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‘Vitória monumental’: príncipe Harry ganha indenização e desculpas de tabloide por invasão de privacidade dele e de Diana

Príncipe Harry compareceu ao tribunal em junho de 2024 para prestar depoimento em processo (reprodução Sky News)

Príncipe Harry compareceu ao tribunal em junho de 2024 para prestar depoimento em processo (reprodução Sky News)

Londres – Em uma vitória significativa para o príncipe Harry, o News Group Newspapers (NGN), editor do tabloide The Sun e do extinto News of the World, admitiu em um acordo extra-judicial ter cometido atos ilegais contra o príncipe e sua falecida mãe, a princesa Diana. O acordo encerra a batalha legal de Harry contra o grupo jornalístico britânico de Rupert Murdoch.

Anunciado pelo advogado de Harry nesta quarta-feira (22), um dia após a data marcada para o início do julgamento, o acordo inclui um “pedido de desculpas completo e inequívoco” do NGN a Harry por “invasão telefônica, vigilância e uso indevido de informações privadas por jornalistas e detetives particulares” no jornal extinto News of the World.

A editora também concordou em pagar indenização por “danos substanciais” a Harry, valor que poderia chegar a 10 milhões de libras. Mas o príncipe quer mais: ao classificar o acordo como “vitória monumental”, ele pediu uma investigação do governo sobre as práticas dos tabloides. 

A admissão de culpa do NGN marca um momento crucial na luta de Harry contra a imprensa sensacionalista britânica.

A família real sempre foi contrária a entrar com processos contra jornais, preferindo fazer acordos diretos. Harry quebrou a prática, chegando a ir pessoalmente a audiências para relatar detalhes do hackeamento de que foi vítima, assim como sua mãe, a princesa Diana. 

Grupo dono do tabloide de Sun, que fez acordo com Harry, é um dos maiores conglomerados de mídia do mundo

O News Group Newspapers (NGN) pertence ao magnata da mídia Rupert Murdoch. O conglomerado inclui a Fox News, o Wall Street Journal e o The Times de Londres. 

O processo movido por Harry alegava que jornalistas dos tabloides do grupo, incluindo alguns que hoje ocupam altos argos executivos no grupo de Murdoch e no Washington Post, recorreram a métodos ilegais para invadir a privacidade do príncipe entre 1996 e 2011.

Ele e a mulher, Meghan, se transformaram em guerreiros contra os tabloides e já venceram outras causas contra a imprensa sensacionalista britânica. 

Um deles foi contra o grupo Mirror Newspapers, que pagou uma gorda indenização a Harry em 2024 após condenado no tribunal. 

Figuras de destaque da mídia, incluindo Murdoch e seu filho James, Rebekah Brooks (CEO da News UK), Victoria Newton (editora do The Sun) e Will Lewis (editor e CEO do Washington Post) foram acusados de que sabiam e até de que tentaram encobrir atividades ilegais. 

Os advogados do príncipe alegam que Lewis, que assumiu no ano passado o posto no jornal americano pertencente a Jeff Bezos sob forte reação da equipe, esteve envolvido em um esquema para ocultar evidências de hackeamento.

Se fosse adiante, o julgamento também contaria com o depoimento de outras celebridades, como Hugh Grant, Sienna Miller e Lily Allen, além de figuras proeminentes como o ex-primeiro-ministro Gordon Brown e a ministra da justiça, Shabana Mahmood.

O acordo firmado evita o forte desgaste na reputação do grupo e dos jornalistas envolvidos nas acusações. 

Como funcionava o hackeamento 

O esquema de hackeamento telefônico, central no processo do príncipe Harry contra o grupo de Rupert Murdoch, envolvia a interceptação ilegal de mensagens de correio de voz.

Jornalistas do News of the World, tabloide pertencente ao grupo que teve que fechar as portas após o escândalo vir a público, invadiam as caixas postais de celebridades, figuras públicas e até mesmo membros da família real britânica para obter informações privadas e sensacionalistas1.

A prática consistia em acessar remotamente as caixas postais de telefones celulares e ouvir as mensagens deixadas, sem o conhecimento ou consentimento dos proprietários das linhas.

Essa invasão de privacidade permitia que os jornalistas obtivessem informações exclusivas, que eram usadas para publicar matérias que atraiam a atenção do público e aumentassem as vendas dos jornais.

Embora o foco inicial da ação tenha sido a questão da invasão de privacidade por meio de grampos telefônicos, as alegações de Harry se estendiam a uma gama mais ampla de atividades ilegais, incluindo obtenção de informações por meio de fraude (“blagging”) e busca ilegal por documentos, como extratos bancários e registros médicos.

A contratação de detetives particulares para espionar o príncipe e pessoas próximas a ele também fez parte da reclamação judicial contra o grupo editor do tabloide que acabou preferindo fazer um acordo com Harry. 

A defesa do grupo de Murdoch argumentou em sua defesa que muitas das histórias sobre a vida privada de Harry foram obtidas legitimamente por meio de denúncias anônimas ou de pessoas que contataram a redação em troca de dinheiro, uma prática comum entre os tabloides britânicos. 

Celebridades e os tabloides sensacionalistas

O acordo firmado com Harry pelo grupo dono do tabloide The Sun preservou os envolvidos diretamente na causa e a imprensa sensacionalista de forma mais ampla, já que um julgamento pode trazer à tona detalhes chocantes sobre as práticas dos tabloides e o papel de figuras poderosas da mídia na suposta invasão da privacidade de celebridades e figuras públicas.

Cerca de 40 outros reclamantes, muitos deles celebridades, fizeram anteriormente acordos com o grupo de Murdoch, a maioria dissuadida de ir a julgamento pelas enormes contas legais que poderiam ser impostas a eles, mesmo após uma vitória no tribunal.

O ator Hugh Grant aceitou um acordo no ano passado, após descobrir que poderia ser responsabilizado por £ 10 milhões em custas. 

O príncipe Harry entrou com a ação judicial contra a NGN em 2019, na mesma semana em que sua esposa, Meghan Markle, entrou com seu próprio processo contra o Mail on Sunday por suposta violação de privacidade e violação de direitos autorais.

Ela ganhou a causa, sem fazer acordo. 

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