Londres – Em uma vitória significativa para o príncipe Harry, o News Group Newspapers (NGN), editor do tabloide The Sun e do extinto News of the World, admitiu em um acordo extra-judicial ter cometido atos ilegais contra o príncipe e sua falecida mãe, a princesa Diana. O acordo encerra a batalha legal de Harry contra o grupo jornalístico britânico de Rupert Murdoch.
Anunciado pelo advogado de Harry nesta quarta-feira (22), um dia após a data marcada para o início do julgamento, o acordo inclui um “pedido de desculpas completo e inequívoco” do NGN a Harry por “invasão telefônica, vigilância e uso indevido de informações privadas por jornalistas e detetives particulares” no jornal extinto News of the World.
A editora também concordou em pagar indenização por “danos substanciais” a Harry, valor que poderia chegar a 10 milhões de libras. Mas o príncipe quer mais: ao classificar o acordo como “vitória monumental”, ele pediu uma investigação do governo sobre as práticas dos tabloides.
A admissão de culpa do NGN marca um momento crucial na luta de Harry contra a imprensa sensacionalista britânica.
A família real sempre foi contrária a entrar com processos contra jornais, preferindo fazer acordos diretos. Harry quebrou a prática, chegando a ir pessoalmente a audiências para relatar detalhes do hackeamento de que foi vítima, assim como sua mãe, a princesa Diana.
Grupo dono do tabloide de Sun, que fez acordo com Harry, é um dos maiores conglomerados de mídia do mundo
O News Group Newspapers (NGN) pertence ao magnata da mídia Rupert Murdoch. O conglomerado inclui a Fox News, o Wall Street Journal e o The Times de Londres.
O processo movido por Harry alegava que jornalistas dos tabloides do grupo, incluindo alguns que hoje ocupam altos argos executivos no grupo de Murdoch e no Washington Post, recorreram a métodos ilegais para invadir a privacidade do príncipe entre 1996 e 2011.
Ele e a mulher, Meghan, se transformaram em guerreiros contra os tabloides e já venceram outras causas contra a imprensa sensacionalista britânica.
Um deles foi contra o grupo Mirror Newspapers, que pagou uma gorda indenização a Harry em 2024 após condenado no tribunal.
Figuras de destaque da mídia, incluindo Murdoch e seu filho James, Rebekah Brooks (CEO da News UK), Victoria Newton (editora do The Sun) e Will Lewis (editor e CEO do Washington Post) foram acusados de que sabiam e até de que tentaram encobrir atividades ilegais.
Os advogados do príncipe alegam que Lewis, que assumiu no ano passado o posto no jornal americano pertencente a Jeff Bezos sob forte reação da equipe, esteve envolvido em um esquema para ocultar evidências de hackeamento.
Se fosse adiante, o julgamento também contaria com o depoimento de outras celebridades, como Hugh Grant, Sienna Miller e Lily Allen, além de figuras proeminentes como o ex-primeiro-ministro Gordon Brown e a ministra da justiça, Shabana Mahmood.
O acordo firmado evita o forte desgaste na reputação do grupo e dos jornalistas envolvidos nas acusações.
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Como funcionava o hackeamento
O esquema de hackeamento telefônico, central no processo do príncipe Harry contra o grupo de Rupert Murdoch, envolvia a interceptação ilegal de mensagens de correio de voz.
Jornalistas do News of the World, tabloide pertencente ao grupo que teve que fechar as portas após o escândalo vir a público, invadiam as caixas postais de celebridades, figuras públicas e até mesmo membros da família real britânica para obter informações privadas e sensacionalistas1.
A prática consistia em acessar remotamente as caixas postais de telefones celulares e ouvir as mensagens deixadas, sem o conhecimento ou consentimento dos proprietários das linhas.
Essa invasão de privacidade permitia que os jornalistas obtivessem informações exclusivas, que eram usadas para publicar matérias que atraiam a atenção do público e aumentassem as vendas dos jornais.
Embora o foco inicial da ação tenha sido a questão da invasão de privacidade por meio de grampos telefônicos, as alegações de Harry se estendiam a uma gama mais ampla de atividades ilegais, incluindo obtenção de informações por meio de fraude (“blagging”) e busca ilegal por documentos, como extratos bancários e registros médicos.
A contratação de detetives particulares para espionar o príncipe e pessoas próximas a ele também fez parte da reclamação judicial contra o grupo editor do tabloide que acabou preferindo fazer um acordo com Harry.
A defesa do grupo de Murdoch argumentou em sua defesa que muitas das histórias sobre a vida privada de Harry foram obtidas legitimamente por meio de denúncias anônimas ou de pessoas que contataram a redação em troca de dinheiro, uma prática comum entre os tabloides britânicos.
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Celebridades e os tabloides sensacionalistas
O acordo firmado com Harry pelo grupo dono do tabloide The Sun preservou os envolvidos diretamente na causa e a imprensa sensacionalista de forma mais ampla, já que um julgamento pode trazer à tona detalhes chocantes sobre as práticas dos tabloides e o papel de figuras poderosas da mídia na suposta invasão da privacidade de celebridades e figuras públicas.
Cerca de 40 outros reclamantes, muitos deles celebridades, fizeram anteriormente acordos com o grupo de Murdoch, a maioria dissuadida de ir a julgamento pelas enormes contas legais que poderiam ser impostas a eles, mesmo após uma vitória no tribunal.
O ator Hugh Grant aceitou um acordo no ano passado, após descobrir que poderia ser responsabilizado por £ 10 milhões em custas.
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O príncipe Harry entrou com a ação judicial contra a NGN em 2019, na mesma semana em que sua esposa, Meghan Markle, entrou com seu próprio processo contra o Mail on Sunday por suposta violação de privacidade e violação de direitos autorais.
Ela ganhou a causa, sem fazer acordo.
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