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Clima extremo, conteúdo extremista: relatório mostra como desinformação climática ameaça combate ao aquecimento global

Cobertura jornalística e repercussão nas redes sociais não correlaciona crise climática com impactos à saúde (Imagem: TheDigitalArtist/Pixabay/CC)

Londres – Um novo relatório da Coalizão de Ação Climática Contra a Desinformação (CAAD) revela que as plataformas de mídia social, como X (anteriormente Twitter) e YouTube, estão fracassando em conter a disseminação de desinformação climática, o que representa uma ameaça crescente à segurança pública e aos esforços globais de combate às mudanças climáticas.

O relatório, publicado dias antes da COP29 e  intitulado “Clima Extremo, Conteúdo Extremo: Como as Big Techs Facilitam a Desinformação Climática”, analisa as tendências de desinformação online durante eventos climáticos extremos, como incêndios florestais e furacões, e expõe como a publicidade de combustíveis fósseis continua a florescer em plataformas como as da Meta. 

O documento destaca a crescente dificuldade que pesquisadores enfrentam ao tentar acessar dados de plataformas de mídia social. Mudanças nas políticas de acesso a APIs, implementadas por empresas como Meta e X, tornaram a coleta de dados para pesquisas significativamente mais cara e complexa, prejudicando os esforços para monitorar e combater a disseminação da desinformação climática.

Relatório destaca uso de incêndios e desastres naturais para espalhar desinformação 

Um dos exemplos apresentados no relatório é a instrumentalização de incêndios florestais e outros desastres naturais para espalhar desinformação e teorias da conspiração.

Durante os incêndios de 2024, alegações infundadas de que haviam sido foram iniciados deliberadamente por “armas de energia direcionada” ou por figuras como Oprah Winfrey e Dwayne “The Rock” Johnson para fins de “apropriação de terras” se espalharam rapidamente no X e no YouTube.

Essas teorias da conspiração, frequentemente amplificadas por contas verificadas com milhões de seguidores, desviam a atenção das causas reais dos incêndios florestais, como as mudanças climáticas e o manejo florestal inadequado.

Da mesma forma, durante os furacões Helene e Milton nos Estados Unidos, a desinformação se proliferou no TikTok, alegando falsamente que a FEMA (Agência Federal de Gerenciamento de Emergências) estava retendo ajuda ou confiscando suprimentos.

Essas alegações infundadas levaram a ameaças contra os trabalhadores da FEMA e outros socorristas, destacando como a desinformação climática pode ter consequências reais e perigosas.

O relatório também observa que até mesmo assistentes virtuais como a Alexa da Amazon, inadvertidamente, contribuíram para a disseminação de informações imprecisas sobre furacões, alimentando ainda mais as teorias da conspiração.

‘Greenwashing’ nas redes 

O estudo da CAAD critica a falta de transparência em torno da publicidade de combustíveis fósseis no Meta, afirmando que as empresas de combustíveis fósseis gastam milhões de dólares em anúncios online, muitas vezes utilizando táticas de “greenwashing” para promover uma imagem ambientalmente responsável, enquanto continuam a investir em combustíveis fósseis.

A dificuldade em obter dados completos sobre esses gastos publicitários, devido à falta de categorização adequada dos anúncios, impede uma análise abrangente do problema, dizem os pesquisadores. 

Recomendações do estudo para conter desinformação climática 

O relatório faz uma série de recomendações para combater a disseminação da desinformação climática online.

  • As plataformas de mídia social são instadas a reconhecer publicamente a desinformação climática como uma grande ameaça e adotar uma definição clara do problema.
  • O relatório também pede medidas de moderação de conteúdo mais robustas, incluindo a rotulagem de conteúdo falso ou enganoso, e a implementação de mecanismos de resposta rápida para lidar com a desinformação durante eventos climáticos extremos.
  • Em relação à publicidade de combustíveis fósseis, o relatório recomenda que as plataformas classifiquem, por padrão, todos os anúncios dessas empresas como relacionados a “questões sociais, eleições ou política” (SIEP), permitindo maior escrutínio por parte de pesquisadores e órgãos de vigilância.

A CAAD defende ainda que a proibição total da publicidade de combustíveis fósseis, a exemplo do que ocorreu com a indústria do tabaco, deveria ser considerada uma medida de saúde pública global.

A organização enfatiza a necessidade urgente de ação para combater a desinformação climática.

O argumento é de que ela mina a confiança pública na ciência climática e impede a implementação de políticas eficazes para mitigar os efeitos do aquecimento global. 

“As plataformas de mídia social, em particular, têm a responsabilidade de tomar medidas concretas para garantir a integridade da informação em suas plataformas e impedir que a desinformação climática continue a se propagar sem controle”, afirma o estudo. 

O documento completo pode ser visto aqui


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