Neste 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio destacam a importância de mudar a forma como o suicídio é representado na mídia, nas redes sociais e em outros espaços públicos.
O tema da campanha para o triênio 2024–2026 é “Changing the Narrative on Suicide” (Mudando a narrativa sobre o suicídio), com foco na comunicação responsável, na redução do estigma e na criação de um ambiente mais empático e acolhedor.
A campanha ressalta que o suicídio pode ser prevenido, e que a forma como o tema é abordado publicamente influencia a decisão de uma pessoa de buscar ajuda. Um problema que vem sendo agravado pelas redes sociais e pela IA, com chatbots de terapia no banco dos réus por acusações de terem contribuído para mortes de jovens.
Um símbolo que nasceu de uma tragédia
O laço amarelo, símbolo internacional da prevenção do suicídio e utilizado na campanha da OMS, surgiu em 1994, nos Estados Unidos, após a morte de Mike Emme, um jovem de 17 anos que morreu por suicídio dentro de seu Mustang amarelo.
Durante o funeral, familiares e amigos distribuíram cartões com fitas amarelas e mensagens de incentivo à busca por ajuda. O gesto deu origem ao Yellow Ribbon Suicide Prevention Program, posteriormente difundido em diferentes países.
No Brasil, a simbologia foi incorporada ao Setembro Amarelo em 2015, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
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O impacto global do suicídio
Segundo a OMS, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano — uma morte a cada 40 segundos. Na região do Sudeste Asiático, são cerca de 208 mil casos anuais. A maior parte dessas mortes ocorre em países de baixa e média renda.
O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, e os índices de sofrimento psíquico aumentaram em diversas faixas etárias, especialmente após a pandemia.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 16.262 mortes por suicídio em 2022, um aumento de 11,8% em relação ao ano anterior. A taxa nacional chegou a 8 por 100 mil habitantes.
Redes sociais, inteligência artificial e riscos emergentes
A OMS alerta que as redes sociais podem exercer influência significativa sobre o comportamento suicida, especialmente entre jovens. Conteúdos inadequados, desafios virais, bullying e discursos de ódio são apontados como fatores de risco.
Modelos de inteligência artificial também entraram no centro do debate. Um caso recente nos Estados Unidos chamou a atenção: os pais de Adam Raine, jovem de 16 anos que tirou a própria vida em abril, processaram a empresa OpenAI, alegando que o filho recebeu incentivos ao ato durante interações com um chatbot.
Em 2024, outra mãe processou o Google pelo mesmo motivo.
Os processos destacam preocupações sobre o uso de sistemas de IA sem salvaguardas adequadas.
A OMS recomenda que ambientes digitais e tecnologias emergentes sejam monitorados e regulados, de modo a proteger usuários em situação de vulnerabilidade emocional.
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Comunicação e prevenção: diretrizes da OMS
A campanha internacional conduzida pela OMS defende que mudar a narrativa em torno do suicídio é uma das estratégias mais eficazes de prevenção.
Segundo a organização, o silêncio, o sensacionalismo e o estigma social são barreiras que dificultam o acesso a cuidados adequados e reduzem a eficácia de políticas públicas.
A OMS recomenda que o tema seja tratado com empatia, precisão e responsabilidade, especialmente por profissionais da comunicação, instituições públicas e plataformas digitais.
Como falar e escrever sobre suicídio
A OMS orienta que termos estigmatizantes ou abordagens que romantizem o suicídio devem ser evitados.
Ela e outras organizações internacionais de saúde mental orientam que a forma como o suicídio é abordado publicamente deve seguir critérios de responsabilidade para evitar riscos de imitação e incentivar a busca por apoio. Entre as principais recomendações estão:
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Usar linguagem neutra e adequada, como “morreu por suicídio” ou “tentou suicídio”, evitando termos estigmatizantes.
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Não divulgar detalhes sobre o método ou o local onde o suicídio ocorreu, nem utilizar imagens que possam estimular a imitação do ato.
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Evitar explicações simplistas ou reducionistas sobre as causas, reconhecendo a complexidade do fenômeno.
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Não romantizar nem sensacionalizar os casos, inclusive em manchetes ou destaques de capa.
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Incluir mensagens de esperança e recuperação, bem como informações sobre serviços e canais de ajuda disponíveis.
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Valorizar histórias de superação e de busca por apoio como exemplos positivos para o público.
LIVE LIFE: plano global de prevenção do suicídio
A OMS propõe uma abordagem estruturada de prevenção por meio do plano LIVE LIFE, com base em quatro intervenções prioritárias:
- Limitação do acesso a meios letais, como pesticidas, armas de fogo e locais de risco;
- Colaboração com a mídia e plataformas digitais, com orientações para uma cobertura responsável;
- Promoção de habilidades socioemocionais entre crianças e adolescentes, especialmente em contextos educacionais;
- Acompanhamento e apoio a pessoas em risco, incluindo aquelas que já tentaram tirar a própria vida ou foram afetadas por casos na família ou na comunidade.
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