Londres – Depois de uma onda de celebridades como Taylor Swift e Bruce Springsteen declarando apoio a Kamala Harris na disputa pela presidência dos EUA contra Donald Trump, agora foi a vez da revista Vogue anunciar sua posição, em uma capa da edição digital de novembro com a atual vice-presidente intitulada “the candidate for our times” (a candidata para os nossos tempos).
É a segunda vez que Harris estrela uma capa da Vogue, revista dirigida pela lendária editora-chefe Anna Wintour, jornalista britânica que inspirou o filme “O Diabo Veste Prada”. A primeira, há três anos, gerou controvérsia por mostrar a vice-presidente de tênis.
Desta vez a imagem foi feita pela renomada fotógrafa Anne Leibovitz retratando a candidata de terninho marrom, sorriso discreto e olhar confiante.
Vogue anunciou capa com Kamala Harris nas redes sociais
Embora a capa da revista impressa de novembro seja com a cantora Billie Eilish, a edição digital com Kamala Harris a menos de um mês das eleições é mais um empurrão em sua campanha em um momento decisivo.
Anna Wintour é eleitora do Partido Democrata e chegou a promover eventos de arrecadação de fundos para a campanha de Joe Biden.
A nova edição digital da Vogue com o perfil da candidata foi apresentada nas redes sociais nesta sexta-feira (11) acompanhada de uma mensagem com tom de heroísmo:
“Raramente indivíduos são convocados para atos de salvamento nacional, mas em julho a vice-presidente Kamala Harris recebeu uma desses chamados.
Com a decisão do presidente Joe Biden de desistir de sua campanha de reeleição, o mundo olhou para Harris com esperanças e dúvidas”.
Mas o texto não deixa muitas dúvidas sobre a posição da revista, com a palavra ‘dúvida’ do post soando mais como um convite para conhecer melhor a candidata do que para descobrir possíveis vulnerabilidades.
O perfil de Kamala Harris é assinado por Nathan Heller, que também escreve para a revista The New Yorker.
Ele começou acompanhando a candidata Democrata em um comício na cidade de Ripon, em Wisconsin, onde o Partido Republicano foi fundado.
Perguntada sobre qual serão as suas primeiras ligações se vencer a eleição, marcada para 5 de novembro, ela aproveitou a deixa para uma mensagem política endereçada à massa de eleitores e não à elite que lê a Vogue:
“Uma das minhas primeiras ligações — fora da família — será para a equipe que está trabalhando comigo em nosso plano para reduzir custos para o povo americano.”
Reportagem da Vogue revela vida em família e opiniões políticas
A reportagem descreve como Kamala Harris recebeu a notícia da desistência de Joe Biden – quando tomava café com as duas filhas – revelando detalhes de sua vida em família que a aproximam de pessoas comuns.
Heller destacou também o que a candidata diz ter sido um dos momentos mais emocionantes de sua trajetória como vice-presidente: uma visita ao Instituto Pasteur em Paris para conhecer pesquisas de ponta sobre o coronavírus.
Foi mais um momento família da entrevista: a mãe de Harris, Shyamala, que morreu de câncer há 12 anos, trabalhou nos laboratórios do Pasteur. E ela conta como era a convivência com os pais a irmã e os avós.
Embora – no estilo Vogue – os looks assinados por grandes estilistas sejam mencionados, o texto reforça em vários pontos a imagem de classe média de Kamala Harris, que antes de se tornar vice-presidente foi Senadora pela Califórnia após ocupar o cargo de procuradora-geral do estado conhecido por suas políticas progressistas.
E explora também suas opiniões sobre temas quentes na campanha, mas sem muito questionamento. Um deles foi a guerra em Gaza.
Harris foi cuidadosa, dizendo que embora não pudesse prever o futuro, ela se concentraria em criar “’incentivos’ para a redução da tensão e um ‘caminho’ para a estabilidade” e falou sobre “o direito de Israel de se defender” e o “direito dos palestinos à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação”.
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Kamala com Oprah e o ‘caminho em direção à luz’
O tom positivo da reportagem segue até o fim, quando a Vogue relata a participação de Kamala Harris no programa da apresentadora Oprah Winfrey, outra que havia declarado apoio à candidata Democrata.
O último parágrafo reproduz a fala de Winfrey ao apresentar a convidada e o momento em que ela sobe ao palco.
“Em nenhum outro país na Terra a história dela poderia se desenrolar da maneira que aconteceu.
De uma filha de imigrantes a irmã mais velha, de funcionária do McDonald’s — há esperança para todos vocês — a promotora distrital, de esposa e ‘Mamala’, a senadora e a vice-presidente — por favor, deem as boas-vindas…”
A multidão se levanta, o ajudante de palco dá um sinal de que ela pode ir, e Harris corre para a frente, em direção à luz.”
Vogue não deu capa com Melania Trump
Apesar de circular para um público restrito, a Vogue tem influência nas redes sociais, e a capa criou mais visibilidade positiva para Kamala Harris na reta final da campanha.
No X, antigo Twitter, a postagem apresentando a nova edição ultrapassou 1 milhão de visualizações, enquanto outros posts acumulam em torno de 10 mil.
Além da visibilidade dada à adversária, a Vogue deve ter irritado Donald Trump também por outro motivo: a revista nunca fez uma reportagem de capa com a primeira-dama, Melania, como era uma tradição até então – mas retomou a prática com Jill Biden em 2021.
Trump chegou a tuitar dizendo que “os esnobes elitistas da mídia de moda deixaram a mais elegante primeira-dama da história dos Estados Unidos fora das capas por quatro anos consecutivos”. E acrescentou que ela era “a maior de todos os tempos”.
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