A Nicarágua deportou 135 presos políticos para a Guatemala nesta quinta-feira (5), incluindo os jornalistas Víctor Ticay e Fabiola Tercero, como resultado de um acordo negociado entre os EUA e o regime de Daniel Ortega. 

Tercero, uma jornalista independente de Manágua que liderava uma plataforma para promover o hábito de leitura, estava desaparecida desde 12 de julho de 2024, depois que a polícia fez uma batida em sua casa, e seu paradeiro era desconhecido. 

Ticay, um repórter da emissora de TV privada Canal 10, foi preso no dia 6 de abril de 2023 depois de transmitir ao vivo uma celebração da Páscoa católica, desafiando a proibição de expressões públicas de religião imposta pelo governo Ortega. 

Ele foi condenado a oito anos de prisão em agosto de 2023 sob acusações de conspiração para minar a integridade nacional e disseminar notícias falsas.

Presos políticos e jornalistas da Nicarágua poderão seguir para os EUA

Segundo nota oficial da Casa Branca, entre os presos da Nicarágua “considerados ameaça para o regime autoritário de Daniel Ortega e Rosario Murillo” e libertados nesta quinta-feira estão leigos católicos, estudantes e 13 membros da organização evangélica Mountain Gateway, sediada no Texas. 

A partir da Guatemala, os presos políticos e jornalistas da Nicarágua poderão pedir asilo político nos EUA ou em outros países. 

“A libertação dos jornalistas Víctor Ticay e Fabiola Tercero pela Nicarágua nos traz alívio, mas eles nunca deveriam ter sido presos, pois estavam simplesmente fazendo seu trabalho como jornalistas”, disse Cristina Zahar, coordenadora do Comitê de Proteção a Jornalistas na América Latina. 

“A Nicarágua deve parar de perseguir jornalistas e suas famílias por suas reportagens e permitir que a mídia opere sem a ameaça constante de detenção ou exílio.”

A Casa Branca pediu ao governo nicaraguense em seu comunicado que “cesse a prisão e a detenção arbitrárias de seus cidadãos apenas pelo exercício de suas liberdades fundamentais”.

Um relatório publicado pela agência de Direitos Humanos das Nações Unidas (ACNUDH) na terça-feira documenta a deterioração da situação dos direitos humanos na Nicarágua no ano passado, incuindo tortura de presos políticos por meio de abuso sexual e choques elétricos.

O documento afirma que mais de 5 mil entidades, universidades privadas e organizações da sociedade civil foram fechados por ordens do governo de Daniel Ortega. 

Onda de repressão à imprensa na Nicarágua: ‘filme de terror’

A Nicarágua está classificada em 163º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2024 da RSF, perdendo apenas para Cuba na região das Américas. 

A organização afirma que nos últimos anos, o Estado tem usado “uma infinidade de táticas para silenciar a imprensa”, desde a compra de veículos de comunicação, fechamento de meios de comunicação locais e redução da publicidade estatal até agressões físicas, discursos públicos estigmatizando a imprensa e detenções arbitrárias. 

No ano passado, o país deportou mais de 200 jornalistas de uma só vez para os EUA, confiscando sua cidadania nicaraguense.