Londres – O governo do Afeganistão baixou um novo pacote de restrições à liberdade de imprensa que proíbe transmissões ao vivo de programas políticos na TV, entrevistas com analistas que não estejam em uma lista de 68 nomes pré-aprovados e críticas ao grupo fundamentalista islâmico Talibã, que há três anos comanda o país sob um regime de repressão severa à imprensa.
Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), no dia 21 de setembro o Ministério da Informação e Cultura do Talibã convocou executivos de mídia na capital, Cabul e emitiu “uma lista sem precedentes de restrições”.
Em nota, o grupo de apoio ao jornalismo Afghanistan Journalists Support Organization lamentou profundamente as novas regras e cobrou da comunidade internacional e entidades relacionadas que “responderem decisivamente a essa opressão e adotem medidas eficazes para apoiar a mídia independente e a liberdade de expressão no Afeganistão”.
Pacote do Talibã proíbe críticas a políticas e líderes
O CPJ conversou com jornalistas de Cabul, sobre as novas medidas. Eles falaram sob a condição de anonimato, por medo de represálias
O Ministério do governo Talibã ordenou que jornalistas afegãos que produzem programas de discussão política diária busquem sua aprovação todas as manhãs para os tópicos e participantes propostos.
Os programas devem então ser pré-gravados e aprovados pelo Talibã antes da transmissão.
Conteúdo contrário às políticas do Talibã ou crítico ao grupo ou seus oficiais deve ser removido, disseram os jornalistas ao CPJ.
Após a reunião, o Ministério emitiu uma diretriz de uma página detalhando as novas regras.
De acordo com a organização de liberdade de imprensa, o texto confirma que jornalistas interessados em entrevistar um especialista que não esteja na lista do Talibã devem solicitar a permissão do Ministério da Informação.
Se qualquer uma das regras for violada, o Talibã responsabilizará o gerente de mídia, o responsável pela mesa de programas políticos, o editor-chefe e o convidado, e “eles serão tratados de acordo”, adverte a diretriz.
Um terceiro jornalista do Afeganistão, também falando sob condição de anonimato, disse ao CPJ que o Talibã já havia começado a impedir transmissões ao vivo, ordenando verbalmente aos executivos da mídia que não as transmitissem nos dias anteriores à reunião de 21 de setembro.
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Talibã ‘busca transformar mídia em ferramenta de propaganda’, diz ONG
“O Talibã deve reverter imediatamente suas restrições draconianas à mídia e parar de arrastar o Afeganistão de volta à Idade da Pedra”, disse o coordenador do CPJ para a Ásia, Beh Lih Yi.
“Essas novas restrições sinalizam o fim das liberdades fundamentais da imprensa no Afeganistão e buscam transformar a mídia em uma ferramenta de propaganda do Talibã. Isso deve ser interrompido, de uma vez por todas.”
Em agosto, o governo Talibã baixou um pacote de medidas restritivas da liberdade de imprensa e de expressão que incluem a proibição de mulheres se expressarem em público.
No início de setembro, o grupo que comanda o Afeganistão interrompeu as transmissões em Cabul da popular rede de televisão Afghanistan International, sediada em Londres, na sequência de um pedido para que a enissora fosse “boicotada“.
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