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Teorias da conspiração: conheça cinco perfis dos oportunistas que as disseminam sem acreditar nelas 

Alex Jones, americano já condenado por teoria da conspiração, é citado como exemplo de oportunista sem crença no que propaga

Alex Jones, americano já condenado por teorias da conspiração, é citado como exemplo de oportunista que lucra com elas (foto: YouTube)

Londres – A motivação de quem espalha teorias da conspiração nem sempre está relacionada a uma crença verdadeira nessas ideias, mas sim a interesses específicos, o que torna ainda mais difícil combatê-las com estratégias tradicionais de apenas apontar os erros sem explicar bem o que pode estar por trás de desinformação e notícias falsas. 

A professora de psicologia social H. Colleen Sinclair, da Universidade da Louisiana, uma das autoras do livro Taking Conspiracies to Extremes, destaca que muitos disseminadores dessas teorias são oportunistas.

De acordo com Sinclair, eles buscam gerar conflito, caos, recrutar seguidores, lucrar ou simplesmente chamar atenção, sem necessariamente acreditar no que propagam, e acabam criando uma legião do que ela chamou de “idiotas úteis”, pessoas que ajudam a difundir conspirações sem fundamento. 

Em um artigo sobre o livro no portal The Conversation, a professora alerta que até mesmo os oportunistas podem acabar acreditando nas mentiras que espalham.

A professora detalha cinco tipos de disseminadores de teorias da conspiração, presentes tanto nas redes sociais quanto na mídia tradicional.

Conheça os disseminadores de teorias da conspiração sem crença real no que propagam

Conspiracionistas ‘buscadores de atenção’

Entre eles estão os “conspiracionistas buscadores de atenção”, que muitas vezes nem leem o que compartilham.

Ela afirma que entre 7% e 20% dos usuários de redes sociais compartilham conteúdo que sabem ou desconfiam ser falso.

Frases típicas de seus posts incluem perguntas como “será que é verdade?” ou afirmações como “pode ser algo próximo da realidade”.

O objetivo é participar de discussões ou ganhar curtidas e compartilhamentos, explica Sinclair.

Conspiracionistas comerciais – os oportunistas

Outro grupo destacado por Sinclair é o de pessoas que usam de teorias da conspiração para ganhar dinheiro, por meio de vendas diretas ou pelo aumento de influência e seguidores nas redes. 

Quando pesquisadores rastrearam a origem da maioria dos autores de posts antivacina durante a crise da Covid, muitos tinham interesses financeiros em perpetuar essas narrativas.

Alex Jones, por exemplo, famoso conspiracionista americano que foi condenado a pagar indenizações milionárias por mentiras sobre o massacre na escola de Sandy Hook, se gabou de que seus seguidores “comprariam qualquer coisa” que ele tentasse vender.

E ele vende: livros, cursos e muito mais em seus canais na internet e programa de rádio. 

Sinclair também recordou que empresas de mídia, como a Fox News, perpetuaram mentiras sobre fraudes eleitorais em 2020 para manter seus espectadores engajados, mesmo sem acreditar no que estavam promovendo.

E as redes sociais, segundo a professora, relutam em combater conspirações porque sabem que elas atraem mais cliques.

Conspiracionistas do caos – os trolls

A professora de psicologia também aponta que pessoas com grande “necessidade de caos” são mais propensas a compartilhar teorias da conspiração indiscriminadamente, sem necessariamente acreditar nelas.

Esses são os trolls que, segundo a pesquisadora, compartilham conteúdo falso com intenções maliciosas.

Um exemplo foi após uma tentativa de assassinato contra Donald Trump, em que um troll inventou o nome e usou a foto de um blogueiro italiano para criar uma narrativa falsa que foi vista mais de 300 mil vezes.

O objetivo aparentemente era assediar o blogueiro cuja foto foi roubada. 

Conspiracionistas combativos – os desinformantes

Governos também são conhecidos por criar e disseminar teorias da conspiração. Sinclair menciona como a Rússia, em 1903, fabricou o falso documento “Protocolos dos Sábios de Sião”, que promovia a ideia de uma conspiração judaica para dominar o mundo.

Em um exemplo mais recente, a China utilizou inteligência artificial para criar uma teoria conspiratória sobre os incêndios em Maui, em 2023.

Sinclair ainda aponta que a Rússia, famosa por manipular ambos os lados de questões polêmicas, usa mentiras para polarizar e desestabilizar.

Recentemente, plataformas digitais têm derrubado redes de desinformação apontadas como apoiadas por países como Rússia, China e Irã mirando na campanha eleitoral dos EUA. 

Conspiracionistas radicais – os extremistas

Há também os integrantes de movimentos radicais, que usam teorias da conspiração como “isca” para atrair novos membros.

Segundo Sinclair, eles experimentam várias teorias até encontrarem uma que funcione como “portal” para a radicalização.

Segundo dados da empresa Blackbird.AI, durante os protestos contra o lockdown em 2020, extremistas publicaram milhões de postagens conspiratórias, muitas vezes com o objetivo de incitar violência.

O grupo Boogaloo Bois, por exemplo, gerou mais de 610 mil tweets, dos quais 58% visavam provocar e radicalizar. Apesar disso, os próprios membros admitiram que não acreditavam nas conspirações que espalhavam.  

Integrantes do grupo parrticiparam da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e admitiram que não endossavam realmente a conspiração de que a eleição havia sido roubada, mas estavam lá para “causar problemas com o governo federal.”

Os perigos de espalhar teorias conspiratórias sem perceber 

A professora de psicologia social alerta para a importância de ser cauteloso com o que se lê e compartilha, tentando entender a motivação por trás da postagem.

“Esses oportunistas não acreditam em tudo que divulgam, mas querem que você acredite”, salienta. 

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