O TikTok tinha conhecimento da exploração sexual infantil em sua plataforma de transmissão ao vivo, TikTok LIVE e optou por não tomar medidas para combater a prática devido aos lucros que obtinha com o serviço, de acordo com documentos revelados pela Procuradoria do estado americano de Utah.
As revelações fazem parte de um processo aberto em junho de 2024 contra a rede social, e vinham sendo mantidas sob segredo de justiça. Mas o órgão decidiu torná-las públicas nesta sexta-feira (3).
Uma investigação interna da empresa, chamada “Projeto Meramec”, a que a Procuradoria teve acesso, comprovou que centenas de milhares de menores de idade burlavam as restrições de idade da plataforma e ficavam vulneráveis a abusadores.
O funcionamento da exploração sexual infantil no TikTok
Os documentos contidos na ação judicial detalham como o TikTok combinou sua funcionalidade de transmissão ao vivo com a monetização, criando um ambiente propício para a troca de moeda virtual por atos sexuais e ilegais, de acordo com a Procuradoria.
Adultos pagavam a jovens usuários para se despirem, posarem e dançarem provocativamente em troca de “diamantes”, a moeda virtual do TikTok que pode ser convertida em dinheiro real.
Documentos internos da empresa e confirmações por parte de seus funcionários obtidos pela Procuradoria demonstram que o TikTok lucrava com a exploração sexual de crianças, embolsando até metade de cada transação financeira intermediada na plataforma.
Em um comunicado, o Procurador-Geral de Utah, Sean Reyes, classificou o modelo de negócios do TikTok como “depravado” e “desprezível”, expressando choque com a “flagrante desconsideração pela segurança das crianças na plataforma”.
Reyes afirmou que a exploração online de menores tem crescido exponencialmente, levando a problemas como depressão, isolamento e até mesmo suicídio, vício e tráfico.
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Algoritmo do TikTok favorecendo conteúdo explícito
A denúncia também aponta que o algoritmo do TikTok favorece e impulsiona transmissões ao vivo compensadas por presentes em moeda virtual, muitas vezes associadas à exploração sexual e lavagem de dinheiro.
Essas transmissões, rotuladas como “TopLives”, exibidas no topo das páginas dos usuários, expõem crianças a conteúdos perigosos sem qualquer aviso.
A revelação do “Projeto Meramec” se deu após uma longa batalha judicial na qual o TikTok se recusou a cumprir as intimações da Procuradoria para apresentar documentos.
Um juiz de Utah decidiu que a empresa desacatou a justiça. Somente após a apresentação dos documentos exigidos pelo tribunal ficou evidente a extensão dos perigos que a plataforma representava para as crianças.
O suposto lucro do TikTok se estende além da exploração sexual infantil, disse a Procuradoria.
A denúncia alega que o TikTok realizou outra investigação interna chamada “Projeto Júpiter” que concluiu que seu recurso de transmissão ao vivo, junto com sua moeda virtual, permitiu que criminosos lavassem dinheiro, vendessem drogas e financiassem grupos terroristas, como o Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIL).
O TikTok criticou a divulgação dos documentos, alegando preocupações com confidencialidade.
A rede chinesa afirma que o processo do estado de Utah ignora medidas protetivas adotadas pela rede social, e acusa a Procuradoria de ter usado citações enganosas e documentos desatualizados e fora de contexto.
A íntegra dos documentos divulgados pode ser vista aqui.
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Segunda ação movida por Utah contra o TikTok
Essa é a segunda ação judicial movida pela Procuradoria Geral de Utah contra o TikTok.
Em outubro de 2023, o Estado entrou com uma ação de proteção ao consumidor alegando que a empresa desenvolveu e implementou intencionalmente recursos viciantes para prender jovens usuários em um ciclo infinito de uso do aplicativo.
O Governador de Utah, Spencer Cox, afirmou que a denúncia revelada demonstra a “profundidade da depravação do modelo de negócios do TikTok”, e que a exploração e o lucro com a exploração de crianças são “inconcebíveis”.
As revelações chegam em má hora para o TikTok, que enfrenta o risco de banimento nos EUA após a aprovação de uma lei que exige sua venda para uma empresa americana.
A holding chinesa ByteDance, dona da rede social, tenta reverter a decisão e ganhou o apoio de Donald Trump, que está tentando “uma solução política” para o impasse até 19 de janeiro, prazo final para a venda ou proibição do TikTok nos EUA.
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