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Talibã prende mais sete jornalistas em julho e divulga confissões forçadas no Afeganistão

Jornalistas presos pelo Talibã no Afeganistão

Os jornalistas Shakeeb Ahmad Nazari (canto superior esquerdo), Basheer Hatef (canto inferior esquerdo), Mushtaq Ahmad Halimi (meio-direita) e Ahmad Nawid Asghari (direita) foram detidos pelas autoridades talibãs em julho de 2025. Foto: AIJU



  • O que aconteceu: A repressão do Talibã à mídia independente do Afeganistão permanece intensa, com acusações que vão de “espionagem” até “corrupção moral” sendo utilizadas para deter e manter jornalistas presos.
  • Organizações internacionais denunciam o agravamento da situação e pedem a libertação imediata dos profissionais detidos.

A pressão continua do Talibã sobre jornalistas, com novos casos de profissionais presos em julho de 2025 e notícias sobre confissões forçadas, gerou novas denúncias internacionais de violações à liberdade de imprensa no Afeganistão.

Talibã: prisões arbitrárias e acusações sem transparência

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e o Sindicato dos Jornalistas Independentes Afegãos (AIJU) relataram a prisão de ao menos sete profissionais da mídia durante o mês de julho.

A entidade cobra do Talibã o fim da detenção arbitrária de jornalistas, que é parte da escalada contínua de repressão ao jornalismo e à liberdade de expressão que o país experimenta desde que o grupo islâmico voltou ao poder, em agosto de 2021. 

Entre os detidos estão Shakeeb Ahmad Nazari, Basheer Hatef, Mushtaq Ahmad Halimi e Ahmad Nawid Asghari, levados sob custódia pelas autoridades talibãs em diferentes ocasiões de julho.

O caso de maior repercussão foi o de Abuzar Sarempuli, editor-chefe da Agência de Notícias Tawana e chefe do Instituto de Mídia do Afeganistão.

Ele foi preso em 24 de julho, junto com Hatef e Nazari, por agentes do Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício.

Segundo as autoridades talibãs, Sarempuli teria recebido recursos da Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (UNAMA), da UNESCO e do governo do Irã para promover a empregabilidade feminina e divulgar reportagens críticas ao regime.

Ele foi acusado de “espionagem” e “corrupção moral”, e teve uma confissão forçada registrada em vídeo e divulgada publicamente. O paradeiro dos três jornalistas permanece incerto, de acordo com a IFJ. 

Confissões forçadas e repressão à produção de conteúdo

Outro caso foi o dos diretores da Pixel Media Content Company, Ahmad Nawid Asghari e Mushtaq Ahmad Halimi, detidos em 15 de julho após uma invasão à sede da empresa em Cabul.

Eles foram acusados de dublar uma série de televisão considerada “não islâmica” para veículos estrangeiros.

Ambos confessaram sob coação no dia 28 de julho e foram libertados em 30 de julho, após duas semanas de detenção. Equipamentos da empresa foram apreendidos pelas autoridades.

Além desses, um profissional de mídia, cujo nome não foi divulgado, foi preso em 21 de julho, acusado de dar suporte técnico a veículos afegãos exilados.

Já no início do mês, um jornalista de uma província foi detido por “fazer reportagens fora das diretrizes do Talibã”, sendo liberado após dois dias sob a condição de se adequar à narrativa oficial.

Jornalistas libertados pelo Talibã após meses de prisão no Afeganistão

Apesar da escalada repressiva, três jornalistas foram libertados no fim do mês. Islam Totakhil e Ahmad Zia Amanyar, da Radio Jawanan e Radio Begum, estavam detidos desde janeiro de 2025, quando ambas as emissoras foram fechadas por divulgarem conteúdos sobre a equipe feminina de críquete afegã.

Eles foram soltos em 30 de julho.

No dia seguinte, foi a vez de Solaiman Rahil, editor-chefe da Rádio Khoshhal, que havia sido preso em maio por publicar um vídeo com críticas a um dirigente do setor de mídia do Talibã. Ele cumpriu uma pena de três meses.

Liberdade de imprensa afegã em colapso 

Entre maio de 2024 e abril de 2025, o relatório regional da IFJ sobre liberdade de imprensa no sul da Ásia documentou 48 violações contra a mídia no Afeganistão — sendo 28 prisões.

A entidade descreve o momento como um dos mais sombrios da história recente do país.

O AIJU reconheceu a libertação de cinco jornalistas como um gesto positivo, mas reiterou sua preocupação com os que ainda estão detidos. A organização apelou às autoridades do Emirado Islâmico para que demonstrem boa vontade e liberem os profissionais restantes, muitos sob custódia há meses.

A IFJ reforçou o apelo:

“A crescente repressão do Talibã aos trabalhadores da mídia ressalta o desrespeito contínuo à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão.

A contínua prisão de jornalistas, as diretrizes draconianas da mídia e o fechamento de meios de comunicação independentes dizimaram o cenário da mídia do Afeganistão.”

O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa 2025, publicado pela Repórteres Sem Fronteiras, posicionou o Afeganistão na 175ª colocação entre 180 países.