Londres – Após o soldado israelense Yuval Vagdani fugir do Brasil para escapar de uma investigação federal por crimes de guerra, o exército de Israel impôs novas restrições à cobertura de militares em combate e a postagens em redes sociais.
As regras, anunciadas em comunicado à imprensa na quarta-feira (9), surgem em meio a crescentes preocupações sobre o risco de ações legais contra soldados que viajam para o exterior por alegações de envolvimento em crimes de guerra em Gaza.
A decisão ocorre em um contexto de proliferação de conteúdo nas redes sociais postado pelos próprios soldados, o que tem sido utilizado por organizações pró-palestinas para identificá-los e acusá-los de crimes de guerra.
O porta-voz militar israelense, tenente-coronel Nadav Shoshani, disse que a nova diretriz visa proteger os soldados e garantir que eles estejam seguros de ações movidas por ativistas anti-Israel em todo o mundo.
As novas medidas incluem:
- Soldados com patente de coronel ou inferior não poderão mostrar seus nomes completos ou rostos em entrevistas com a mídia, semelhantes às regras que já existem para pilotos e membros de unidades de forças especiais.
- Os entrevistados não devem ser vinculados a um evento de combate específico em que participaram.
Oficiais superiores à patente de brigadeiro-general, ou oficiais cujos nomes já são públicos, ainda poderão mostrar seus rostos e nomes completos em entrevistas.
Antes de qualquer entrevista com a mídia, membros do Departamento de Direito Internacional do Gabinete do Advogado Geral Militar farão um briefing com os oficiais, e a filmagem precisará ser aprovada pelo Departamento de Censura Militar e Segurança da Informação das Forças de Defesa de Israel.
As medidas tornam ainda mais restritas as condições para a prática do jornalismo na guerra em Gaza.
Israel não permite a entrada de correspondentes estrangeiros, a não ser em raras missões organizadas pelo próprio exército, e é acusado de ataques deliberados a jornalistas palestinos.
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Regras para soldados de Israel viajarem ao exterior
As Forças de Defesa de Israel não proíbem os soldados de viajar para o exterior, mas conduzirão uma “avaliação de risco” para as tropas que serviram em Gaza antes de aprovar seu pedido.
Os reservistas que lutaram em Gaza estão sendo aconselhados a verificar primeiro com o Ministério das Relações Exteriores o nível de perigo em qualquer país que desejarem visitar.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel também alertou os israelenses sobre as postagens nas redes sociais a respeito de seu serviço militar, e para o fato de que organizações anti-Israel podem explorar essas postagens para iniciar processos legais contra eles.
A Fundação Hind Rajab, com sede na Bélgica, está liderando uma campanha para identificar soldados israelenses através de vídeos nas redes sociais e alertar as autoridades internacionais quando esses soldados viajam para o exterior.
A fundação, que busca justiça por Hind Rajab, uma menina de seis anos morta em Gaza em janeiro, já apresentou evidências de supostos crimes de guerra ao Tribunal Penal Internacional contra 1 mil israelenses.
Shoshani acrescentou que, de acordo com as regras militares existentes, os soldados já não deveriam postar vídeos e outras imagens de zonas de guerra nas mídias sociais, embora essa regra nem sempre seja seguida, considerando o grande número de soldados.
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