Londres – Em uma cerimônia conjunta realizada no jardim botânico Kew Gardens, em Londres, o governo brasileiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Presidência da COP30 apresentaram, nesta terça-feira (24), o Balanço Ético Global (BEG), um chamado mundial à ação climática rumo à Conferência do Clima que ocorre em Belém em novembro.

Inspirado no processo do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, que avaliou, em 2023, os avanços e desafios para a implementação do tratado climático, o Balanço Ético Global tem como objetivo complementar as avaliações técnicas com reflexões sobre as implicações éticas relacionadas às negociações climáticas. 

Ele terá como base as evidências científicas mais sólidas e recentes produzidas por acadêmicos e pelos povos indígenas e comunidades tradicionais e também as necessidades das populações de cada país para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais.

Balanço Ético Global: suporte às decisões tomadas na COP30 

“O Balanço Ético Global nada mais é do que trazer a dimensão da ética para dar suporte às decisões políticas e aos encaminhamentos técnicos, porque só ela será capaz de nos atravessar para conferir o sentido de urgência dos problemas que estamos enfrentando”, destacou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

 “Costumo dizer que já temos praticamente todas as respostas técnicas para fazer o enfrentamento à mudança do clima e à perda de biodiversidade e, por que não dizer, aos problemas sociais graves.

Precisamos do necessário compromisso ético para colocar nossa técnica e acelerar nossas decisões políticas com o objetivo de que façamos aquilo que, inclusive, já concordamos em fazer.”

O objetivo é que as discussões levantadas pelo Balanço Ético Global contribuam para alinhar o escopo e os processos de negociação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) à missão urgente de implementar os acordos climáticos firmados na última década, sobretudo triplicar a capacidade das energias renováveis, dobrar sua eficiência energética e promover a transição para o fim do uso de combustíveis fósseis e do desmatamento. 

Além disso, o BEG busca estimular uma transformação ecológica e uma transição justa na produção e no consumo e mobilizar o financiamento climático anual no valor de US$ 1,3 trilhão para apoiar países em desenvolvimento no planejamento e execução de suas próprias transições.

Seis diálogos regionais formularão bases do Balanço Ético antes da COP em Belém

O Balanço Ético Global será composto por seis Diálogos Regionais envolvendo a sociedade civil na América do Norte, América Latina e Caribe, África, Europa, Ásia e Oceania.

O primeiro deles ocorre durante a Semana Climática de Londres, que será realizada de até 29 de junho. 

Os encontros estão reunindo na capital britânica líderes religiosos, artistas, representantes de povos indígenas, comunidades locais e afrodescendentes, jovens, cientistas, empresários, mulheres, formuladores de políticas públicas e ativistas.

Os participantes serão selecionados para refletir a diversidade de identidades, geografias, setores e visões de mundo.

Em cada região, um co-organizador ajudará a promover e articular os princípios, objetivos, processos e resultados do BEG.

Wanjira Mathai, Mary Robinson e Karenna Gore serão as co-organizadoras para os Diálogos da África, da Europa e da América do Norte, respectivamente.

“Estou muito honrada em co-organizar os Diálogo da Europa, o primeiro de todos”, declarou Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e uma das figuras mais influentes na causa climática.

“Esse é o valor do Balanço Ético Global: acontecerá de maneiras diferentes em cada região e será muito diverso. Levará aos líderes uma mensagem centrada na humanidade e urgente, que espero que eles escutem”, acrescentou ela. 

Diálogos Regionais e relatório para a Pré-COP, em outubro

A partir dos Diálogos Regionais, serão incentivados Diálogos Autogestionados, a serem promovidos pela sociedade civil e governos nacionais e subnacionais, de modo a fortalecer o chamado global para a ação climática e pela implementação dos acordos firmados no âmbito da UNFCCC.

Os Diálogos Regionais vão gerar seis relatórios regionais e um relatório-síntese, que na Pré-COP, em outubro, será submetido à Presidência da COP para consideração na formulação das decisões e envio a chefes de Estado e negociadores climáticos.

Os resultados do processo estarão refletidos em um espaço na Zona Azul da COP30 com vídeos dos eventos, obras co-elaboradas nos Diálogos e outras iniciativas surgidas em outros balanços éticos pelo mundo.