Londres – A nova edição da pesquisa anual do Gallup medindo a percepção do público sobre as principais instituições dos EUA, que saiu esta semana, reconfirmou uma tendência que outros estudos vêm apontando há tempos: a confiança caiu na maioria delas, mantendo-se estável em apenas uma.

A notícia pode não ser nova, mas merece atenção a extensão do descrédito do público da chamada maior democracia do planeta, onde operam as mais importantes corporações de vários segmentos de negócio. É um desafio para comunicadores, líderes e jornalistas.

Esse não é um problema americano apenas. A desconfiança da população, adubada por um conjunto de fatores, como polarização política, fake news e fadiga de notícias, reduzindo o nível de informação para fazer julgamentos acertados, é um mal planetário.

Pesquisa mostra declínio significativo em confiança 

A pesquisa do Gallup assusta. Nenhuma das 16 instituições pesquisadas apresentou evolução positiva em relação a 2021. E houve declínio significativo em 11 delas.

Organizações sindicais foram as únicas que não se moveram, o que diante do desastre das demais pode ser considerado uma vitória.

É surpreendente que no primeiro ano de Joe Biden, um presidente mais cordato do que seu antecessor inflamado, a Presidência da República tenha sido a instituição com maior queda no país. Despencou 15 pontos percentuais.

O resultado é consistente com um declínio na popularidade do atual presidente mostrado por diversas pesquisas. E talvez seja influenciado pela polarização politica que se acentuou como legado de Donald Trump.

A polarização pode explicar também o fato de o Congresso permanecer na lanterna entre as 16 instituições pesquisadas. Em 2021, contava com a confiança de apenas 12% da população. Este ano a taxa recuou ainda mais, para 7%.

A segunda instituição que mais perdeu credibilidade na visão dos americanos é o Poder Judiciário. Aqui não há muita surpresa.

Tanto tribunais estaduais como federais ocupados por magistrados de pensamento conservador têm sido responsáveis pela aprovação de leis contrárias aos movimentos mais progressistas da sociedade.

As entrevistas do Gallup foram realizadas em junho, quando o debate em torno da lei do aborto fervia.

O jornalismo na pesquisa

Nessa batalha cheia de mortos e feridos, a imprensa até que não se saiu tão mal.

TVs e jornais perderam “apenas” 5% de credibilidade em um ano. E continuam mais confiáveis aos olhos dos democratas do que dos republicanos, boa parte deles alvo das campanhas que buscam desqualificar a imprensa tradicional.

Outro estudo sobre a imagem das instituições, o Edelman Trust Barometer, publicado em fevereiro, também registrou queda − de um ponto percentual em um ano e seis em relação a 2020 − para a confiança na mídia.

E o mais recente, o Digital News Report do Instituto Reuters, que saiu em junho, constatou que a confiança nas notícias caiu em quase metade dos 46 países pesquisados e aumentou em apenas sete.

Os três estudos não são diretamente comparáveis, pois formulam as questões de forma diversa.

O Edelman trata da mídia de forma consolidada. O Gallup separa TV e jornais. E o Reuters indaga os entrevistados sobre a confiança nas notícias que recebem, e não na instituição.

Mas tudo caminha para o mesmo lugar. Há uma crise de confiança generalizada na sociedade, que não poupou nem o jornalismo, nem o setor público nem o privado. Empresas, bancos polícia, religião, todos perderam.

No mundo empresarial, alguns setores saíram-se melhor do que outros. Bancos perderam mais em confiança (-6 pontos) do que as grandes corporações (-4 pontos).

E os pequenos negócios perderam menos, apenas 2 pontos percentuais. Eles continuam liderando como a instituição mais confiável para os americanos.

Já para as empresas de tecnologia, tão criticadas nos EUA a partir da divulgação de documentos internos pela ex-funcionária Frances Haugen, a queda foi pequena quando comparada a outros setores, de 3 pontos percentuais. Elas estão 9º lugar entre as mais confiáveis − acima de jornais e TVs.

Leia mais sobre a pesquisa

https://mediatalks.uol.com.br/2022/07/13/confianca-de-americanos-em-jornais-e-tvs-atinge-menor-patamar-em-30-anos-revela-gallup/