LondresPreso pela polícia da França quando desembarcou de seu jato em Paris em agosto, o fundador e CEO do Telegram, Pavel Durov, usou sua plataforma para se manifestar pela primeira vez sobre as acusações da justiça francesa, que classificou de “equivocadas”. 

Durov, que nasceu na Rússia, vive em Dubai e ganhou cidadania francesa em 2021, admitiu em uma longa postagem nesta quinta-feira (5) que o Telegram “não é perfeito”, mas contestou a acusação de que a rede social seja um “paraíso anárquico”, como afirmam as autoridades. 

O executivo de 39 anos que dirige a plataforma com criptografia de ponta a ponta foi preso após investigação da promotoria pública da capital da França sobre crimes que incluem transações financeiras ilícitas, abuso sexual infantil, fraude e recusa em comunicar informações às autoridades.

CEO do Telegram passou quatro dias preso 

Após quatro dias preso, Durov foi libertado em 29 de agosto sob fiança de 5 milhões de euros, mas está proibido de sair da França e tem que se apresentar em uma delegacia duas vezes por semana. 

No post, ele diz que a prisão foi “surpreendente”, já que o Telegram tem um representante legal na União Europeia e que as autoridades francesas tinham várias maneiras de contactá-lo para solicitar esclarecimentos – aproveitando para salientar seus laços com o poder, um constrangimento para Emmanuel Macron. 

“Como cidadão francês, eu era um convidado frequente no consulado francês em Dubai.

Há algum tempo, quando solicitado, eu pessoalmente os ajudei a estabelecer uma linha direta com o Telegram para lidar com a ameaça do terrorismo na França.”

Após a prisão de Durov, a imprensa francesa noticiou que o presidente teve vários encontros com o CEO do Telegram, alguns fora da agenda oficial, até que ele ganhasse a cidadania na qualidade de “estrangeiro emérito”, dada a pessoas que contribuem para a influência da França no exterior. 

Preso sob lei ‘pré-smartphone’

O CEO do Telegram reclamou de a França ter usado “uma lei da era pré-smartphone” para prender um executivo por crimes cometidos por terceiros na plataforma que ele comanda, o que considera “abordagem equivocada” e que pode afetar a inovação. 

“Desenvolver tecnologia já é difícil o suficiente.

Nenhum inovador criará novas ferramentas se souber que pode ser pessoalmente responsabilizado por um possível abuso dessas ferramentas.”

Mas Pavel Durov reconhece falhas, atribuindo-as ao tamanho da plataforma: 

“O aumento repentino de usuários do Telegram, para 950 milhões, causou dores de cabeça que tornaram mais fácil para criminosos abusarem de nossa plataforma.”

“Mas as alegações em algumas mídias de que o Telegram é uma espécie de paraíso anárquico são absolutamente falsas”, completou o executivo, afirmando que o serviço de mensagens remove “milhões de postagens e canais prejudiciais todos os dias” e publica relatórios de transparência, além de manter diálogo com ONGs para processar solicitações. 

Ele diz ter assumido como meta pessoal melhorar a segurança do Telegram, e que já iniciou o processo internamente, esperando que os “eventos de agosto” tornem melhor a rede e a indústria de redes sociais como um todo. 

Embate entre privacidade e segurança invocado pelo CEO do Telegram 

O CEO do Telegram afirmou ainda está preparado para deixar mercados onde não exista consenso com os reguladores locais sobre privacidade e segurança, pois a rede social “não trabalha por dinheiro”, e que estabelecer o o equilíbrio certo entre privacidade e segurança não é fácil. 

“Somos movidos pela intenção de proporcionar o bem e defender os direitos básicos das pessoas, particularmente em lugares onde esses direitos são violados.

É preciso conciliar as leis de privacidade de leis locais e as leis da União Europeia. É preciso levar em conta as limitações tecnológicas.

Como plataforma, queremos que os processos sejam consistentes globalmente, ao mesmo tempo em que não sejam objeto de abuso ​​em países com um estado de direito fraco.”

Pavel Durov salientou a linha de argumentação dos que defendem a criptografia de ponta a ponta em redes sociais, uma questão que divide opiniões por dar margem a crimes ao mesmo tempo em que assegura liberdade de expressão a pessoas perseguidas em regimes autoritários.

Mas deixou a porta aberta para conciliar. 

“Estamos comprometidos em nos envolver com reguladores para encontrar o equilíbrio certo. Sim, defendemos nossos princípios: nossa experiência é moldada por nossa missão de proteger nossos usuários em regimes autoritários.

Mas sempre estivemos abertos ao diálogo.”

Especialistas apontam que a prisão de Pavel Durov muda os parâmetros e coloca outros CEOs de empresas de mídia digital sob risco maior de serem responsabilizados pessoalmente.