Londres – Pelo menos 1.773 representantes de empresas e organizações ligadas à produção de combustíveis fósseis estão participando da cúpula da COP29 em Baku, de acordo com um levantamento divulgado nesta sexta-feira (15) pela coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO), que reúne mais de 450 membros ao redor do mundo.
No ano passado, a análise da KBPO mostrou que um recorde histórico de mais de 2.450 representantes do setor estiveram presentes na COP28 em Dubai. No entanto, a conferência da ONU este ano tem menos participantes do que a de 2023 (respectivamente 52.305 e 97.372), o que aumenta a proporção dos integrantes dessa indústria, classificados de lobistas pela organização, que subiu de 25,2% para 33%.
Assim como nas negociações climáticas da COP28 do ano passado em Dubai , “significativamente mais lobistas de combustíveis fósseis tiveram acesso à COP29 do que quase todas as delegações de países”, segundo a entidade sediada em Londres.
Os números dos combustíveis fósseis em Baku
A coalizão Kick Big Polluters Out analisou a lista provisória de participantes da COP29 linha por linha, e apontou que representantes de combustíveis fósseis receberam mais passes para a COP29 do que todos os delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima juntos (1.033).
Os 1.773 representantes do setor de combustíveis fósseis registrados em Baku são superados em número apenas pelas delegações enviadas pelo anfitrião Azerbaijão (2.229), pelo anfitrião da COP30 Brasil (1.914) e pela Turquia (1.862).
O levantamento considera um lobista de combustíveis fósseis qualquer delegado individual que represente uma organização ou seja membro de uma delegação que possa ser razoavelmente assumida como tendo o objetivo de influenciar a formulação ou implementação de políticas ou legislação no interesse da indústria de combustíveis fósseis, ou de uma empresa específica de combustíveis fósseis e seus acionistas.
Para a COP29, foram combinados um sistema de classificação manual com ferramentas de inteligência artificial personalizada. As informações foram enviadas para um Large Language Model (LLM), que avaliou se a organização ou delegação poderia ser considerada um lobista de combustíveis fósseis, fornecendo uma explicação e referências.
Em seguida, os resultados foram verificados manualmente pelos nossos investigadores, bem como cruzados com nossas classificações anteriores de anos anteriores.
Representantes na COP29 integrantes de associações de classe empresarial
O estudo descobriu que um vasto número dos representantes da indústria de combustíveis fósseis classificados como lobistas teve acesso à COP como parte de uma associação de classe empresarial.
Oito dos 10 principais grupos comerciais com mais inscritos vieram do hemisfério Norte. O maior foi a International Emissions Trading Association, que inscreveu 43 pessoas.
Um dos integrantes da coalizção Kick Big Polluters Out, Nnimmo Bassey, da Health of Mother Earth Foundation, disse:
“O controle do lobby dos combustíveis fósseis sobre as negociações climáticas é como uma cobra venenosa se enrolando em torno do futuro do nosso planeta.
Precisamos […] tomar medidas decisivas para remover sua influência e fazê-los pagar por suas infrações em relação ao nosso planeta. É hora de priorizar as vozes daqueles que têm lutado por justiça e sustentabilidade, não pelos interesses dos poluidores.”
Na visão da organização, “a presença da indústria em Baku contrasta fortemente com os objetivos declarados da COP29, em que o fim dos combustíveis fósseis, falsas soluções e financiamento climático são todos tópicos importantes”.
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Representantes da indústria de combustíveis fósseis não eram registrados nas COPs
A COP28 foi a primeira em que os participantes foram obrigados a revelar quem eles representam, após pressão da sociedade civil.
A campanha Kick Big Polluters Out disse em um comunicado que está convocando o órgão climático da ONU e os governos a continuarem no caminho em direção a uma Estrutura de Responsabilidade robusta para abordar o problema em sua raiz, para priorizar os milhões de vidas em risco pela crise climática e a falta de ação para enfrentá-la, como aconteceu com a indústria do tabaco nas negociações do tratado do tabaco da Organização Mundial da Saúde.
Rachitaa Gupta, da Campanha Global para Demandar Justiça Climática, disse:
“Por quase 30 anos, esses atores sequestraram negociações, sabotando progressos significativos enquanto nossas comunidades em todo o Sul Global suportam o peso brutal da crise climática, mas nossas vozes permanecem marginalizadas nessas discussões críticas.
Chega de concessões. Esses poluidores precisam ser expulsos e é hora de nós, comunidades do Sul Global — aqueles que menos contribuíram para essa crise, mas sofrem mais — liderar e moldar soluções climáticas reais e justas em vez do lucro.”
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