• O que aconteceu: A Rússia poderá adotar em breve um bloqueio total ao WhatsApp, como parte de uma estratégia de controle de informações e combate a protestos sociais antes das eleições parlamentares de 2026.
  • O Kremlin pretende substituir o aplicativo da Meta pela alternativa estatal Max, que permitirá vigilância e coleta de dados em tempo real.

O bloqueio do WhatsApp na Rússia, que segundo o site independente Meduza “tem 99% de chance de acontecer”, reforça o avanço da censura digital no país e revela uma estratégia de vigilância que amplia o isolamento tecnológico da população e gerando grande preocupação sobre a privacidade e liberdade digital. 

Bloqueio do Whatsapp atingirá quase 70% da população online na Rússia

Com aproximadamente 97 milhões de usuários, o WhatsApp é hoje amplamente utilizado pela população russa, alcançando cerca de 68% das pessoas online.

Esse quadro deverá mudar em setembro por ordem do presidente Vladimir Putin. A medida integra uma campanha para reduzir o uso de tecnologias oriundas de países considerados “inimigos”.

A diretriz ganhou força desde que a Meta, controladora do WhatsApp, foi classificada pelo Kremlin como “organização extremista” em 2022. Naquele ano, Instagram e Facebook foram banidos no país.

O Kremlin defende o bloqueio argumentando ser preciso controlar o fluxo de informações e prevenir protestos sociais, especialmente com a aproximação das eleições parlamentares de 2026. 

“É hora de o WhatsApp se preparar para deixar o mercado russo”, disse o vice-chefe do comitê de TI da câmara baixa do parlamento em um comunicado divulgado via Telegram, citado pela Reuters. 

O governo não confirmou oficialmente o banimento, mas fontes do Meduza confirmam que ele é quase certo. Outros meios de comunicação russos também indicam essa possibilidade. 

Max: o substituto estatal do Whatsapp

O Max foi desenvolvido pela VK Company, uma estatal que também controla a principal rede social russa, a VKontakte. 

Logo app Max na Rússia, que pode substituir WhatsApp

Sua implementação será obrigatória para todos os funcionários públicos até 1º de setembro de 2025. E ele poderá ser exigido em qualquer comunicação com órgãos do governo, na prática obrigando os cidadãos a adotá-lo para ter acesso a serviços ou informações. 

De acordo com veículos de imprensa independentes russos, ucranianos e publicações especializadas em tecnologia, o Max concederá acesso irrestrito a microfone, câmera, localização, contatos e arquivos dos usuários.

O aplicativo usa privilégios avançados (conhecidos como “root”) para coletar e enviar dados automaticamente aos servidores do governo. 

Celebridades e influenciadores russos ligados ao Kremlin têm postado conteúdo promovendo o Max, em uma estratégia para torná-lo popular antes do lançamento. 

A lei da internet soberana na Rússia 

O possível banimento do WhatsApp na Rússia é parte de uma estratégia ampla que começou oficialmente em  1º de novembro de 2019, quando entrou em vigor no país a chamada “lei da internet soberana”, que concede ao governo poderes para desconectar o país da rede global mesmo sem a declaração formal de emergência.

A legislação obriga operadoras a instalar equipamentos que permitem o controle estatal do tráfego online por meio de inspeção profunda de pacotes (DPI), além de permitir o redirecionamento ou bloqueio de conexões internacionais.

Com isso, o Kremlin avança na construção da RuNet — uma infraestrutura digital própria, projetada para funcionar de forma autônoma e blindada contra influências externas, com reflexos sobre a liberdade de imprensa e sobre o jornalismo independente. 

Liberdade de imprensa sob Putin 

Desde que Vladimir Putin chegou ao poder, a liberdade de imprensa na Rússia tem sido sistematicamente reduzida por meio de leis restritivas, perseguição judicial e controle estatal dos principais veículos de comunicação.

Jornalistas independentes enfrentam censura, vigilância e, em muitos casos, ameaças diretas à segurança que levam muitos ao exílio.  

Nos últimos anos, o cerco se intensificou com a rotulagem de veículos e profissionais como “agentes estrangeiros”, estratégia usada para desacreditar vozes críticas e dificultar o funcionamento da mídia independente.

Esse assédio não poupou sequer o jornalista Dmitry Muratov, vencedor do prêmio Nobel da Paz em 2021. Ele perdeu as licenças para operar o jornal e o site, que acabaram fechados enquanto ele luta para se defender das acusações. 

A invasão da Ucrânia, em 2022, acelerou o fechamento de redações e a fuga de jornalistas para o exterior, diante da proibição de narrativas que contrariem a versão oficial do Kremlin.

Além da imprensa, artistas, escritores e ativistas também passaram a ser alvos de repressão sob acusações de “extremismo” ou disseminação de informações falsas, com prisões e condenações. 

A escalada autoritária de Putin transformou o ambiente informativo da Rússia em um dos mais hostis do mundo, com impactos profundos sobre o direito à informação e ao debate público livre.

O país ocupa está em 177º lugar entre 180 nações no Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras.