Um crime contra o jornalista Javier Hércules Salinas, que foi assassinado no último domingo (1) em Honduras, desencadeou uma onda de condenação internacional e levantou sérias questões sobre a eficácia dos mecanismos de segurança para profissionais de imprensa na América Latina.
O jornalista, que trabalhava para o canal A Todo Notícias (ATN) estava formalmente sob proteção estatal no momento em que foi assassinado.
Salinas foi atacado a tiros por homens em uma motocicleta quando dirigia seu carro, utilizado como táxi em horas vagas, na cidade de Santa Rosa de Copán.
De nacionalidade salvadorenha, ele vivia em Honduras com a esposa e dois filhos, cobrindo temas de interesse público local.
A inclusão de Javier Hércules Salinas no Sistema Nacional de Proteção de Honduras, um mecanismo estatal, havia ocorrido em outubro de 2023.
Essa medida foi adotada após ele ter sido alvo de ameaças e de uma tentativa de sequestro no mesmo ano, da qual conseguiu escapar ileso. Sua morte trágica sob essa proteção ressalta falhas críticas no sistema.
Honduras ocupa o 146º lugar no Global Press Freedom Index 2025 da organização Repórteres sem Fronteiras, que lista 180 nações.
Jornalista assassinado em Honduras: a proteção que falhou
Organizações de defesa da liberdade de imprensa reagiram com indignação.
A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) condenou o crime e exigiu uma investigação completa para identificar e punir os responsáveis.
José Roberto Dutriz, presidente da SIP, expressou solidariedade à família e colegas. Ele declarou:
“Este crime confirma os sérios riscos que enfrentam os jornalistas em Honduras. Não pode tolerar-se que quem informa seja assassinado sem consequências. A impunidade só alimenta a violência.”
Não é o primeiro caso de jornalista assassinado mesmo sob proteção do Estado. Dois casos semelhantes ocorreram no México recentemente.
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Críticas ao sistema de proteção de Honduras
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também denunciou o “assassinato brutal” e cobrou uma investigação aprofundada para esclarecer o crime.
Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina, criticou duramente a ineficácia do mecanismo estatal.
“Este crime evidencia a ineficácia do Sistema Nacional de Proteção, a inércia estatal frente à violência contra a imprensa, e as contínuas condições estruturais de impunidade”.
Ele questionou: o Estado hondurenho deve “explicar como alguém sob proteção estatal acaba morto”.
Relatório apontou falhas no sistema que deveria garantir segurança de jornalistas
Um relatório recente da RSF sobre sistemas de proteção na América Latina apontou deficiências específicas no modelo hondurenho.
Entre elas, destacam-se a falta de metodologias e protocolos adequados para assistir adequadamente os jornalistas beneficiários, e críticas pela alegada falta de independência e vontade política.
Sua baixa confiabilidade, combinada com limitações estruturais e orçamentárias, dificultam a implementação de medidas eficazes e o estabelecimento de uma equipe treinada capaz de responder rapidamente às solicitações e avaliar riscos, na avaliação da RSF.
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Recomendações para o futuro após assassinato de jornalista em Honduras
Diante da falha na proteção, as organizações urgiram o governo de Honduras a tomar medidas corretivas.
A SIP instou o Estado a realizar uma avaliação completa do funcionamento do sistema de proteção e a implementar reformas para torná-lo mais eficaz e confiável.
A RSF, com base em seu relatório, recomendou fortalecer o sistema. Isso inclui garantir que ele tenha orçamento próprio adequado, e pessoal suficiente e treinado em direitos humanos.
A organização também sugeriu um monitoramento rigoroso da forma como as forças de segurança implementam as medidas de proteção, e recomendações para apoio abrangente a indivíduos deslocados à força.
O Colegio de Periodistas de Honduras também se manifestou, condenando o ataque e pedindo uma investigação “transparente e confiável”.
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