Londres – Uma análise sobre investimentos em propaganda eleitoral nos EUA nas duas últimas semanas feita pelo grupo de pesquisas Wesleyan Media Project revelou que Kamala Harris está bem à frente de Donald Trump na corrida publicitária e “esmagando” o opositor na presença online.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (27), ao mesmo tempo em que pesquisas eleitorais recentes indicam vantagem da candidata do Partido Democrata nas intenções de voto.
Os gastos com anúncios pró-Harris superaram os pró-Trump de forma significativa nesse período, mostrando que a vice-presidente está com uma estratégia de comunicação mais robusta, de acordo com a análise do grupo que faz parte da Wesleyan University, em Connecticut (EUA).
O levantamento revela que as forças pró-Harris investiram quase US$ 73 milhões (R$ 397 milhões) em 73 mil comerciais de televisão em todo o país.
Já a campanha de Trump gastou menos de US$ 45 milhões (R$ 244 milhões) em cerca de 52 mil anúncios no mesmo período.
Esse declínio na publicidade pró-Trump nas últimas duas semanas abriu uma margem considerável para Harris na batalha pelo espaço midiático, salientam os pesquisadores.
“A publicidade política raramente faz uma grande diferença em uma campanha presidencial, mas seu potencial de persuasão aumenta quando um lado está no ar e o outro não”, disse Travis Ridout, um dos diretores do Wesleyan Media Project, em um comunicado apresentando os resultados.
Kamala Harris lidera a propaganda e as pesquisas contra Trump
A última atualização da pesquisa da ABC News, nesta sexta-feira (27) mostra Kamala Harris com 48,6% das intenções de voto e Trump com 45,7%.
O relatório do Wesleyan Media Project destaca que Harris recebeu apoio publicitário considerável de grupos como o FF PAC, LCV Victory Fund, Climate Power Action e Somos PAC, que juntos investiram US$ 19 milhões (R$ 103 milhões), resultando em mais de 12 mil exibições de anúncios de TV entre 9 e 22 de setembro.
Esses números representam 16% de todos os comerciais pró-Harris exibidos durante o período analisado.
A campanha de Trump, por sua vez, foi responsável pela maioria dos anúncios promovendo sua candidatura, com o apoio de grupos como Make America Great Again e Preserve America PAC.
No entanto, seus aliados patrocinaram apenas 10 mil inserções a um custo de US$ 18 milhões (R$ 98 milhões),, colocando-o em desvantagem tanto em volume quanto em exposição publicitária.
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Propaganda digital: Harris ‘esmagando’ Trump
Além da vantagem na televisão, Harris também lidera a publicidade digital, onde sua presença continua crescendo, de acordo como o estudo
A força de sua campanha nas plataformas digitais, combinada com o apoio de grupos de ação política, parece estar ampliando a visibilidade de sua candidatura, em contraste com a recente retração da campanha de Trump nesse campo, apontam os pesquisadores.
“Embora Harris esteja ‘dando uma lavada’ em publicidade em todos os meios, sua vantagem online nas últimas duas semanas é realmente impressionante”, disse Erika Franklin Fowler, codiretora do Wesleyan Media Project.
“Ela mais do que dobrou seus gastos nos canais da Meta e do Google, passando de US$ 18,7 milhões (R$ 101 milhões) em nossa última análise para US$ 40,1 milhões (R$ 218 milhões).
E está esmagando Trump – o candidato que dedicou metade de seu orçamento de publicidade na campanha de 2016 ao digital – em gastos gerais, com enormes margens no Facebook e no Instagram em particular.”
Economia e inflação dominam a pauta publicitária de Harris e Trump
O conteúdo dos anúncios veiculados pelas campanhas de Kamala Harris e Donald Trump revela uma convergência em temas essenciais, com a economia no centro do debate.
A análise do Wesleyan Media Project demonstra que tanto Harris quanto Trump estão focando suas mensagens nas questões mais urgentes para os eleitores: inflação, economia e impostos.
A campanha de Harris, apoiada por grupos como o FF PAC, segue uma linha de comunicação fortemente centrada na economia, destacando políticas para conter a inflação e lidar com questões fiscais.
A escolha de temas reflete a crescente preocupação dos eleitores com o custo de vida e a estabilidade financeira.
Essa ênfase visa atrair eleitores que veem a economia como o principal critério para decidir seu voto, de acordo com o relatório.
Segurança pública vira foco de grupos pró-Trump na propaganda
No entanto, os pesquisadores constataram que no lado do partido Republicano, embora a campanha de Trump também esteja alinhada com essas questões econômicas, seus aliados parecem estar mudando de estratégia recentemente.
Grupos como MAGA, Inc. e Preserve America PAC estão investindo em uma narrativa mais voltada para a segurança pública, embora com um volume de anúncios menor do que o observado em pesquisas anteriores.
“Essa mudança de foco sugere uma tentativa de diversificar o discurso, tentando captar eleitores preocupados com a criminalidade e a segurança em suas comunidades”. salienta o relatório.
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A estratégia de propaganda de Harris: equilíbrio entre ataques e promoção
A estratégia de comunicação de Kamala Harris e Donald Trump também se diferencia no tom e na abordagem dos anúncios.
O Wesleyan Media Group constatou que Trump continua evitando focar exclusivamente na promoção de sua própria candidatura, preferindo uma mistura de ataques diretos a Harris e anúncios que contrastam suas políticas com as da vice-presidente.
Nas últimas semanas, segundo o Wesleyan Media Project, houve um aumento no número de anúncios de ataque promovidos por Trump em relação ao período anterior, embora os anúncios de contraste entre ele e Harris ainda constituam uma parte significativa de seu volume publicitário, superando os números de agosto.
A campanha de Harris, por outro lado, mantém uma abordagem mais equilibrada, veiculando uma combinação de anúncios promocionais, de ataque e de contraste desde que se lançou candidata após a desistência de Joe Biden, em julho.
Embora Harris tenha reservado cerca de 25% de seus anúncios para ataques diretos a Trump no último mês, a maior parte de sua publicidade está focada em mostrar as diferenças entre suas propostas e as do ex-presidente.
“Esse foco em contraste parece ser uma estratégia direcionada a eleitores indecisos, ao enfatizar suas visões opostas em questões centrais como a economia e segurança pública”, apontam os pesquisadores.
Com as eleições se aproximando, as campanhas intensificam suas táticas de confronto, mas também se esforçam para delinear claramente as diferenças entre os candidatos, salienta o relatório.
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