Londres – O professor sueco Staffan Lindberg apresentou na Trust Conference estudos que evidenciam a forte relação entre a disseminação da desinformação, o crescimento da polarização e a erosão da democracia, num processo que se repete em diferentes países ao longo do tempo.
A Trust Conference é um dos mais importantes fóruns globais sobre confiança nas instituições. A edição 2024 foi realizada no final de outubro em Londres.
Lindberg, que participou de um dos painéis, é uma das maiores autoridades no estudo da democracia.
Ele é Diretor do V-Dem Institute, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, que produz e analisa o maior conjunto global de dados sobre democracia, com mais de 31 milhões de informações sobre eleições de 202 países, desde 1789.
A conclusão é que a tecnologia veio tornar mais eficiente a antiga estratégia de “dividir para conquistar”.
O professor explicou que a disseminação da desinformação é usada buscando a polarização do eleitorado, para assim dividí-lo e daí passar a controlá-lo:
‘Aspirantes a ditadores espalham desinformação em casa e no exterior.’
Segundo Lindberg, o mundo nunca experimentou uma quantidade tão grande de países em processo de se tornarem autocracias, ou em erosão de suas democracias, como neste momento.
O auge foi em 2022, quando eram 47 nessa situação, o maior número registrado desde 1900 pelo instituto.
Confira o que o Prof. Lindberg destacou sobre o relatório mais recente do instituto, referente à situação da democracia no mundo em 2023.
Declínio da democracia
“Há um dramático declínio da democracia em nível mundial ao longo dos últimos 15 anos. Ao longo desse período, nossas pesquisas demonstraram, a cada ano, mais gente vivendo sob autocracias do que em democracias”.
Desinformação = polarização
“A desinformação é espalhada intencionalmente pelos aspirantes a ditadores, que sabem que ela funciona para atingir seus propósitos.
Eles e suas equipes trabalham para multiplicar a desinformação e assim aumentar exponencialmente a polarização para níveis tóxicos.
Isso leva a um estágio em que as pessoas começam a considerar como inimigos os que pensam politicamente de forma diferente. Inimigos de quem elas são e do que defendem.”
Polarização = erosão da democracia
“Quando a polarização chega ao nível em que os adversários políticos não são só meus inimigos, mas – e aí está a jogada – também do povo e da nação, está implantada a metáfora de guerra.
O que você faz com os inimigos da nação? Sabemos disso desde a década de 1930.
O caminho para a autocratização está aberto, seguindo um dos processos mais evidentes em nossos estudos ao longo do tempo, independentemente do país pesquisado”.
Sete em cada dez pessoas vivendo em autocracias
Segundo o último Relatório da Democracia divulgado pelo Instituto V-Dem, cerca de 5,7 bilhões de pessoas, ou 71% da população mundial, vivem em regimes autocráticos. É o 15° ano consecutivo em que o número supera o dos que vivem em democracias.
Uma parcela de 44% reside em autocracias eleitorais, que incluem países populosos como Índia, Paquistão, Bangladesh, Rússia, Filipinas e Turquia.
A outra parcela, de 27%, vive em autocracias fechadas, em países de população numerosa como China, Ira, Mianmar e Vietnam.
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