Londres – A queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, após uma ofensiva fulminante das forças rebeldes, marca o fim de mais de duas décadas de um governo caracterizado pela repressão brutal e sistemática à liberdade de imprensa, com o país listado na 179ªa posição entre 180 países no  Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). 

Sob o regime de Assad, a mídia estatal atuava como um megafone da propaganda governamental, divulgando a ideologia do partido Baath e silenciando qualquer voz dissidente. Jornalistas independentes enfrentavam um ambiente hostil e perigoso, marcados por censura, perseguição, prisões arbitrárias, tortura e até mesmo assassinatos.

A fuga do país se tornou a única opção para muitos, buscando refúgio da violência e da opressão.  Mas o histórico do HTS, grupo que derrubou o regime, não aponta para um cenário mais favorável. 

O relatório anual da RSF denuncia a Síria como um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo. A revolução de 2011, que desencadeou a guerra civil na Síria, aprofundou ainda mais a divisão no ambiente jornalístico do país.

O governo proibiu a entrada de veículos de comunicação internacionais e jornalistas freelancers no país, restringindo ainda mais o acesso à informação.

A falta de treinamento e independência financeira forçou muitos jornalistas sírios a permanecerem sob a tutela política do governo, perpetuando o ciclo de censura e propaganda, segundo a organização de liberdade de imprensa. 

O aparato legal sírio também foi utilizado para silenciar vozes dissidentes na mídia. A lei de crimes cibernéticos de 2021, que recebeu emendas em 2022, permite que as autoridades processem jornalistas por “espalhar notícias falsas online que prejudicam o prestígio da nação”.

Além disso, a lei da mídia de 2011, a lei de proteção contra a revolução de 1965, a lei antiterrorismo de 2012 e o código penal, em geral, representam ameaças à liberdade de imprensa, diz a RSF. 

As sanções econômicas impostas à Síria também impactaram o setor de mídia, afetando tanto os veículos pró-governo quanto os independentes.

Jornalistas sem credenciamento do governo enfrentam dificuldades para encontrar trabalho, enquanto a mídia no exílio luta para garantir financiamento.

O que pode acontecer com a imprensa após queda de Assad na Síria

A queda do regime de Assad abre uma nova era para a Síria, com a esperança de um futuro onde a liberdade de imprensa seja respeitada e a mídia possa desempenhar seu papel crucial em uma sociedade democrática.

No entanto, a polarização da sociedade síria e a presença de diversos grupos rebeldes com diferentes agendas representam desafios para a construção de uma nova ordem.

Embora líderes globais como o presidente da França, Emannuel Macron; o chanceler alemão Olaf Scholz e a vice-premiê britânica Angela Rayner tenham saudado o fim do regime, há incertezas sobre o futuro da Síria sob o comando do grupo HTS, que tem suas raízes na al-Qaeda e um passado violento.

Nos últimos anos, eles têm tentado se reposicionar como uma força nacionalista, e suas mensagens recentes têm um tom diplomático e conciliador.

No entanto, muitos não estão convencidos sobre se a liberdade de imprensa será um pilar fundamental do novo sistema e ainda é cedo para dizer se isso vai acontecer.