Londres – O canal de notícias libanês Al-Mayadeen TV tornou-se nesta terça-feira (14) o primeiro alvo de um novo regulamento adotado pelo governo de Israel para determinar o bloqueio de veículos de imprensa considerados como ameaças à segurança nacional em território israelense e nas regiões palestinas ocupadas.
Em um comunicado, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, acusou a rede de ter se transformado em “porta-voz do Hezbollah” , e disse que os jornalistas da emissora “apoiam o terror enquanto fingem serem repórteres”.
Quando o regulamento foi anunciado, em 20 de outubro, a rede árabe Al Jazeera, controlada pelo governo do Catar, foi apontada como a razão para a medida, mas acabou não sendo a primeira atingida.
Bloqueio da TV por ‘servir aos inimigos de Israel’, segundo governo do país
A Al-Mayadeen foi fundada em 2012 e tem equipes atuando na maioria dos países árabes, concorrendo diretamente com a Al Jazeera e a Al Arabya. Muitos de seus primeiros funcionários saíram da Al Jazeera alegando discordância com o tom de sua cobertura do conflito na Síria.
O Ministro das Comunicações israelense, Shlomo Karhi, justificou o bloqueio da Al-Mayadeen sob o argumento de que a emissora “serve os interesses dos inimigos de Israel e prejudica a segurança nacional”.
A Al Jazeera informou ter questionado o governo sobre a razão pela qual ela não foi incluída na decisão do gabinete de segurança, e o porta-voz do Ministério das Comunicações respondeu que “o assunto não foi discutido”.
A rede citou em sua reportagem sobre o caso da concorrente fontes anônimas do governo de Netanyahu que teriam afirmado não ser um momento adequado para reprimi-la, já que o governo do Catar está ajudando a negociar com o Hamas a libertação de cerca de 220 reféns ainda em cativeiro em Gaza.
Leia também | Guerra Israel-Hamas: seis momentos históricos para entender o conflito na Faixa de Gaza
A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ,na sigla em inglês) condenou a decisão por “comprometer o pluralismo dos meios de comunicação social e o direito do público à informação”.
“A Federação insta o governo a parar de usar a segurança nacional como desculpa para censurar os meios de comunicação críticos e a pôr fim à repressão aos jornalistas e aos meios de comunicação devido à cobertura da guerra em Gaza.”
O presidente do Conselho de Administração da rede Al Mayadeen, Ghassan Ben Jeddou, falou sobre o bloqueio em um vídeo nas redes sociais, vendo-o como “uma mensagem de Israel para aterrorizar a liberdade de imprensa”:
“A proibição das autoridades de ocupação é apenas parte da sua política sistemática de censura para minar a liberdade de imprensa e de expressão, mesmo que afirmem falsamente o contrário”.
Repórter da Al Mayadeen assediada em Israel
No dia 6 de novembro, a correspondente da Al Mayadeen em Jerusalém, Hanaa Mahameed, foi assediada por um grupo de indivíduos que se identificaram como repórteres, segundo a IFJ.
Ela contou ter recebido um telefonema pedindo para retirar um pacote nos correios de Kfar Saba, uma cidade no centro de Israel.
No dia seguinte, a jornalista palestina dirigiu-se ao local e viu-se rodeada de indivíduos, que se identificaram como jornalistas israelitas, incluindo Haim Etgar, correspondente da estação de televisão israelita Canal 12.
Segundo o relato de Mahameed em um vídeo no Twitter, os indivíduos a filmaram e a acusaram de espalhar “notícias falsas” sobre os militares israelenses. A repórter contou que o grupo a seguiu depois de sair do prédio e a impediu de entrar no carro.
Leia também | Em quatro semanas, guerra Hamas-Israel deixou mais de um jornalista morto por dia