Londres – O site independente de notícias RusNews anunciou que a jornalista russa Maria Ponomarenko entrou em greve de fome na prisão da Sibéria onde cumpre pena de seis anos após ser enviada para confinamento em cela solitária. 

A prisão de Ponomarenko, em abril de 2022, devido a posts no Telegram sobre o ataque a um teatro em Mariupol,  teve repercussão internacional porque ela foi enviada a um hospital psiquiátrico na Sibéria, punição que lembrou a repressão na antiga União Soviética. Ela teria tentado suicídio e acabou condenada em fevereiro de 2023 por “fake news” sobre o exército russo. 

Em uma carta enviada aos colegas, Ponomarenko revelou que foi colocada em isolamento até 22 de setembro, embora tenha sido proibida de divulgar os motivos dessa decisão devido à censura, de acordo com o RusNews.

Greve de fome por documentos falsificados

A jornalista afirma que sua assinatura foi falsificada em sete documentos que justificaram sua transferência para a cela solitária, sem que ela tivesse a oportunidade de contestá-los.

Durante uma audiência judicial referente a outro processo criminal no qual é acusada de “agredir guardas prisionais”, Ponomarenko destacou que ficou “em choque” ao ver os documentos falsificados, acrescentando que tinha “o direito de saber” o motivo de sua transferência para a solitária.

A jornalista russa anunciou que permanecerá em greve de fome até que o promotor original compareça ao tribunal, em vez do promotor substituto que participou da sua audiência, disse o site onde ela trabalhava antes de ser presa. 

Jornalista russa condenada por post sobre Mariupol

Maria Ponomarenko foi condenada com base na lei sancionada por Vladimir Putin em março de 2022 criminalizando críticas à guerra da Rússia contra a Ucrânia.

O motivo foi uma postagem no canal Sem Censura no Telegram, em 17 de março de 2022, sobre o ataque a um teatro em Mariupol, cidade que ficou sob controle russo após um longo cerco.

Cerca de 1,2 mil civis estavam abrigados dentro do teatro quando ele foi bombardeado por caças russos. A Anistia Internacional classificou o ato como crime de guerra.

O ataque foi amplamente documentado pela mídia internacional independente, mas o Ministério da Defesa da Federação Russa negou a autoria.

Ponomarenko foi presa em abril de 2022 em São Petersburgo e transferida para um hospital psiquiátrico em Barnaul.

Ela disse ter sido levada à força para a clínica, onde foi obrigada a passar por uma “avaliação psiquiátrica” e injetada à força com substâncias desconhecidas quando exigia seus pertences pessoais e itens de higiene.

O Tribunal Distrital Leninsky de Barnaul, na Sibéria, condenou a jornalista de 44 anos por “espalhar notícias falsas” sobre o exército russo. Os promotores haviam solicitado uma pena de nove anos. 

Ponomarenko também perdeu o direito de se envolver em atividades relacionadas à administração de sites, canais públicos de redes eletrônicas e de informação e telecomunicações, incluindo a Internet, por um período de cinco anos.

Ela admitiu no tribunal que escreveu o post, mas contestou durante o julgamento a qualificação de “crime”.

“Tenho o direito de dizer a palavra ‘guerra’ porque estou sendo julgada sob as leis da censura militar”, afirmou, referindo-se à proibição das autoridades russas de se referir à invasão da Ucrânia como guerra.