Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo Public Religion Research Institute (PRRI) e publicada esta semana demonstrou que a percepção sobre os responsáveis pela invasão ao Congresso, em janeiro, depende da TV a que os americanos assistem, confirmando a polarização da mídia nos EUA que se acentuou durante o governo de Donald Trump.
As entrevistas do estudo foram feitas em agosto e mostram uma nação dividida, com uma população parecendo viver em realidades diferentes.
Os pesquisadores do centro constataram também que mesmo depois da posse de Joe Biden, 17% dos americanos seguem acreditando no movimento radical QAnon, que até o último momento pregava a tese de que Trump não sairia do cargo. E que três em cada dez entrevistados acham que houve fraude nas eleições.
De quem é a culpa?
A maioria dos americanos, segundo a pesquisa, afirma que grupos de supremacia branca (59%), o ex-presidente Donald Trump (56%) e “as plataformas conservadoras da mídia que espalham teorias da conspiração e desinformação (55%)” têm grande responsabilidade pela violência de 6 de janeiro, que resultou em cinco mortes.
Já os conservadores e apoiadores de Donald Trump culpam “a esquerda e os liberais” pela revolta do Capitólio, que ocorreu para tentar impedir a oficialização da derrota do ex-presidente nas urnas.
Segundo a pesquisa, entre simpatizantes do Partido Republicano, 61% atribuem grande responsabilidade pelo ataque ao Capitólio a ativistas liberais ou de esquerda. Apenas 15% associam a culpa a Donald Trump. Grupos de supremacia branca são culpáveis para 30%, e fake news e desinformação, para 27%.
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Já pelo lado dos Democratas, a grande maioria vê grande responsabilidade pelo ataque de 6 de janeiro ligada a Trump (89%), grupos de supremacia branca (83%), fake news e desinformação (78%) e a líderes republicanos (70%).
Cerca de metade dos democratas afirmam que os grupos cristãos conservadores brancos (48%) têm muita culpa, e quase três em cada dez (27%) responsabilizam ativistas liberais ou de esquerda.
Entre republicanos, opinião sobre invasão ao Capitólio varia de acordo com mídia consumida
A visão dos republicanos varia ainda de acordo com as fontes de mídia em que mais confiam. Poucos republicanos que confiam na Fox News e em fontes de extrema direita, como Newsmax e One America News Network, dizem que Trump tem grande parte da culpa (3%) com números similares na percepção sobre grupos cristãos conservadores e líderes republicanos.
Os telespectadores da Fox News são mais propensos do que os telespectadores Newsmax e One America News a dizer que muita culpa vai para grupos de supremacia branca (25% e 17%, respectivamente) e plataformas conservadoras de mídia que espalham teorias de conspiração e desinformação (21% e 15%, respectivamente).
Não surpreendentemente, os telespectadores das fontes de extrema direita são mais propensos do que os da Fox News a afirmar falsamente que muita culpa vai para os ativistas liberais ou de esquerda pelo violento ataque ao Capitólio (76% e 69%, respectivamente).
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Por outro lado, os republicanos que mais confiam nas notícias de redes como NBC, ABC e CBS são muito mais propensos a colocar a culpa em grupos de supremacia branca (61%), em Trump (50%), nas fake news e na desinformação (46%), nos líderes republicanos (23%) e em grupos cristãos conservadores brancos (21%).
Ainda assim, a maioria (53%) também atribui muita culpa aos ativistas liberais e de esquerda.
“Filosofia” do QAnon é seguida por 17% dos americanos, aponta pesquisa
Muitos crentes nas teorias da conspiração QAnon participaram do cerco ao Capitólio que interrompeu a certificação da vitória eleitoral do presidente Joe Biden e causou cinco mortes.
A pesquisa do PRRI identificou simpatizantes do QAnon com base nos sentimentos dos entrevistados sobre três declarações: (1) O governo, a mídia e o mundo financeiro dos EUA são controlados por um grupo de pedófilos adoradores de Satanás que administram uma operação global de tráfico sexual infantil; (2) Em breve haverá uma tempestade que varrerá as elites no poder e restaurará os líderes legítimos; e (3) Como as coisas ficaram muito fora do caminho, verdadeiros patriotas americanos podem ter que recorrer à violência para salvar o país.
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Os crentes do QAnon (17% dos americanos) concordam principalmente com essas afirmações, enquanto os que duvidam (48% dos americanos) são geralmente negativos em relação a elas e os que rejeitam (35% dos americanos) discordam veementemente de todas as três afirmações.
Cerca de um terço ou menos dos simpatizantes QAnon atribuem grande parte da responsabilidade pelo ataque de 6 de janeiro a grupos de supremacia branca (36%), plataformas conservadoras de mídia que espalham teorias de conspiração e desinformação (36%), Donald Trump (30%), líderes republicanos (23%) e grupos cristãos conservadores brancos (18%).
O único grupo que a maioria QAnon considera responsável pelo ataque são os ativistas liberais ou de esquerda (59%).
Um terço dos americanos acredita na tese de eleição roubada, difundida por Trump
Segundo o levantamento do PRRI, três em cada dez americanos (29%) concordam que “a eleição de 2020 foi roubada de Donald Trump”, em comparação com 69% que discordam, incluindo 58% que discordam totalmente. Essas opiniões permaneceram estáveis desde março de 2021.
Mas os republicanos têm opiniões muito distantes em comparação com as opiniões de outros americanos, observam os pesquisadores.
Mais de sete em cada dez republicanos (71%) relatam acreditar que a eleição de 2020 foi roubada de Trump, em comparação com 23% dos independentes e apenas 5% dos democratas.
O único grupo religioso no qual a maioria acredita que a eleição foi roubada são os protestantes evangélicos brancos (61%). Cerca de quatro em cada dez protestantes brancos (40%) e católicos brancos (39%) concordam, mas menos de um em cada três de cada grupo religioso afirma que a eleição foi roubada.