A abertura da COP29, a cúpula climática das Nações Unidas, trouxe a atenção do mundo para as violações de direitos humanos no Azerbaijão, país islâmico localizado na região do Cáucaso, motivando organizações de liberdade de imprensa a pressionarem o governo de Ilham Aliyev a libertar 13 jornalistas detidos – um deles, justamente por cobrir questões ambientais.

Conhecido por ser um grande exportador de petróleo e gás, o Azerbaijão também é um dos maiores repressores da liberdade de imprensa e aparece em 164º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2024 da Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

A exploração de petróleo e gás faz do Azerbaijão uma nação rica, mas altamente poluente. Enquanto muitos especialistas já apontaram a contradição desse país ser sede da COP29, outros alertam para os impactos na cobertura jornalística ambiental.

Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, cerca de 15 jornalistas foram presos devido ao seu trabalho em 2023.

Entre os 13 que seguem detidos está a jornalista Nargiz Absalamova. Ela investigava questões ambientais, mas foi oficialmente acusada de “contrabando de moeda estrangeira” em suposto recebimento de doações.

Absalamova era repórter do Abzas Media, um dos poucos veículos de mídia independentes do país. Em junho do ano passado, ela cobriu um protesto de moradores de Söyüdlü, uma vila no oeste do Azerbaijão afetada por resíduos tóxicos de uma mina de ouro.

O protesto era contra a construção de um lago artificial para receber águas contaminadas com cianeto e arsênico da mineração. Os manifestantes foram duramente reprimidos pela polícia e três jornalistas, incluindo Absalamova, foram detidos.

O colega dela, Elmaddin Shamilzade, chegou a ser torturado e ameaçado de violência sexual em uma tentativa de forçá-lo a dar a senha do seu celular para que os policiais excluíssem as fotos do protesto.

Absalamova pode pegar até 12 anos de prisão, de acordo com informações das ONGs que monitoram seu caso. Ela sendo impedida de receber visitas de sua família.

Além dela, outros quatro jornalistas da Abzas Media, incluindo o editor-chefe Sevinj Vagifgizi estão presos. À RSF, Vagifgizi relatou que todos sofrem maus-tratos na prisão.

“O tratamento dado à imprensa pelo Azerbaijão é absolutamente incompatível com os valores de direitos humanos esperados de um país anfitrião das Nações Unidas”, diz Gulnoza Said, coordenador do programa Europa e Ásia Central do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).

“O CPJ apela às autoridades azerbaijanas para que libertem todos os jornalistas presos injustamente e apoiem a liberdade de imprensa, e para que a ONU garanta que grandes eventos não sejam realizados em países com péssimos registros de direitos humanos e liberdade de imprensa”.

A RSF também apontou a responsabilidade da ONU em escolher o Azerbaijão para sediar a COP29:

“Como podemos aceitar que um petroestado que aprisiona jornalistas independentes seja o anfitrião de negociações que determinarão o futuro do clima global?”, questiona Jeanne Cavelier, chefe do escritório da RSF na Europa Oriental e Ásia Central.

“A RSF apela à comunidade internacional para exigir que as autoridades do Azerbaijão libertem os jornalistas presos, acabem com as violações flagrantes da liberdade de imprensa e se comprometam a proteger o jornalismo independente.”