Londres – Os brasileiros são usuários ávidos de plataformas digitais para se informar sobre política, mas a confiança nas notícias encontradas nas redes sociais sobre o assunto é baixíssima.
Essa contradição, revelada pelo relatório “O que as pessoas querem? Visões sobre plataformas e a esfera pública digital em oito países” do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo da Universidade de Oxford, revelou que enquanto globalmente 41% dos entrevistados utilizam mídias sociais para notícias políticas, no Brasil este número salta para 54%, ultrapassando até mesmo o uso de mecanismos de busca.
No entanto, a confiança nas mídias sociais como fonte de informação política no Brasil é de apenas 10%, o menor índice entre os oito países pesquisados e significativamente inferior à média global, de 30%.
O estudo conduzido pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo e publicado nesta semana abrangeu oito países: Argentina, Brasil, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.
A seleção desses países teve como objetivo comparar os hábitos e percepções em democracias que adotaram plataformas digitais de maneiras distinta.
O relatório aponta para uma “ambivalência de plataforma” generalizada, onde o uso frequente das plataformas digitais coexiste com a desconfiança em relação à qualidade da informação política.
No Brasil, essa ambivalência é ainda mais acentuada, sugerindo que a desconfiança na informação política veiculada online é um fator importante.
Essa desconfiança se estende a outras plataformas além das redes sociais: apenas 37% dos brasileiros confiam em redes de vídeo e 29% em aplicativos de mensagens como o WhatsApp para notícias políticas.
Os mecanismos de busca, por outro lado, inspiram um pouco mais de confiança, com 46% dos brasileiros considerando-os confiáveis.
A confiança nas fontes notícias no mundo
Globalmente, mecanismos de busca como Google e Bing despontam como o meio mais utilizado para notícias (45%), seguidos pelas mídias sociais (41%) e redes de vídeo (30%).
Apesar da popularidade, a confiança nas mídias sociais como fonte de informação política é baixa (30%), similar à desconfiança em IA generativa (27%).
Essa desconfiança se reflete na percepção de que as mídias sociais contribuem mais para a divisão do que para a união da sociedade (-13), embora políticos (-55), jornalistas (-29) e a mídia de notícias (-27) sejam considerados ainda mais divisivos.
A maioria dos entrevistados reconhece os benefícios das plataformas, como a facilidade de conexão com amigos e familiares (66%) e a busca por informações (63%).
Ao mesmo tempo, há uma grande preocupação com a disseminação de desinformação (87%), o uso de IA para criar conteúdo falso (84%) e o tratamento de dados pessoais por empresas de tecnologia (80%).
Comparando o Brasil com o panorama global, outras diferenças se destacam:
- A percepção de que as plataformas digitais recebem pouca atenção dos formuladores de políticas e legisladores é mais forte no Brasil, com mais de 40% dos brasileiros expressando essa opinião, contrastando com países como o Japão, onde a maioria considera a atenção “adequada”.
- A crença de que as plataformas de mídia social devem ser responsabilizadas por informações falsas ou enganosas é mais alta no Brasil (74%) em comparação aos EUA (65%) e Reino Unido (75%).
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