Londres – O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU reagiu à nova lei imposta pelo Talibã no Afeganistão, que eleva as restrições à imprensa e determina normas de comportamento que incluem a proibição de mulheres falarem, rezarem ou cantarem em público. 

“Isso é totalmente intolerável”, disse em nota Volker Türk, chefe da agência de direitos humanos, instando o governo afegão a revogar imediatamente o novo regulamento, sancionado pelo líder Talibã em 31 de julho e publicado no site do Ministério da Justiça na semana passada.

De acordo com o Alto Comissário, a longa lista de disposições repressivas que a lei impõe às mulheres reforça uma série de restrições existentes “que violam seus direitos humanos fundamentais, incluindo liberdade de movimento e de expressão e o direito de viver livre de discriminação.”

A “Lei para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício” determina que as mulheres cubram completamente seus corpos da cabeça aos pés, incluindo seus rostos.

Elas não poderão mais se movimentar em um transporte, incluindo um táxi, a menos que estejam acompanhadas por um parente do sexo masculino. O taxista pode ser punido se desrespeitar a norma. 

A voz feminina é considerada ‘íntima’, com potencial de incentivar o ‘vício’, e por isso não mais poderá ser ouvida em público.

A partir de agora, as mulheres afegãs também não podem olhar diretamente para homens com os quais não estão relacionadas por sangue ou casamento. 

Barreiras para mulheres no jornalismo no Afeganistão

As restrições impostas a mulheres podem levá-las de vez para fora do jornalismo, já que se não houver ressalvas para profissionais de mídia, elas não poderão falar em rádios ou TVs.

E a lei aperta ainda mais o controle sobre a liberdade de imprensa, com a proibição de publicar imagens de seres humanos, presumivelmente também de autoridades, aponta a ONU. 

Um dos artigos também determina o banimento de máquinas de escrever ou “objetos semelhantes” e rádios. 

Outras restrições, que são vagamente definidas, afetam outros direitos humanos, como o direito de praticar livremente a religião.

A lei concede aos agentes do Estado amplos poderes discricionários para deter pessoas, impor punições ou encaminhar casos aos tribunais.

Segundo o Alto Comissariado da ONU, o novo regulamento “viola claramente as obrigações do Afeganistão à luz da legislação internacional de direitos humanos”. 

“Desempoderar e tornar metade da população do Afeganistão invisível e sem voz só vai piorar os direitos humanos e a crise humanitária no país.

Em vez disso, este é um momento para reunir todo o povo do Afeganistão, independentemente de seu gênero, religião ou etnia, para ajudar a resolver os muitos desafios que o país enfrenta.”

Lei aumenta restrições impostas desde a tomada do país pelo Talibã

Roza Otunbayeva, representante especial da ONU para o Afeganistão, afirmou que a nova lei estende as “restrições inaceitáveis” aos direitos das mulheres e meninas já impostas pelo Talibã desde que o grupo islâmico tomou o poder no país, há três anos.  

“É uma visão angustiante para o futuro do Afeganistão”, disse ela em um comunicado no domingo.