínico, como descreve o trabalho:

“Ele pode assumir diversas estruturas e formatos. Em modelos de apoio direto, um colega treinado normalmente trabalha individualmente com alguém que procura apoio. Em modelos de pequenos grupos, o foco de um facilitador treinado é orientar os participantes do grupo no apoio mútuo.

Embora não seja obrigatório em todos os modelos, muitos programas e organizações de apoio entre pares operam sob o “paradigma da experiência compartilhada”, um conceito da psicologia em que apoiadores (no modelo direto) e participantes (no modelo de grupo) têm em comum a profissão, a identidade, a formação ou uma experiência vivida.”

Embora os jornalistas valorizem o apoio profissional e a orientação das suas redes existentes, o relatório conclui que muitos ainda lutam para encontrar espaços onde possam discutir abertamente o abuso online.

Por isso, recomenda às empresas jornalísticas que experimentem modelos bem-sucedidos em outras profissões com alto nível de estresse, outro conselho que vale para qualquer tipo de organizçaão. 

“Os jornalistas disseram repetidamente que preferem procurar o apoio de colegas quando confrontados com estresse profissional.

Ao funcionarem como um ambiente onde se pode compartilhar experiências e desfrutar de assistência mútua, os grupos de apoio entre pares representam um meio prático e acessível de lidar com o assédio online”, diz Susan McGregor, da Universidade Columbia. 

As recomendações do Pen America

• Construir redes de apoio de pares em pequenos grupos em toda o setor, o que aumentaria os benefícios a freelancers, jornalistas de origens sub-representadas e redações com poucos recursos

• Compensar financeiramente e/ou fornecer reconhecimento profissional aos facilitadores que atuem em redes de apoio existentes

• Fornecer mais estrutura, formação e recursos as redes de apoio já existentes para que possam satisfazer melhor as necessidades dos jornalistas que enfrentam abusos online

*O documento completo pode ser visto aqui.

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