A ofensiva militar conduzida por Israel contra o Irã na madrugada de 13 de junho gerou forte repercussão na mídia internacional, mas dentro do país o acesso da população a informações confiáveis sobre o ataque permanece incerto devido à censura que se intensifica em momentos de crise.

Logo após os ataques, o governo iraniano impôs restrições temporárias à internet em todo o país, justificando a medida como resposta a uma “situação extraordinária”.

Segundo o Ministério das Comunicações, as limitações serão suspensas “quando a normalidade for restabelecida”. Além disso, o procurador-geral do país anunciou que medidas legais serão tomadas contra veículos de mídia e usuários de redes sociais que publiquem conteúdos que “perturbem a segurança psicológica da sociedade”.

Essas ações são alinhadas a um histórico severo de censura imposta pelo regime iraniano.

Para especialistas e organizações de direitos humanos, a reação do governo após o ataque segue um padrão já consolidado: o de limitar drasticamente o acesso à informação em situações em que a segurança nacional é colocada à prova. 

Censura no Irã após ataque de Israel não é novidade 

O relatório Global Press Freedom Index 2025 da organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF ) coloca o Irã na 176ª posição entre 180 países. Trata-se de um dos ambientes mais hostis do planeta para o jornalismo independente.

De acordo com o documento, as autoridades iranianas mantêm um rígido controle sobre a mídia local, com diretrizes que proíbem a publicação de conteúdos não alinhados ao discurso oficial.

Temas como política externa, segurança nacional e assuntos militares estão entre os mais sensíveis.

Historicamente, situações de crise — como protestos populares ou conflitos externos — resultam em maior repressão à imprensa. O episódio atual do ataque de Israel parece seguir essa lógica de intensificação da censura.

Censura no Irã como política de Estado

O aparato de repressão à informação no Irã inclui o bloqueio de redes sociais, filtragem de conteúdos online, vigilância digital e prisão de jornalistas. Após os protestos de 2022, desencadeados pela morte da jovem  Mahsa Amini, detida e agredida pela polícia por supostamente não estar usando o véu islâmico da forma correta,  mais de 70 profissionais da mídia foram detidos, e vários foram condenados. 

O Líder Supremo Ali Khamenei frequentemente acusa a mídia independente de ser manipulada por forças estrangeiras.

Como chefe das principais instituições políticas, militares e judiciais do país, ele pode ordenar a prisão de jornalistas e condená-los a longas penas de prisão, e até mesmo à pena de morte, afirma a RSF. 

O artigo 24 da constituição garante a liberdade de imprensa, mas a lei de imprensa de 1986 (alterada em 2000 e 2009 para levar em conta as publicações online) permite que as autoridades garantam que os jornalistas não “coloquem em risco a República Islâmica”, “não ofendam o clero e o Líder Supremo” e não “espalhem informações falsas”.

Mulheres jornalistas: censura e perseguição no Irã

Mulheres jornalistas são particularmente visadas. Casos como o de Parisa Salehi, presa por relatar violações de direitos humanos, exemplificam a brutalidade do sistema.

O governo também promove o fechamento de redações, aplica leis vagas contra o jornalismo e empurra muitos profissionais para o exílio. Esse contexto cria uma sociedade em que a informação confiável se torna exceção, não regra.

Jornalistas e mídia independente no Irã são constantemente perseguidos por meio de prisões arbitrárias e sentenças muito pesadas proferidas após julgamentos grosseiramente injustos perante tribunais revolucionários, destaca o relatório da Repórteres Sem Fronteiras. 

Como a mídia do país é amplamente controlada pelo regime islâmico, as principais fontes de notícias e informações vêm de meios de comunicação baseados no exterior, aponta a organização.

Assédio e ameaças a jornalistas iranianos exilados 

Mas a distância não é garantia de segurança. Até mesmo jornalistas iranianos baseados no exterior foram submetidos a pressões que vão desde assédio on-line até ameaças de morte e atentados. 

A rede de notícias Iran International, com sede em Londres, foi alvo de ameaças e teve que se mudar para Washington por recomendação do serviço secreto do governo britânico até que uma nova sede mais protegida fosse estabelecida. 

Ainda assim, um âncora da rede foi esfaqueado em 2024 ao sair de casa para trabalhar, em um ato atribuído a agentes a serviço do governo iraniano. 

E em março deste ano, um tribunal dos EUA condenou dois iranianos por tentarem eliminar uma jornalista exilada em Nova York. 

Controle da informação em tempos de crise

A liberdade de imprensa no Irã está diretamente ligada à forma como crises externas, como o ataque israelense, são percebidas internamente.

Quando há escaladas de tensão internacional, é comum o regime intensificar o controle da narrativa para evitar qualquer dissenso.

Segundo a RSF, o Irã é um dos cinco maiores “presídios de jornalistas” do mundo, além de liderar rankings de censura digital. Em situações anteriores, como durante os protestos de 2019 e 2022, o país chegou a reduzir o tráfego de internet a menos de 10% do normal.