Longe de afetar somente os veículos que cobrem política e assuntos internacionais, a lei de censura na Rússia fez novas vítimas na mídia do país, com o fim da publicação de sete títulos da editora Condé Nast por causa do aumento da repressão do governo de Vladimir Putin durante a guerra na Ucrânia.
Vogue Rússia, GQ, GQ Style, Tatler, Glamour, Glamour Style Book e Architectural Digest haviam sido inicialmente suspensas, mas agora foram encerradas de vez, em resposta às novas leis que intimidam os jornalistas, incluindo a que proíbe o uso da palavra “guerra” para descrever a invasão ao território vizinho.
Em comunicado enviado à equipe global da editora de revistas, o CEO da empresa, Roger Lynch, desabafou: “nosso trabalho na Rússias se tornou insustentável.”
Lei de censura na Rússia faz Condé Nast encerrar operações no país
Desde a guerra, várias marcas de moda e luxo, incluindo Hermès, LVMH, Richemont e Kering, pararam de vender na Rússia por causa do conflito com a Ucrânia.
Em 9 de março, a Hearst Magazines – editora da Elle, Esquire, Harper’s Bazaar e Cosmopolitan – também anunciou que estava encerrando seus acordos de licenciamento para as publicações russas.
E os influenciadores russas com milhões de seguidores no Instagram perderam sua fonte de renda por meio de posts patrocinados quando o Instagram foi enxotado do país, em 14 de março, correndo para encontrar outros canais.
Leia mais
Com Instagram banido na Rússia, influenciadores se despedem de fãs e migram para Telegram
Ao confirmar o fechamento da Vogue e das outras revistas, o CEO da Condé Nast lamentou o encerramento das operações na Rússia após mais de duas décadas de publicação dos principais títulos da editora americana no país.
“Embora tenhamos um negócio bem-sucedido na Rússia por mais de 20 anos, as atrocidades contínuas causadas por essa guerra não provocada e as leis de censura relacionadas tornaram impossível continuarmos operando lá.”
As edições russas da Condé Nast haviam sido inicialmente suspensas no dia 9 de março, duas semanas após a invasão à Ucrânia.
Na época, uma publicação no Instagram em que comunicou a suspensão para seus 1 milhão de seguidores, o perfil da Vogue Rússia disse:
“Acreditamos que esta não é uma carta de despedida, mas apenas uma pequena pausa, após a qual retornaremos a você. Esperamos que em breve possamos continuar nosso trabalho.”
“A Vogue foi lançada na Rússia em 1998. Durante esse período, a revista se tornou uma marca multiplataforma com um público de vários milhões.”
“Durante todos esses anos, consideramos nossa missão falar não só de moda, mas também de cultura, arte e agenda pública. Esperamos que em breve possamos dar continuidade ao nosso trabalho. Obrigado por seu apoio.”
Esse foi o último post no perfil da revista na rede social.
Ver essa foto no Instagram
A Vogue Rússia foi a 10ª edição internacional da icônica revista de moda e o carro-chefe da vertical russa da Condé Nast. Modelos como Claudia Schiffer, Kate Moss, Bella Hadid e Kendall Jenner apareceram na capa.
Fiona McKenzie Johnston, uma jornalista britânica que contribui regularmente para a Vogue Rússia, disse ao The Guardian que a equipe da publicação no país é “muito pró-paz” e usou a plataforma da revista para promover mensagens antiguerra.
No início de março, a Vogue Rússia compartilhou uma série de pombas inspiradas em Picasso ilustradas por artistas russos em seu feed do Instagram. “’Vogue está pedindo paz’ era um refrão constante”, disse McKenzie Johnston.
Em seu site, a Condé Nast disse que a Vogue Rússia tinha mais de 800 mil leitores e era a revista de moda mais lida do país. A empresa afirma que o alcance combinado de suas edições russas foi de mais de 21 milhões de pessoas.
Lynch explicou à equipe que cerca de 10% dos funcionários na Rússia permaneceriam “para cumprir certas obrigações pendentes”.
“É nossa prioridade absoluta fazer tudo o que pudermos e apoiar todos os afetados, incluindo o fornecimento de indenizações e benefícios aprimorados, assistência a funcionários e programas de recolocação e orientação dedicada da equipe de Pessoas na candidatura a vagas abertas em outros mercados.”
A suspensão inicial da Condé Nast Russia ocorreu após os anúncios de vários designers de moda e empresas de artigos de luxo, incluindo Hermès, LVMH, Richemont e Kering, de que estavam interrompendo as negociações na Rússia por causa do conflito com a Ucrânia.
Em 9 de março, a Hearst Magazines – editora da Elle, Esquire, Harper’s Bazaar e Cosmopolitan – também anunciou que estava encerrando seus acordos de licenciamento para as publicações russas.
Leia também
Washington Post denuncia prisão de colunista em Moscou após críticas a Putin na CNN
Censura na Rússia já fez dezenas de veículos estrangeiros deixarem país
No início de março, uma nova lei foi aprovada no parlamento russo e prevê até 15 anos de prisão para jornalistas que veicularem “notícias falsas” sobre as “operações militares” no país vizinho — em outras palavras, imprensa nacional e estrangeira estão proibidas de afirmar que a Rússia está em guerra com a Ucrânia.
Desde então, dezenas de veículos estrangeiros encerraram suas operações e retiraram equipes do país. O The New York Times foi um deles. O jornal tinha correspondentes na Rússia desde 1921 e essa é a primeira vez, em mais de um século, que precisou retirá-los do país.
As emissoras norte-americanas CNN, ABC New, CBS News, a agência espanhola EFE, a televisão pública italiana RAI, a Rádio Canadá, as alemãs ARD e ZDF e a Bloomberg News também se retiraram da Rússia em reação à lei que coloca em risco os jornalistas.
Assim como outros veículos ocidentais, a BBC também suspendeu suas operações na Rússia após a aprovação da lei de censura. No entanto, dias depois, anunciou a retomada de seus serviços em inglês no país e o rádio deve ser o grande aliado para informar o público do Leste Europeu sobre a guerra.
Driblando a censura, a BBC transmite quatro horas de seu Serviço Mundial, lido em inglês, para a Ucrânia e partes da Rússia todos os dias.
As plataformas de mídia social também foram bloqueadas no governo Putin desde a invasão à Ucrânia: Facebook, Instagram, Twitter e até o VKontakte, o equivalente russo do Facebook, foram banidos do país, limitando o acesso de informações sobre a guerra para os cidadãos.
Leia mais
New York Times sai; BBC decide ficar: como a mídia global reagiu à nova lei de fake news na Rússia