Londres – O Papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, deixa entre seus principais legados a transparência com que conduzia sua relação com a imprensa e sua constante preocupação com os efeitos das mídias digitais sobre a sociedade.

Durante seu pontificado, ele demonstrou uma visão singular sobre como líderes religiosos e mundiais devem se relacionar com o público em um mundo cada vez mais digital e interconectado, em sintonia com sua trajetória dedicada a aumentar a inclusão e a tolerância. 

Sua relação com a mídia tornou-se um marco de sua liderança, pautada pela honestidade e pela abertura, sobretudo após o agravamento de seu estado de saúde. 

Transparência na saúde: redefinindo a relação com mídia durante crises

Um exemplo notável dessa postura foi a forma como lidou com seus problemas de saúde. Ao contrário de outros pontífices, que mantinham essas informações em sigilo dentro dos muros do Vaticano, Francisco optou por divulgar boletins médicos detalhados durante suas hospitalizações.

Segundo o site especializado em assuntos do Vaticano Crux, os boletins — aprovados pelo próprio Papa — incluíam informações desconfortáveis, como crises respiratórias graves, aspiração pulmonar e início de insuficiência renal.

A abordagem, descrita como “sem precedentes”, teve papel crucial no combate à desinformação e no fortalecimento da confiança pública.

O site Religion News Service também destacou que essa transparência fazia parte de um “arco de humanização” que Francisco imprimiu ao papado.

Boletins médicos explicavam de forma clara episódios de espasmos bronquiais e tratamentos intensivos, reforçando a ideia de que “não havia nada a esconder”.

Papa Francisco e as mídias sociais: ‘meros algoritmos’

Outro aspecto marcante foi sua visão crítica e sensível sobre as redes sociais. Em diversos discursos e documentos, o Papa Francisco alertou para os perigos do discurso de ódio, da disseminação de fake news e do isolamento provocado pelo uso excessivo das plataformas digitais.

Ele defendia uma internet mais ética e inclusiva, onde comunidades marginalizadas pudessem ter voz, e onde o diálogo prevalecesse sobre o sensacionalismo.

Sua preocupação com a cultura da viralização ficou evidente, por exemplo, quando circulou um deepfake que o mostrava vestindo um casaco da grife Balenciaga. 

Embora o episódio tenha viralizado com humor, serviu como alerta para os riscos da manipulação digital, evidenciando como tecnologias avançadas podem enganar até mesmo os mais atentos.

Imagem deepfake do Papa Francisco vestindo um casaco puffer branco
Imagem deepfake do Papa Francisco vestindo um estiloso casaco puffer branco / Reprodução

Em seguida, ele aproveitou um encontro religioso para declarar que “certamente coisas boas acontecem nas plataformas de mídia social”. Mas pediu vigilância contra os perigos: 

“Infelizmente, muitas tendências desumanizantes resultantes da tecnocracia são encontradas nestes meios de comunicação”, disse ele, protestando contra “a redução das relações humanas a meros algoritmos”. 

Em várias ocasiões o Papa Francisco destacou a toxicidade, os discursos de ódio e a desinformação que podem surgir nesses espaços.

Em 2022, ele pediu aos católicos que enfrentassem esses desafios com diálogo e educação, promovendo a inclusão de comunidades excluídas do espaço digital. Ele também enfatizou a importância de usar a internet de forma responsável, como um meio de conexão e não de isolamento.

E em 2023, sob seu papado, o Vaticano publicou um guia de mandamentos para os cristãos serem bons samaritanos digitais.