Londres – A Unesco (Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas para Educaรงรฃo, Ciรชncia e Cultura) firmou uma parceria com a rede social TikTok para combater o negacionismo e as fake news sobre o Holocausto na plataforma de vรญdeos curtos.

A iniciativa foi anunciada no Dia Mundial em Memรณria das Vรญtimas do Holocausto, celebrado em 27 de janeiro. 

Segundo a organizaรงรฃo,  17% do conteรบdo relacionado ao Holocausto no TikTok foi criado para negar ou distorcer verdades sobre o genocรญdio que exterminou 6 milhรตes de judeus na Segunda Guerra Mundial. 

Fake news sobre Holocausto na rede 

Pela iniciativa, os  usuรกrios que buscarem termos relacionados ao perรญodo serรฃo agora redirecionados a informaรงรตes verificadas, com o objetivo de controlar a circulaรงรฃo de dados falsos sobre o Holocausto e conteรบdo antissemita. 

O TikTok jรก teve muitos problemas com conteรบdo relacionado ao Holocausto e รฉ criticado por organizaรงรตes por nรฃo controlar a disseminaรงรฃo de ataques a judeus e fake news sobre o genocรญdio. 

O impacto รฉ alto, pois a rede social รฉ a marca global a que mais cresceu em valor de mercado em 2021 segundo ranking da consultoria Brand Finance, e em dezembro ultrapassou o Google como principal destino na internet

Em 2020, o TikTok teve que se pronunciar diante de um ‘desafio’ em que usuรกrios apareciam com maquiagem simulando hematomas e atuavam como vรญtimas do Holocausto. Alguns chegavam a ter trilha sonora de tiros e bombas ou canรงรตes pop. 

Em junho do ano passado, a organizaรงรฃo Liga Antidifamaรงรฃo denunciou a proliferaรงรฃo de conteรบdo antissemita na plataforma. Judeus chegaram a ser censurados ou bloqueados por engano, como se estivessem incentivando o comportamento de รณdio. 

Ao anunciar o acordo com o TikTok, a Unesco destacou uma pesquisa feita em agosto passado pelo Centro para o Combate ao ร“dio Digital. O trabalhou mostrou que 84% do conteรบdo antissemita reportado ร s empresas de redes sociais foram autorizados a continuar nas plataformas.  

Em outubro, um relatรณrio da organizaรงรฃo britรขnica Hope Not Hate constatou que o รณdio contra judeus estรก amplamente disseminado nas redes sociais na Europa. E que jovens estรฃo sendo โ€œapresentadosโ€ ao antissemitismo pelas plataformas.

De acordo com dados da Unesco, 17% do conteรบdo relacionado ao Holocausto no TikTok foi criado para negar ou distorcer verdades. 

Site esclarece fake news sobre o Holocausto

Para tentar conter a onda de vรญdeos negacionistas do holocausto ou que promovam teorias conspiratรณrias sobre o extermรญnio de judeus em sua plataforma, o TikTok vai direcionar as pessoas que pesquisarem termos relacionados ao assunto, como โ€œsobrevivente do Holocaustoโ€, ao site www.aboutholocaust.org, criado pelo Congresso Judaico Mundial (CJM) e pela Unesco.

Se a pessoa buscar termos relacionados ao Holocausto que violem as regras do TikTok, ela serรก informada que os resultados foram banidos e tambรฉm serรก convidada a entrar no site educacional, que estรก disponรญvel em 19 idiomas (incluindo portuguรชs) e traz dados sobre as raรญzes do genocรญdio.  

O site tem perguntas e respostas sobre o assunto, depoimentos de sobreviventes e ainda campanhas para reverter o รณdio contra judeus e as fake news sobre o Holocausto. 

O banner do TikTok que leva ao site diz: โ€œLembre-se de consultar fontes confiรกveis para evitar a disseminaรงรฃo do รณdio e desinformaรงรฃoโ€.

Nos prรณximos meses, as informaรงรตes tambรฉm aparecerรฃo na parte inferior dos vรญdeos que usam hashtags relacionadas ao Holocausto ocorrido na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

โ€œA educaรงรฃo รฉ uma das maneiras mais poderosas de combater o รณdioโ€, afirmaram Eric Ebenstein, diretor de polรญticas pรบblicas do TikTok, e Elizabeth Kanter, diretora de relaรงรตes governamentais  da plataforma.

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Desinformaรงรฃo sobre holocausto entre jovens  

Segundo a Unesco, as teorias da conspiraรงรฃo e a desinformaรงรฃo aumentaram de forma dramรกtica desde o comeรงo da pandemia da Covid-19.

Um estudo feito em 2020 constatou que 41% dos jovens americanos acreditavam que 2 milhรตes de judeus foram mortos, nรฃo 6 milhรตes.  

Na Franรงa, 69% dos que responderam ร  pesquisa e fazem parte das geraรงรตes Millennial e Z nรฃo conheciam os nรบmeros oficiais sobre o Holocausto. Na รustria, o รญndice foi de 58%. 

Hรก um ano, a Unesco e o CJM lanรงaram uma parceria similar com o Facebook. Segundo a agรชncia,  desde entรฃo o site especial sobre o Holocausto jรก foi acessado 400 mil vezes em mais de 100 paรญses.  

Fake News sobre holocausto em aรงรฃo de moderadora 

Conteรบdo negacionista sobre o holocausto foi um dos motivos apresentados por uma moderadora de conteรบdo americana que abriu processo contra a plataforma chinesa em dezembro alegando danos emocionais ao assistir vรญdeos sobre temas ilegais ou nocivos. 

Candie Frazie foi demitida ao acionar judicialmente o gigante da mรญdia social sob a acusaรงรฃo de manter um ambiente de trabalho perigoso para os moderadores. 

Na petiรงรฃo inicial, os advogados detalharam como o conteรบdo รฉ prejudicial, apontando nรฃo apenas atos criminosos e de conteรบdo sexual explรญcito, mas tambรฉm desinformaรงรฃo com potencial de โ€œdesestabilizar a sociedadeโ€.

โ€œOs moderadores de conteรบdo tambรฉm enfrentam exposiรงรฃo repetida a teorias da conspiraรงรฃo (incluindo sugestรตes de que a pandemia da Covid-19 รฉ uma fraude), distorรงรตes de fatos histรณricos (como negaรงรตes de que o Holocausto ocorreu), crenรงas marginais e desinformaรงรฃo polรญtica (como informaรงรตes falsas sobre a participaรงรฃo no censo, mentiras sobre o status de cidadania de um candidato polรญtico ou elegibilidade para um cargo pรบblico e vรญdeos manipulados ou adulterados de autoridades eleitas).โ€

Desafios, problema para o TikTok

Os desafios tambรฉm viraram uma enorme dor de cabeรงa para o TikTok, seja por motivos como antissemitismo e fake news sobre o Holocausto como por acidentes e incentivo a atos de vandalismo.

Nos Estados Unidos, a ideia de gravar vรญdeos subindo em frรกgeis blocos de embalagens causou acidentes e ferimentos. 

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Em setembro do ano passado, na volta ร s aulas no hemisfรฉrio norte, o desafio era vandalizar banheiros de escolas, iniciativa que despertou a ira de diretores assustados com o roubo de mobiliรกrio e destruiรงรฃo de pias e vasos sanitรกrios.

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Mais sรฉrio, no entanto, รฉ o drama do suicรญdio associado ร  plataforma de vรญdeos curtos. 

Tambรฉm em setembro passado a rede social anunciou um conjunto de recursos para ajudar os usuรกrios com problemas de saรบde mental e pensamentos suicidas, e expandiu o conteรบdo de prevenรงรฃo a transtornos alimentares. 

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A mudanรงa foi uma reaรงรฃo aos questionamentos sobre os efeitos do TikTok no bem estar dos usuรกrios, sobretudo depois do caso ocorrido em 2020, quando o filme de um americano cometendo suicรญdio viralizou, alarmando pais de crianรงas que tiveram acesso ร s imagens. 

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