Londres – O movimento em defesa dos direitos dos animais ganhou uma aliada de peso nesta quinta-feira (2/12): a revista de moda Elle, uma das mais importantes do mundo, anunciou o banimento completo de trajes feitos com peles em seus espaços editoriais e comerciais.
A decisão foi revelada pela diretora internacional da revista, Valerie Bessolo Lloopis, em um evento de moda em Oxfordshire, na Inglaterra. A Elle é a primeira grande publicação a adotar a política.
Lloopis disse que “as peles não são mais aceitáveis”, e que “ficaram fora de moda”.
Revista de moda tem 33 milhões de leitores
Criada na França e de propriedade do grupo de mídia francês Lagardère, a Elle tem 45 edições em todo o mundo, com 33 milhões de leitores e edições regionais em vários países, incluindo o Brasil.
A iniciativa pode fazer perder alguns anunciantes, mas para a Elle vai compensar do ponto de vista de reputação.
“A presença de peles de animais em nossas páginas e mídias digitais não está mais de acordo com nossos valores ou com nossos leitores”, afirmou a diretora internacional da revista.
“É hora de Elle assumir uma posição, rejeitando a crueldade contra os animais”, disse Bessolo Llopis aos participantes do encontro Business of Fashion Voices 2021 em Oxfordshire, sul da Inglaterra como reportou a AFP.
O banimento não vai ser imediato. Até o momento, 13 edições implementaram o regulamento e mais 20 o farão a partir de 1º de janeiro de 2022. As edições restantes aplicarão o regulamento a partir de 1º de janeiro de 2023.
A diretora da revista de moda vê uma nova era, em que a Geração Z “tem grandes expectativas em sustentabilidade e ética”.
Em um comunicado à imprensa, Constance Benqué, CEO da Lagardère News e CEO da Elle International disse:
“O engajamento social sempre foi um dos principais pilares da marca ELLE.
“O mundo mudou e o fim do uso das peles está alinhado com o curso da história.
“Esperamos que, com este compromisso, a Elle abra o caminho para outras mídias proibirem a promoção de peles, em todo o mundo, promovendo um futuro sem peles.”
Mas nem todos gostaram. A Federação Francesa da Indústria de Peles disse em um comunicado na noite de quinta-feira que “consideraria abrir um processo” contra a plataforma de anúncios revista por “se recusar a vender”.
A indústria de peles acredita que as decisões de designers e consumidores são ditadas pela “pressão de movimentos radicais”. E critica o uso de materiais sintéticos, por serem prejudiciais ao meio ambiente.
Revista de moda Vogue no alvo da PETA
A Vice-Presidente Executiva da organização de defesa dos animais PETA (People for Ethical Treatment of Animals), Tracy Reiman, saudou a decisão da Elle. E aproveitou para cobrar que a celebrada editora da Vogue, Anna Wintour, siga o exemplo:
“Os anos de protesto da PETA para persuadir o público a evitar peles continuam valendo a pena. Celebridades, estilistas, compradores e até mesmo a rainha Elizabeth II rejeitaram-nas.
Agora, a Elle proibiu-as emsuas páginas todo o mundo, e a PETA está pedindo que Anna Wintour e a US Vogue entrem no século 21, deixando a pele sobre os animais que nasceram com ela.”
Leia também
Malala estrela capa da Vogue britânica com fotos que destacam o simbolismo do véu das muçulmanas
Editora negra da Teen Vogue renuncia por racismo contra asiáticos
A organização destaca que tecidos “livres de crueldade” e peles artificiais estão disponíveis em lojas em todos os lugares, e que a a PETA continua a trabalhar com designers e varejistas de roupas para incentivá-los a usar e vender apenas tecidos que não agridam os animais.
Um dos maiores exemplos dessa política é a britânica Stella McCartney, que só utiliza couro sintético em suas criações. A estilista participou da COP26, em Glasgow, apresentando peças confeccionadas com materiais alternativos. E disse em um comunicado:
“Esta é a década decisiva, e se não agirmos com decisão, sabemos quais são as consequências.
Um campo de futebol está desaparecendo da Amazônia a cada minuto, e 80% dessa área está sendo usada para a pecuária. O futuro da moda e de nosso planeta é vegano.”
Modelo para a indústria da moda
PJ Smith, diretor de política de moda da Sociedade de Bem-Estar Animal dos EUA, disse que espera que outras revistas de moda façam o mesmo.
“Este anúncio vai provocar mudanças positivas em toda a indústria da moda e pode salvar incontáveis animais de uma vida de sofrimento e morte brutal”, disse ele na conferência em que a Elle anunciou a novidade.
Além da revista de moda francesa, outras publicações menores já tinham adotado a mesma política editorial, incluindo a Vogue do Reino Unido, a InStyle USA, a Cosmopolitan UK e a Vogue Scandinavia, mas mantiveram os anúncios.
Sintonizadas com a aversão a peles, marcas de luxo também deixaram de usá-las em seus produtos. Em 2020, a loja de departamentos de luxo Selfridges, em Londres, passou a proibir que as grifes exibissem produtos feitos com couro de animais exóticos ou pele em suas vitrines.
Para algumas nem foi preciso, pois já tinham adotado suas próprias políticas. Entre as grandes marcas, a Chanel foi a primeira a deixar de usar peles de animais.
Leia também
Bottega Veneta troca redes sociais por revista digital própria