O governo de Vladimir Putin intensificou sua repressão à imprensa independente, abrindo um processo criminal contra a premiada jornalista Galina Timchenko, CEO do site de notícias Meduza, reconhecida internacionalmente pela sua batalha contra a censura e a repressão ao jornalismo na Rússia.
As autoridades russas alegam que ela promoveu atividades de uma organização considerada “indesejável”, uma acusação que pode resultar em uma pena de até seis anos de prisão.
O Meduza, que opera a partir da Letônia, continua cobrindo a guerra na Ucrânia e outras questões sensíveis relacionadas à Rússia, apesar das restrições impostas pelo Kremlin.
Perseguição do governo Putin à imprensa independente
O Comitê Investigativo da Rússia afirma que Timchenko publicou vídeos em setembro de 2024 e março de 2025, com o objetivo de estimular protestos e envolver o público nas atividades do Meduza, que foi classificado como uma organização indesejável em janeiro de 2023.
Além disso, em agosto de 2024, o Ministério da Justiça russo rotulou Timchenko como “agente estrangeira”, uma designação frequentemente usada no governo Putin para silenciar jornalistas críticos ao Kremlin.
Espionagem com Pegasus: primeira jornalista russa documentada
Em 2023, Timchenko foi alvo do spyware Pegasus, tornando-se a primeira jornalista russa documentada como vítima desse software de espionagem.
O Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group, permite acesso remoto a dispositivos, podendo ler mensagens, monitorar aplicativos e até ativar câmeras e microfones sem o conhecimento do usuário.
A invasão ao telefone de Timchenko ocorreu em fevereiro de 2023, duas semanas após o governo russo classificar o Meduza como uma organização indesejável.
O ataque foi identificado pela organização Access Now, em parceria com o Citizen Lab da Universidade de Toronto. A jornalista recebeu um alerta da Apple sobre a possível invasão em junho de 2023, e a análise forense confirmou a presença do spyware.
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Repressão à imprensa e impactos do processo criminal
Em resposta às acusações, Timchenko afirmou que o processo é uma tentativa de criminalizar o jornalismo independente e silenciar vozes críticas ao governo russo. Ela declarou:
“Este é mais um passo na repressão contra jornalistas que se recusam a seguir a narrativa oficial. Mas não vamos parar de informar o público.”
Organizações internacionais de defesa da imprensa, como a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e a Federação Europeia de Jornalistas (EFJ), condenaram a ação do governo russo. Ricardo Gutiérrez, secretário-geral da EFJ, declarou:
“Estamos gratos pelo trabalho de Galina e sua equipe, que continuam informando o público com os mais altos padrões jornalísticos, apesar das dificuldades.”
Jornalista pode entrar na lista de procurados da Rússia
As autoridades russas estão considerando incluir Timchenko na lista de procurados do país, o que pode dificultar ainda mais sua atuação como jornalista.
A comunidade internacional segue acompanhando o processo criminal contra a jornalista, enquanto cresce a preocupação com a liberdade de imprensa na Rússia.
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Reconhecimento internacional
Por causa de sua luta incansável pela liberdade de imprensa, Galina Timchenko recebeu diversos prêmios em reconhecimento ao seu trabalho.
Em 2022, ela foi homenageada com o Gwen Ifill Press Freedom Award, concedido pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), por sua contribuição extraordinária e sustentada à causa da liberdade de imprensa.
Em seu discurso de aceitação, Timchenko destacou a importância do jornalismo independente em tempos de repressão e conflitos. Sua trajetória também foi reconhecida por outras organizações internacionais, reforçando seu papel como uma das vozes mais influentes na defesa da liberdade de expressão.
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