Londres – A compra do controle dos direitos criativos da franquia 007 pela Amazon por US$ 1 bilhão, anunciada na quinta-feira (20), surpreendeu o mundo do cinema e provocou revolta entre muitos britânicos, insatisfeitos ao verem um de seus mais reconhecidos elementos culturais, o agente secreto James Bond, passar para as mãos de uma empresa americana.
O acordo foi firmado com Michael G. Wilson e Barbara Broccoli, herdeiros do lendário produtor que transformou a história do espião em uma potência comercial, Albert “Cubby”Broccoli.
A Amazon já detinha os direitos de distribuição dos filmes de James Bond desde 2022, quando comprou o MGM Studios por US$ 8,45 bilhões. Mas com a negociação anunciada esta semana ela se torna responsável por todas as decisões relativas à franquia, como novos projetos, enredos e escolha do elenco.
Jeff Bezos, fundador da Amazon, já se mostrou interessado em participar diretamente do novo negócio.
Quando o acordo foi anunciado ele perguntou aos seguidores em suas redes sociais quem escolheriam para viver o próximo James Bond em substituição ao ator Daniel Craig, que se aposentou do papel em 2021, em No Time to Die.
A postagem gerou uma enxurrada de respostas, com nomes como Henry Cavill e Idris Elba sendo mencionados como possíveis candidatos.
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James Bond na Amazon: desconforto entre anônimos e famosos
Barbara Broccoli e seu meio-irmão Michael G.Wilson nasceram nos EUA. Mas ela foi criada em Londres e os dois se tornaram figuras importantes na cena cultural britânica, assumindo a liderança de uma história iniciada pelo pai em 1962.
A transferência do controle criativo dos filmes de James Bond para a Amazon foi recebida com desconforto, já que Bezos não tem laços com o país e a Amazon é uma empresa americana.
Vários jornais e YTV e TVs noticiaram o acordo em tom de derrota, e fizeram reportagens sobre os questionamentos levantados por fãs, críticos de cinema e até estrelas que participaram de filmes do 007.
A atriz Valerie Leon, que foi Bond Girl nos filmes The Spy Who Loved Me e Never Say Never Again, ao lado de Roger Moore e Sean Connery, disse em entrevista ao programa Good Morning Britain que “a franquia Bond era muito britânica e não será mais.”
O título de uma das reportagens do tabloide Daily Express exemplifica a reação negativa e preocupação com a descaracterização do símbolo:
“A última coisa que precisamos é que Amazon transforme 007 em um guerreiro politicamente correto”
Nas redes sociais o tom é de decepção e temor de que James Bond “tal como o conhecemos” tenha morrido.
Muitos usaram a sigla RIP (Rest in Peace, ou Descanse em Paz), o que é compreensível pelo orgulho nacional em torno da figura do 007.
Um dos pontos altos de sua história foi a participação surpreendente com a rainha Elizabeth II na abertura das Olimpíadas de Londres, em 2012.
A sisuda monarca estrelou um clipe junto com o ator Daniel Craig, simulando uma missão, até chegar de verdade ao estádio como se tivesse sido trazida por ele.
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O escritor Don Winslow foi dos que lamentou o acordo:
“Absolutamente de partir o coração. O fim de uma era.”
Mas nem todos desaprovaram, com algumas opiniões sobre a possibilidade de o controle criativo por parte da Amazon, com mais recursos para investir em novos projetos, dê mais fôlego à franquia.
Briga pela marca James Bond nos tribunais
Enquanto isso, um outro roteiro paralelo se desenrola.
Um empresário austríaco com negócios imobiliários em Dubai está processando os donos da marca James Bond e 007 em torno de aplicações que não vêm sendo usadas comercialmente, e por isso poderiam ser disputadas por outros interessados.
As marcas registradas contestadas incluem várias versões do nome do espião, como “James Bond Special Agent 007”, “James Bond 007”, “James Bond”, “James Bond: World of Espionage” e a famosa frase “Bond, James Bond”.
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