O apresentador Jimmy Kimmel tornou-se mais uma vítima da onda de cancelamentos que se alastra pela mídia americana devido a críticas e posições contrárias ao pensamento de Donald Trump : seu talk show foi suspenso por tempo indeterminado pela rede ABC depois de comentários sobre a morte de Charlie Kirk.
No Jimmy Kimmel Live!, um dos mais populares talk shows políticos do país, Kimmel criticou a reação da direita ao assassinato do ativista conservador ligado ao movimento MAGA (Make America Great Again), liderado pelo presidente Trump.
“A gangue MAGA está desesperadamente tentando caracterizar esse garoto que matou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um dos seus e fazendo tudo o que pode para marcar pontos políticos com isso.”
Ele também ironizou a forma como Trump lamentou a morte de Kirk:
“Não é a forma como um adulto lamenta o assassinato de alguém a quem chamava amigo. É assim que uma criança de 4 anos chora um peixinho dourado, OK?”

A repercussão entre os conservadores provocou a reação dois dias depois da exibição.
Nesta quarta-feira (17), a emissora ABC anunciou a suspensão do programa após pressão de afiliadas como a Nexstar, que se recusaram a continuar transmitindo o show, mas não informou se o show voltará ao ar.
Brendan Carr, presidente da FCC (Comissão Federal de Comunicações), classificou os comentários como “a conduta mais doentia possível” e sugeriu que a agência poderia agir contra a ABC e sua controladora, a Disney.
O presidente Trump celebrou publicamente a suspensão, dizendo:
“Parabéns à ABC por ter finalmente a coragem de fazer o que tinha de ser feito.”
Em um post na sua rede social, Truth Social, o presidente disse que a demissão era uma ótima notícia para o país, falou da suposta baixa audiência do programa, comparando-o ao de Stephen Colbert. E insta a NBC a também encerrar seu talk show político estrelado por Seth Meyers.
Antes de Kimmel, Colbert também foi cancelado
Kimmel é o segundo apresentador de talk-show “cancelado” nos EUA nos últimos dois meses.
Em julho, o The Late Show with Stephen Colbert, na CBS também saiu do ar, só que para sempre, após críticas do apresentador ao acordo firmado pela Paramount Global, empresa-mãe da CBS, com Donald Trump para encerrar uma ação judicial bilionária.
A rede pagou US$ 16 milhões ao presidente e dessa forma colocou fim ao processo acusando a CBS de ter editado uma entrevista com Kamala Harris para favorecer a então candidata democrata.
Colbert, conhecido por suas críticas mordazes a Trump, chamou o acordo de “suborno”. Três dias depois, a CBS anunciou o fim do programa, alegando “reestruturação financeira”.
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Mídia americana sob pressão extrema
Com dois dos principais programas de comédia política fora do ar, especialistas apontam para uma nova era de censura velada e tensões entre mídia e poder, que se acentuou após a morte de Charlie Kirk, elevando o clima emocional.
Empresas de mídia estão sendo pressionadas por palavras duras do presidente e de autoridades , e também por processos judiciais. Nesta semana, o presidente entrou com uma ação contra o New York Times, um dos principais alvos de suas reclamações desde o primeiro mandato.
Enquanto isso, veículos comandados por apoiadores de Donald Trump ou com medo de represálias por parte de autoridades regulatórias procuram se livrar de vozes que podem criar problemas.
A colunista de opinião Karen Attiah, do Washington Post, publicou um longo texto no Substack na última segunda-feira acusando o jornal de tê-la demitido em reação a postagens em redes sociais condenando a violência política após o assassinato do ativista, e comentando suas posições sobre mulheres negras.
A jornalista negou que suas opiniões representassem incitamento ao ódio e garantiu que não celebrou a morte de Kirk. “Fui despedida sem sequer uma conversa. A minha intenção foi debater padrões de desigualdade, não atacar colegas ou incentivar violência”, escreveu na plataforma Substack.
Na MSNBC a vítima de cancelamento foi o comentarista Matthew Dowd. Ele opinou sobre Kirk, classificando-o como uma “personalidade divisiva” e sugeriu que suas narrativas tinham potencial de alimentar um ambiente de ódio.
Apesar de ter pedido desculpas e alegado que os comentários foram mal interpretados, foi demitido.